Trust Investing: PF derruba pirâmide de R$ 4 bilhões e prende Patrick Abrahão, marido da cantora Perlla

As autoridades brasileiras cumprem nesta manhã mandados de prisão contra os líderes da Trust Investing
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Cantora Perlla e seu marido Patrick Abrahão (Foto: Reprodução/Instagram)

Patrick Abrahão, empresário brasileiro casado com a cantora Perlla, foi preso na manhã desta quarta-feira (19) pela Polícia Federal por sua atuação na pirâmide financeira Trust Investing.

A prisão de Abrahão no Rio de Janeiro foi confirmada pelo portal G1 e aconteceu no âmbito da operação La Casa de Papel, feita para desarticular organização criminosa responsável por promover o esquema de pirâmide financeira da Trust Investing em mais de 80 países, e praticar crimes contra o sistema financeiro nacional, evasão de divisas, falsidade ideológica, lavagem de dinheiro, usurpação de bens públicos, crime ambiental e estelionato.

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O Portal do Bitcoin confirmou que, além de Abrahão, outros dois dos principais líderes da Trust Investing, Diego Chaves (CEO) e Fabiano Lorite (Diretor de Marketing), também foram presos, e aguardam audiência de custódia em Campo Grande (MS). Já o terceiro sócio do esquema, Claudio Barbosa (Diretor de Tecnologia), ainda não foi localizado.

Se condenados, as penas máximas podem chegar a 41 anos de prisão, além de multas ambientais e tributárias que ainda não foram estimadas.

Leiam Também: Trust Investing não permite saques há seis meses e CEO faz ameaças contra clientes: “Vamos à guerra”

No total, foram cumpridos nesta manhã seis mandados de prisão preventiva contra os líderes da organização criminosa  — cinco dos quais já cumpridos, faltando apenas Claudio Barbosa  — e 41 mandados de busca e apreensão, expedidos pela 3ª Vara da Justiça Federal de Campo Grande/MS.

Como mostrou o Portal do Bitcoin, Fabiano Lorite e Claudio Barbosa estão proibidos de deixar o país desde o ano passado, quando foram presos em flagrante em Dourados (MS) durante uma abordagem da Polícia Rodoviária Federal portando R$ 500 mil em esmeraldas de origem e destino desconhecido. Na ocasião, apresentaram nota fiscal fraudulenta, o que configura crime de falsidade ideológica.

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Eles foram liberados no dia posterior à prisão, mas tiveram seus passaportes confiscados, proibidos de deixar o país.

A queda da Trust Investing

A Polícia Federal descobriu nas investigações contra a Trust Investing a existência de esquema de pirâmide financeira que captou recursos de mais de 1,3 milhão de pessoas, em mais de 80 países.

O prejuízo deixado aos investidores é estimado em R$ 4,1 bilhões, captados desde o início das operações da empresa em 2019.

A operação da Polícia Federal, feita em parceria com a Receita Federal e a Agência Nacional de Mineração (ANM), acontece um ano depois do bloqueio de saques pela Trust Investing. Desde outubro de 2021, a empresa proíbe que clientes tenham acesso ao dinheiro preso na plataforma de investimentos alegando ter sofrido um ataque hacker.

Nesta quarta-feira, os agentes cumprem mandados de bloqueio no valor de R$ 100 milhões e sequestros de dinheiro em contas bancárias, imóveis de luxo, gado, veículos, ouro, joias, mina de esmeraldas, lanchas e criptomoedas em posse das pessoas físicas e jurídicas investigadas.

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Imagens divulgadas pela Polícia Federal mostra que joias com o símbolo do bitcoin e da Rede PP, empresa de Patrick Abrahão, foram apreendidos nesta manhã. Além disso, pacotes de esmeraldas, dinheiro em espécie e carros de luxo também foram confiscados pelas autoridades.

Em nota, a Polícia Federal deu mais detalhes sobre a atuação da Trust Investing:

“Os investigados, com utilização massiva de redes sociais, marketing, reuniões por diversos estados e países, centenas de “team leaders” arregimentados, além da estrutura e apoio de entidade religiosa pertencente a um deles, atuavam para captar recursos e, assim, gerir uma empresa que oferecia pacotes de investimentos/aportes financeiros desde 15 dólares a 100 mil dólares, com promessa de ganhos diários em percentuais altíssimos.”

