A TV Globo repercutiu nesta quinta-feira (20) no programa “Encontro com Patrícia Poeta” a queda da pirâmide Trust Investing. Uma das vítimas do grupo foi entrevistada ao vivo e contou detalhes de como os consumidores foram lesionados e manipulados pela empresa nos últimos anos.
Na quarta-feira (19), a Polícia Federal deflagrou uma operação para desarticular a empresa. As autoridades prenderam os principais líderes da Trust Investing: Diego Chaves (CEO), Fabiano Lorite (Diretor de Marketing), Patrick Abrahão, influencer e principal promotor da pirâmide, além de seu pai, o pastor Ivonélio Abrahão.
Nas palavras da apresentadora Patrícia Poeta, “a rede feita por Patrick e seus sócios criava criptomoedas, manipulava o preço de mercado para supervalorizar e a atrair mais e mais pessoas interessadas em investir”.
A vítima entrevistada pela Globo foi uma mulher identificada apenas como Mel, que já havia relatado o golpe para o Portal do Bitcoin em reportagem publicada no dia 9 de maio desse ano. Ela contou que trabalhava com eventos e, com o surgimento da pandemia, buscou uma alternativa para manter uma fonte de renda. Uma amiga que trabalhava na Trust Investing recomendou o investimento.
Mel então vendeu o carro e colocou R$ 20 mil. No começo, os pagamentos eram feitos mensalmente sem atrasos e, com isso, ela passou a colocar mais dinheiro e reinvestir lucros já relizados.
“Em janeiro de 2021 minha amiga me disse para tirar tudo, que ela iria se desligar da empresa e que a empresa iria quebrar. Consegui retirar até junho do ano passado, quando ele lançaram a TrusterCoin”, disse Mel.
Depois do lançamento da criptomoeda própria TrusterCoin (TSC), a vítima relata que os problemas realmente ficaram claros.
“Lançaram a moeda em agosto, essa TrusterCoin, que, desculpa, é uma porcaria, não dava rendimento nenhum. E aí reabriram para saques, eu saquei primeiro da minha mãe. Quando fui sacar o meu, eles travaram de novo e ninguém sabia o porquê”, contou Mel.
Uma série de entraves começaram a aparecer: pediram que a vítima reenviasse documentos, migrasse para uma nova plataforma e depois informaram que houve um hack e teria que ser feita uma auditoria. O dinheiro nunca mais foi liberado.
“Eu enviava pelo Instagram mensagens para o Diego, que é o dono da empresa. No começo ele respondia. Depois parou de responder, ficava muito bravo. Ele achava uma afronta alguém questionar ele.”
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O início do fim da Trust Investing
Neste mês de outubro de 2022 completa um ano que a Trust Investing não paga os clientes, enganos por promessas de lucro de mais de 300% ao ano em pacotes de investimentos em criptomoedas.
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Embora captasse dinheiro de milhares de brasileiros, a empresa dizia não ter obrigação de seguir as regras da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), uma vez que estava oficialmente registrada na Estônia.
Em outubro passado, a Trust Investing bloqueou a conta de todos os clientes alegando ter sofrido um ataque hacker. Na época, a empresa disse os pagamentos voltariam a acontecer em três meses, quando uma auditoria interna seria concluída — o que não aconteceu.
No início deste ano, os líderes da Trust afirmaram que o estrago provocado pelo suposto hacker havia sido muito maior do que o esperado e que um total de US$ 834 milhões teriam sido roubados da empresa — o equivalente a cerca de R$ 4,1 bilhões.
O rombo no caixa fez com que a Trust adiasse outra vez os pagamentos para que fosse criado um plano de reestruturação, anunciado por Patrick Abrahão em março. A solução da empresa foi a seguinte: não pagar os rendimentos prometidos, mas devolver o valor investido na plataforma. Meses se passaram e, mais uma vez, a Trust Investing não cumpriu a promessa.
Patrick Abrahão chegou a insinuar na época que a empresa poderia não devolver o dinheiro dos clientes se assim o quisesse, já que teria o direito de declarar falência sem sofrer consequências legais.
Quando procurado na época, Patrick se negou a responder as perguntas do Portal do Bitcoin alegando não poder falar em nome da empresa, mesmo sendo, fora do papel, seu principal porta-voz no Brasil.
Operações obscuras
Na mesma época que a Trust Investing travou o dinheiro dos investidores, a empresa passou a expandir suas operações para outros setores. Em pouco tempo, entrou no ramo de vinhos, lançou uma gravadora musical, agência de viagens, uma fazenda de energia renovável e um negócio de mineração de esmeralda.
A apuração do Portal do Bitcoin descobriu na época que a suposta mina de esmeralda da Trust Investing estava localizada em Campos Verdes, uma pequena cidade de 5 mil habitantes no interior de Goiás. Lá, a G44 Brasil, outra suposta pirâmide financeira que atuava com criptomoedas, também tinha uma mina de esmeraldas na mesma rua que a Trust Investing.
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É comum que promotores de esquemas financeiros usem metais e pedras preciosas como uma suposta garantia de solidez de seus negócios. Francisley Valdevino da Silva, o “Sheik das criptomoedas” da Rental Coins, pirâmide que também foi alvo da PF no início de outubro, usava baús com barras de ouro para atrair investidores.
A mina de esmeraldas na qual a Trust Investing operava, possuía uma licença de 1991 da ANM para a lavra garimpeira de esmeraldas, que foi transferida ano passado para Diorge Roberto de Araujo Chaves, pai do CEO da Trust Investing, Diego Chaves. Assim como o filho, Diorge já promoveu diversas pirâmides financeiras no passado.
Como revelado na operação desta semana, a mineração de esmeraldas feita pela Trust Investing era irregular, de tal forma que além dos crimes contra a economia popular, os líderes da empresa responderão pela prática de crime ambiental e usurpação de bens públicos.
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