Na semana passada a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) emitiu um alerta informando que o trader de forex Marcelo Ferreira não tinha permissão para captar clientes mercado brasileiro. O Portal do Bitcoin investigou o que aconteceu com o Fundo Fimathe e encontrou clientes enganados — e com um grande prejuízo.
Parte das vítimas, hoje reunidas em um grupo no WhatsApp, conta que suas contas foram abandonadas e que a propaganda era enganosa.
Tudo começou com convite do próprio Ferreira, que enviou e-mails para sua base oferecendo contas no Fundo Fimathe. Segundo ele, iria gerar mais lucros que investimentos de renda fixa e ele faria operações diárias para quem aderisse.
Isso seria feito por meio de uma conta chamada “copytrade”: tudo que ele fizesse ali seria replicado na conta de quem entrasse no produto, com os valores ajustados para cada realidade. A plataforma onde isso seria feito é a Hantec.
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Mas rapidamente o sinal vermelho se acendeu. Marcelo aparecia em lives no Youtube fazendo fortunas e acertando diversos trades, o que não se espelhava nas contas dos clientes.
Na conta copytrade ocorria o oposto: Marcelo coleciona perdas, o saldo entrou no negativo e ele passou mais de mês sem operar nela, sendo que a promessa era de trades diários.
“Se ele posta resultado na rede social e no fundo não espelha, tem alguma coisa está muito errada”, disse ao Portal do Bitcoin um dos clientes, João Antonio Alex Ribeiro da Silva .
Silva diz que conheceu Marcelo por meio de uma reportagem e que, nessa época, o trader estava fazendo o projeto “Laboratório Fimathe”, que tinha como meta obter lucros de R$ 100 mil.
Ele enviou print screens de sua conta do Fundo que mostram um aporte de US$ 990, sendo que o saldo estava em US$ 770 (perda de 22%). Mas o pior foi a baixa atividade: Marcelo, que prometia operações diárias, operou na conta copytrade uma vez em outubro, duas em novembro, nenhuma em dezembro, quatro em janeiro e uma em fevereiro.
Uma reclamação constante é o atendimento ao consumidor. Um cliente, que pediu anonimato, disse: “Você manda e-mail com alguma duvida simples, eles respondem. Daí se você pergunta sobre o rendimento, não respondem mais”.
A vítima ainda ressalta: “Se fizer questionamento no Instagram ele bloqueia”. Além disso, diz, Marcelo apagou tudo sobre o Fundo copytrade Fimathe das redes sociais. “Apagou até da área especial de quem comprou o serviço”, afirmou.
Esse mesmo consumidor enviou uma troca de e-mails com serviço de atendimento no qual as perguntas feitas por ele eram sempre respondidas com mensagens genéricas e pré-prontas.
Uma busca feita agora no site de Marcelo Ferreira e em seu Instagram mostra que não há menções do fundo. E não custa ressaltar: Marcelo Ferreira não tem permissão para atuar como gestor de fundos pela CVM.
Pela segunda vez, o Portal do Bitcoin enviou mensagens para Ferreira, mas ele não respondeu até a publicação desta reportagem.
Ameaça de Processo Judicial
No dia 21 de fevereiro de 2020, João foi cobrar Marcelo pela falta de lucros do fundo. Foi então que o trader se irritou e diz que caso o cliente fizesse mais uma publicação sobre o tema, seria processado.
“Já leu a cláusula de rescisão e quebra onde você pode ser cobrado pela multa de R$ 4 mil. Na próxima postagem irei considerar seu contrato quebrado e irei cancelar sua conta após a notificação e meus advogados (sic) e irei cobrar a multa de rescisão judicialmente como estou fazendo com alguns já”, disse Marcelo.
Veja abaixo no vídeo a conversa entre Marcelo Ferreira e seu cliente:
Promessa de restaurar saldo negativo
O contrato é confuso quanto à perdas financeiras dos clientes. Diz que após 36 meses Marcelo Ferreira irá garantir a “restituição de valores negativados diretamente naconta do contratante”. Ao mesmo tempo, diz que quem assina tem “ciência e total discernimento que a contratada [Marcelo] não estará obrigada a restituir o valor total investido, nem devolverá os valores pagos à título de taxa de adesão, apenas irá restituir o eventual saldo negativo da conta”.
Mas João já se mostra sem esperança de uma solução para recuperar qualquer dinheiro que seja: ” Já tentei entrar direto em contato com ele através do WhatsApp, mas me bloqueou. No Instagram ele não visualiza. Questionei a esposa dele, pois ela é a dona da MF cursos, ela me bloqueou. Questionei a Hantec, que é a corretora, e me bloquearam. Os canais de suporte pararam de responder; disseram que iriam passar a reclamação para o setor interno e não responderam mais”.
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Trader Marcelo Ferreira
Em sua página na internet, Marcelo Ferreira se apresenta como “trader profissional há mais de 21 anos que formou mais de 80 mil alunos”. No Instagram, o trader possui 230 mil seguidores. No Youtube, onde transmite vídeos como influencer de finanças, Ferreira também tem muitos assinantes no canal.
Seus vídeos e produtos são baseados em uma técnica que ele diz ter inventado chamada ‘Fimathe’ que, segundo ele, simplifica a leitura de gráficos. Essa “técnica” é vendida como curso ou mentoria.
A stop order da CVM parece não ter mudado os planos de Marcelo. Na segunda-feira (21) o trader postou um vídeo no seu Instagram recomendando que os seguidores baixem um PDF para aprender as práticas do forex.