A entidade religiosa citada trata-se da igreja evangélica Ministério Internacional Restaurando as Nações de Belford Roxo (RJ), criada pelo pastor Ivonélio Abrahão, pai de Patrick.

Junto com seu pai, Patrick convenceu milhares de pessoas a investir na Trust Investing nos últimos anos e por isso, passou a ser visto por criminosos do setor como um concorrente.

O empresário de 23 anos chegou a deixar temporariamente o Brasil no ano passado, após receber ameaças de morte de Glaidson Acácio dos Santos, o “faraó do bitcoin” preso por operar a pirâmide financeira da GAS Consultoria.

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Na terça-feira (18), Patrick e seu pai divulgaram um vídeo com Fabiano Lorite, líder de marketing da Trust Investing, contando os supostos planos futuros da empresa fraudulenta:

QUAL SERÁ O PRÓXIMO PASSO DA TRUST ?

O início do fim da Trust Investing

Neste mês de outubro de 2022 completa um ano que a Trust Investing não paga os clientes, enganos por promessas de lucro de mais de 300% ao ano em pacotes de investimentos em criptomoedas.

Embora captasse dinheiro de milhares de brasileiros, a empresa dizia não ter obrigação de seguir as regras da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), uma vez que estava oficialmente registrada na Estônia.

Em outubro passado, a Trust Investing bloqueou a conta de todos os clientes alegando ter sofrido um ataque hacker. Na época, a empresa disse os pagamentos voltariam a acontecer em três meses, quando uma auditoria interna seria concluída — o que não aconteceu.

No início deste ano, os líderes da Trust afirmaram que o estrago provocado pelo suposto hacker havia sido muito maior do que o esperado e que um total de US$ 834 milhões teriam sido roubados da empresa — o equivalente a cerca de R$ 4,1 bilhões.

O rombo no caixa fez com que a Trust adiasse outra vez os pagamentos para que fosse criado um plano de reestruturação, anunciado por Patrick Abrahão em março. A solução da empresa foi a seguinte: não pagar os rendimentos prometidos, mas devolver o valor investido na plataforma. Meses se passaram e, mais uma vez, a Trust Investing não cumpriu a promessa.

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Patrick Abrahão chegou a insinuar na época que a empresa poderia não devolver o dinheiro dos clientes se assim o quisesse, já que teria o direito de declarar falência sem sofrer consequências legais.

Quando procurado na época, Patrick se negou a responder as perguntas do Portal do Bitcoin alegando não poder falar em nome da empresa, mesmo sendo, fora do papel, seu principal porta-voz no Brasil.

Operações obscuras

Na mesma época que a Trust Investing travou o dinheiro dos investidores, a empresa passou a expandir suas operações para outros setores. Em pouco tempo, entrou no ramo de vinhos, lançou uma gravadora musical, agência de viagens, uma fazenda de energia renovável e um negócio de mineração de esmeralda.

A apuração do Portal do Bitcoin descobriu na época que a suposta mina de esmeralda da Trust Investing estava localizada em Campos Verdes, uma pequena cidade de 5 mil habitantes no interior de Goiás. Lá, a G44 Brasil, outra suposta pirâmide financeira que atuava com criptomoedas, também tinha uma mina de esmeraldas na mesma rua que a Trust Investing.

Leia também: Trust Investing opera mina de esmeraldas na mesma rua da pirâmide financeira G44 Brasil

É comum que promotores de esquemas financeiros usem metais e pedras preciosas como uma suposta garantia de solidez de seus negócios. Francisley Valdevino da Silva, o “Sheik das criptomoedas” da Rental Coins, pirâmide que também foi alvo da PF no início de outubro,  usava baús com barras de ouro para atrair investidores.

A mina de esmeraldas na qual a Trust Investing operava, possuía uma licença de 1991 da ANM para a lavra garimpeira de esmeraldas, que foi transferida ano passado para Diorge Roberto de Araujo Chaves, pai do CEO da Trust Investing, Diego Chaves. Assim como o filho, Diorge já promoveu diversas pirâmides financeiras no passado.

Como revelado na operação desta semana, a mineração de esmeraldas feita pela Trust Investing era irregular, de tal forma que além dos crimes contra a economia popular, os líderes da empresa responderão pela prática de crime ambiental e usurpação de bens públicos.