À medida que a Web 3 está favorecendo a hiperfinanceirização e a comoditização, grandes nomes do setor propuseram um modelo alternativo, desenvolvido em redes emergentes por comunidades ascendentes com ricas identidades sociais.
Os “Souldbound Tokens”, propostos pelo criador do Ethereum, Vitalik Buterin, formariam um alicerce fundamental para essa Sociedade Descentralizada (ou DeSoc, na abreviatura em inglês). Esses tokens não transferíveis representam credenciais e afiliações na DeSoc e são ligados a “Souls”, uma espécie de endereço que define a origem.
Introdução
“Soul” (ou “alma” em inglês) não é uma palavra muito associada ao setor bastante técnico e financeiro das blockchains e criptomoedas.
Para muitos, o termo “Soulbound Token” — que, em tradução literal, poderia ser “token de vínculo” ou “token de almas conectadas” (caso as palavras “soul” e “bound” forem separadas) — no contexto cripto, não parece ser algo intuitivo, pode soar irônico ou apenas ser algo muito estranho.
Soulboundhttps://t.co/dHA2ki4AdB
— vitalik.eth (@VitalikButerin) January 26, 2022
Segundo o próprio Vitalik, o termo “Soulbound” é um termo que vem do jogo “World of Warcraft”, que se refere a itens que, quando são coletados, não podem ser transferidos ou vendidos para outro jogador.
No entanto, soulbound tokens e o que inspiram podem moldar o futuro caminho da Web 3 de uma forma significativa.
São os alicerces propostos que podem redefinir a forma como nos relacionamos uns com os outros, criamos e gerenciamos comunidades, comunicamos reputações e mais. O que é apenas uma ideia pode, um dia, tornar-se parte integrante de nossas vidas na Web 3 e além.
Neste artigo, você irá entender o que são soulbound tokens, em que contexto Web 3 eles se encaixam, como funcionam, quais são seus casos de uso e o que o futuro aguarda para esses ativos.
O que são “soulbound tokens”?
Soulbound tokens (ou SBTs) foram propostos em maio de 2022 pelo economista e tecnólogo social Eric Glen Weyl, a advogada Puja Ohlhaver e o criador do Ethereum Vitalik Buterin. SBTs são um alicerce primitivo ou fundamental em uma tendência emergente na Web 3 conhecida como Sociedade Descentralizada.
A DeSoc está na interseção entre política e mercados e, assim como grande parte do contexto Web 3 em que se encaixa, está baseada em torno de princípios de componibilidade, comunidades ascendentes, cooperação e redes emergentes que são pertencentes e governadas por usuários de redes.
Visa aumentar a trajetória da Web 3 para a hiperfinanceirização para algo mais inclusivo, democrático e descentralizado.
1/ A first sketch of Decentralized Society (DeSoc): https://t.co/rdTSL8QpJP…
— Puja Ohlhaver (@pujaohlhaver) May 11, 2022
Honored to have collaborated with @glenweyl and @vitalikbuterin on what will hopefully become a novel field of research, inquiry, and co-creation across our technological stack.
SBTs são um elemento essencial da DeSoc. Similar a uma síntese de registros médicos no mundo tradicional, SBTs são tokens não transferíveis que representam “compromissos, credenciais e afiliações”, que compõem as relações sociais nas redes Web 3.
Em outras palavras, são representações tokenizadas de características variadas, elementos e feitos que integram uma pessoa ou entidade.
“Souls” podem emitir e atestar SBTs para outras “Souls”; então, por exemplo, uma faculdade (representada por uma “Soul”) poderia emitir um SBT, certificando que um curso foi completado, à “Soul” de um estudante.
Como soulbound tokens funcionam?
Neste momento, ainda não existem soulbound tokens; são apenas uma ideia. Dito isso, algumas mecânicas já foram delineadas.
O maior diferencial dos SBTs é a não transferibilidade. Diferente dos mais populares padrões de tokens — tokens fungíveis (transferíveis) com o padrão ERC-20, como o ether (ETH); e tokens não fungíveis (ou NFTs), com o padrão ERC-721 (exclusivos), como o Bored Ape Yacht Club —, SBTs não foram criados para ter um valor de mercado e não podem ser transferidos para outra carteira.
