Depois que a Justiça americana concluiu que a invasão hacker nas eleições de 2016 foi financiada com bitcoin, uma nova fase de investigação pode começar. No entanto, a principal ‘peça’ a ser investigada é disputada por mais dois países, conforme publicação do Bloomberg nesta terça-feira (04).
O russo Alexander Vinnik, preso na Grécia desde julho do ano passado sob ordem do Departamento de Justiça Americano (DoJ), está prestes a ser extraditado. No entanto, três países brigam para tê-lo em seus tribunais, a França, os Estados Unidos e a própria Rússia.
A Suprema Corte da Grécia marcou para esta terça-feira (04) a apreciação do caso. Ela deve ouvir os argumentos de França e Rússia nos pedidos de extradição de Vinnik, acusado por ambos de cibercrimes contra seus cidadãos. O desfecho deve ser anunciado na próxima semana.
Vinnik, que é suspeito de ser o suposto dono da extinta corretora de bitcoin BTC-e, foi acusado de um esquema bilionário de lavagem de dinheiro e é tido como procurado em diversos países. Ele também é parte das investigações no caso da também extinta Mt. Gox.
Para a Justiça americana, Vinnik poderia lançar luz no caso dos ataques cibernéticos ao comitê do Partido Democrata que tiveram a intenção de prejudicar a campanha da então candidata à presidência, Hillary Clinton.
E existe esta possibilidade caso o russo venha parar em território americano, visto que ele lidou com alguns bitcoins que foram rastreados (pela Elliptic, equipe especializada em identificar atividades ilícitas em blockchains) até a ‘Fancy Bear’, um grupo de hackers que também está na mira do assessor especial da DoJ, Robert Mueller.
“Havia uma forte ligação entre grande parte dos fundos supostamente usados pelo grupo Fancy Bear e o BTC-e. O que eu não posso dizer com certeza é se o Fancy Bear os obteve diretamente de BTC-e, ou se houve um intermediário”, disse Tom Robinson, diretor de dados da Elliptic.
Mueller investiga como foram realizadas as transações com os bitcoins que financiaram os ataques. E esta é uma das razões do porquê a Justiça americana deseja tanto a extradição do russo.
De acordo com Ilias Spyrliadis, advogado de Vinnik, seu cliente nega as acusações de lavagem de dinheiro dos EUA, bem como as acusações francesas. Ele disse também que o seu protegido não tinha controle sobre o valor de US$ 9 bilhões em bitcoin que os promotores americanos dizem que passou pela BTC-e.
“Os EUA estão sequestrando cidadãos russos através de países terceiros. A França é apenas outro caminho, outro elo para minha extradição” disse Vinnik, segundo o Bloomberg.
A briga pelo russo
Além da Rússia, a França e os EUA têm acusações contra Vinnik por diferentes fraudes e irregularidades. A Rússia ameaçou retaliar a Grécia se ela entregasse Vinnik a algum outro país.
A Suprema Corte da Grécia decidiu que Vinnik poderia ser extraditado para os EUA e enfrentar as acusações em São Francisco, mas o processo foi paralisado pelos pedidos da Rússia e da França.
E ainda tem mais um processo para ser analisado antes de uma resolução sobre a extradição. O Ministério da Justiça grega também precisará examinar um pedido de asilo político de Vinnik, que se ofereceu para trabalhar no país.
Entenda o caso
O Departamento de Justiça dos Estados Unidos acusou 12 supostos espiões russos de interferirem nas eleições presidenciais americanas em 2016.
Apurou-se, então, que R$ 95 mil em bitcoins foram usados na ação para compra de serviços de internet que serviram de rota para a invasão no banco de dados dos Democratas.
De acordo com o promotor Mueller, os responsáveis pelo cibercrime foram agentes da GRU, uma agência de inteligência do governo russo.
Em nota, o DoJ concluiu que a Rússia interferiu no processo eleitoral americano de 2016.
“Esses oficiais se empenharam para invadir as redes de computadores do Comitê da campanha presidencial de Hillary Clinton e divulgaram informações na Internet sob os nomes ‘DCLeaks’ e ‘Guccifer 2.0’ e através de outra entidade”, relatou.
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