Uma semana depois de sua stablecoin ter perdido parte de sua paridade do dólar americano, o relatório público da Tether referente ao primeiro trimestre de 2022, divulgado nesta quinta-feira (19), mostra que a companhia reduziu em 16,8% os títulos comerciais usados para lastrear o seu token USDT – confirmando a informação que havia sido antecipada por um de seus executivos.
Segundo o relatório, em 31 de março de 2022, dos US$ 82 bilhões em reservas da Tether, 86% estavam em dinheiro em espécie e equivalentes de dinheiro, o restante incluía US$ 4 bilhões em títulos corporativos, US$ 3 bilhões em empréstimos com garantia e US$ 5 bilhões em outros investimentos, como criptomoedas, segundo o relatório.
Títulos comerciais são obrigações sem garantias e de curto prazo emitidas por uma corporação. Ao reduzir sua participação e ampliar a de dinheiro em espécie, a USDT sinaliza que possui lastros mais robustos para enfrentar turbulências entre as stablecoins – como a que derrubou a UST, do projeto Terra – e aumenta a confiança dos investidores no token.
A porção de dinheiro em espécie e equivalentes de dinheiro consistia de 52% de títulos do tesouro americano, 37% de títulos comerciais e o restante estava em fundos de mercado monetário e depósitos com dinheiro em espécie.
O relatório, que fornece detalhes sobre as reservas até 31 de março, mostra uma redução de 17% nas alocações em títulos comerciais pela empresa desde o fim de 2021.
Isso significa que, agora, títulos comerciais compõem US$ 20 bilhões das reservas que servem de lastro para a USDT.
Em um comunicado de imprensa, Paolo Ardoino, o diretor de tecnologia da Tether, afirmou que a empresa havia feito ainda mais progresso desde então. “Na verdade, desde 1º de abril de 2022, a Tether passou por outra redação de 20% em títulos comerciais, que iremos apresentar no relatório do segundo trimestre de 2022”, afirmou Ardoino.
“À medida que o crescimento da Tether no mercado continua validando o negócio, estamos contentes em compartilhar as declarações agora e, no futuro, como parte de nosso contínuo comprometimento com a transparência.”
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Pressão do mercado
Há exatamente um ano, apenas 3% do fornecimento da USDT era lastreado por dinheiro em espécie, apesar de a empresa ter afirmado anteriormente que era 100% pareada em dinheiro.
Desde então, a Tether está sob extrema pressão para aumentar o dinheiro em espécie e reduzir a porção de títulos comerciais em sua reservas.
Em setembro de 2021, quando as chinesas promotoras imobiliárias Evergrande e Kaisa estavam sob o risco de perderem um pagamento de títulos americanos, títulos comerciais compunham US$ 31 bilhões das reservas de US$ 69 bilhões da empresa.
Apesar de a Tether não ter informado quais empresas emitiram seus títulos comerciais, sempre enfatizou que esses ativos representam uma decrescente porção de suas reservas.
O relatório mais recente inclui um texto reforçado e isenções de responsabilidade da MHA Cayman, uma empresa de contabilidade e auditoria com sede nas Ilhas Cayman, de que sua avaliação não leva em consideração condições turbulentas de mercado.
“A avaliação dos ativos [da Tether e de suas subsidiárias] é baseada nas condições normais de mercado e não reflete condições inesperadas ou extraordinárias de mercado ou o caso de custodiantes ou contrapartes fundamentais passarem por uma iliquidez significativa, o que pode resultar em valores realizáveis atrasados”, afirmou a empresa.
“Nenhuma previsão para prejuízos estimados de crédito foi identificada pela gestão na data de apresentação do relatório.”
*Traduzido por Daniela Pereira do Nascimento com autorização do Decrypt.co.