Em um contexto de DeSoc, SBTs são emitidos e mantidos em contas conhecidas como “Souls”. Basicamente, Souls são carteiras que armazenam SBTs e são usadas para definir procedência (a origem de algo) e reputação.
Souls podem ser associadas a pessoas, organizações e outras entidades. É importante mencionar que Souls não pretender ter uma representação direta a humanos, ou seja, uma pessoa pode ter diversas Souls na DeSoc.
Por exemplo, sua escola pode ter uma Soul que emite diplomas como SBTs para seus formandos, em que todos têm Souls que armazenam seus respectivos diplomas SBT. Você recebe esse SBT em sua Soul de Credenciais, onde você também armazena SBTs de outras atividades extracurriculares.
Porém, essa Soul de Credenciais é distinta de sua Soul de Identificação, que armazena sua carteira de habilitação e seu passaporte.
SBTs são, por si só, bem descritivos e representativos. Seu poder e sua utilidade vêm, em parte, da forma como SBTs armazenados em Souls se inter-relacionam para formar comunidades emergentes com base em afiliações, credenciais e compromissos verificados.
O que tem de tão especial em soulbound tokens?
A noção de tokens não financeirizados e não transferíveis não é um conceito novo. Na verdade, grandes projetos são desenvolvidos com princípios similares.
Por exemplo, o Proof of Attendance Protocol (ou POAP) comprova a participação em eventos com distintivos que não têm valor financeiro. Já o Proof of Humanity utiliza a não transferibilidade para associar perfis a um humano único e real.
O que torna soulbound tokens tão únicos é a forma como se encaixam no amplo contexto da DeSo. Conforme explicado pelos autores do artigo “Sociedade Descentralizada: Encontrando a Alma da Web 3” ao proporem SBTs, o conceito ainda é nascente e subdesenvolvido.
No entanto, SBTs podem ser os alicerces atômicos com os quais redes democráticas, componíveis e descentralizadas e sociedades Web 3 serão construídas.
Quais são os exemplos de caso de uso dos soulbound tokens?
Os possíveis casos de uso dos SBTs são apenas limitados por nossa capacidade em imaginá-los, criá-los e implementá-los. Porém, existem alguns casos de uso promissores:
Gestão de ficha médica
A troca de médicos ou de convênio pode ser uma experiência frustrante. Exige horas no telefone para pedir o histórico médico, verificar sua identidade e tentar lembrar se você usou o nome de solteira da sua mãe ou a rua onde você morou quando criança como sua pergunta de segurança.
SBTs poderiam tornar obsoleto esse processo complicado com algo como uma Soul médica que armazena toda a sua ficha médica.
Empréstimo subgarantido na blockchain
Mercados financeiros tradicionais são criados sobre crédito. Até agora, projetos cripto tentaram solucionar esse problema em grande escala por conta de limitações técnicas ao fornecer a uma pessoa ou instituição a capacidade de pagar um empréstimo. SBTs poderiam solucionar isso por meio de uma reputação comprovável.
Proteção contra ataques Sybil em DAOs
Uma das maiores ameaças enfrentadas por organizações autônomas descentralizadas (ou DAOs) é um ataque Sybil, em que uma pessoa ou um grupo coordenado de pessoas acumula uma enorme quantidade de tokens de governança e manipula a votação de propostas a seu favor.
Ao alavancar SBTs, DAOs podem ter mecanismos integrados que mitigam tais riscos de inúmeras formas, como a verificação da correlação entre SBTs armazenados por Souls que apoiam uma votação específica e descontá-la de acordo.
O futuro dos soulbound tokens
Na sua atual forma “soulbound”, SBTs ainda estão em seus primórdios. As ideias, os casos de uso e as implementações ainda precisam ser discutidos, criados e concretizados. Nesse sentido, o futuro dos SBTs ainda é um quadro em branco.
Porém, em sua expressão e manifestação mais pura e completa, soulbound tokens podem se tornar um elemento fundamental do movimento DeSo, em que comunidades surgem em torno de redes e bens que são pertencentes e gerenciadas pelas “Almas” que os utilizam.
*Artigo originalmente escrito pela PubDAO, agência de notícias descentralizada que visa redefinir a produção e distribuição midiática usando ferramentas Web 3.
**Traduzido por Daniela Pereira do Nascimento com autorização do Decrypt.co.
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