O mercado de criptomoedas fecha janeiro de 2023 com chave criptográfica à medida que o Bitcoin (BTC), a moeda mais importante do setor, acumula ganhos de 39% no mês e consolida seu preço acima do patamar de US$ 23 mil.
Isso é resultado da capacidade do bitcoin de passar por quatro semanas consecutivas de alta, algo que não acontecia desde agosto de 2021, segundo dados do CoinGlass. Essa nova tendência de preço difere muito da que dominou os gráficos no ano passado, quando o bitcoin chegou a ficar até nove semanas ininterruptas sofrendo perdas.
O cenário do BTC voltou a melhorar em dezembro, quando foram superadas as perdas deixadas pelo colapso da corretora FTX e que derrubaram a maioria das criptomoedas no mercado. Agora, as altcoins acompanham a alta do bitcoin.
Quem lidera o top 5 das criptomoedas que mais valorizaram em janeiro é Aptos (APT), com alta de 379% no mês, seguida por Render Token (+262%), Gala (+221%), Threshold (+208%) e Decentraland (+147%).
Já entre as 100 maiores criptomoedas do mercado que não conseguiram valorizar em janeiro, há apenas dois nomes com perdas singelas: Huobi Token (-0,29%) e Unus Sed Leo (-0,48%), segundo dados do CoinMarketCap.
Será que os investidores já podem se acostumar com esse cenário de alta constante que parece sinalizar um possível fim do inverno cripto? Para responder essa pergunta, o Portal do Bitcoin conversou com cinco especialistas do mercado cripto brasileiro.
Por que o bitcoin subiu?
Antes de falar sobre qual é o destino do bitcoin, Rony Szuster do time de research do MB (Mercado Bitcoin) explica o que motivou a alta do bitcoin neste começo de ano. Ele diz que o preço do BTC é impulsionado em primeiro lugar pela melhora no cenário macroeconômico global, combinado com dados on-chain que demonstram que a confiança na criptomoeda permanece firme entre investidores de longo prazo.
“A expectativa é que a taxa de juros nos EUA suba 25 pontos base nesta quarta-feira (01), o que é menor do que tivemos ano passado. Se o FED começar a diminuir o ritmo dos aumentos, o cenário fica mais positivo para todo mercado de risco, inclusive para o bitcoin. O segundo fator de alta são indicadores positivos na análise on-chain. Por exemplo, o saldo de bitcoin na mão de detentores de longo prazo está batendo recorde nos últimos tempos”, explica Szuster.
Henrique Teixeira, o Head Global de Novos Negócios da Ripio, também aponta dados da blockchain, como o novo recorde do hashrate (poder computacional) do bitcoin, como um fator positivo para a alta.
“Temos que ver como será os testes das médias móveis, que ocorrem geralmente após a forte queda no mercado, como foi a quebra da FTX, bem como a divergência bullish onde a força vendedora começa a dar lugar a força compradora, motivando uma reversão do mercado”, complementa.
A mudança no comportamento do mercado cripto pós-colapso da FTX também foi apontada como positiva para a recuperação do bitcoin por José Gabriel Bernardes, sócio da Fuse Capital.
“Houve uma limpa de mercado por causa da quebra da FTX, Voyager, que provocou uma desalavancagem do mercado — visto que ano passado havia uma alavancagem absurda e uma mitigação de risco muito baixa. Agora o mercado está um pouco mais ciente dos riscos. Há melhorias também na parte macro”, relembra. “A frase do FED de que a inflação é passageira era algo que parecia mentira dois meses atrás, mas com o passar do tempo parece que esse cenário de inflação e juros está melhorando.”
O inverno cripto acabou?
Apesar do cenário positivo que se forma em torno do mercado do bitcoin, cravar que o inverno cripto acabou e que estamos no início de um novo ciclo de alta ainda é prematuro, na visão de Rony Szuster.
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“A recuperação considerável deste início de ano foi muito por causa do cenário macro, que, se voltar a piorar, pode trazer mais quedas para cripto. O bear market ainda não acabou porque não tivemos tempo suficiente para provar que a força compradora voltou em peso. Essa narrativa deve se consolidar no ano que vem, com a aproximação tanto do halving do bitcoin como a entrega de atualizações importantes em projetos como Ethereum.”
Para esse ano, portanto, o analista acredita que a tendência é um cenário de lateralização das criptomoedas, o que não impede que seja um período positivo se não surgirem novas surpresas no cenário macroeconômico.
O gestor de portfólio da Hashdex, João Marco Cunha, compartilha essa visão de que apesar da recuperação em janeiro, ainda é cedo para mirar o início de um bull market das criptomoedas. Ele descreve o que precisa acontecer para que um novo ciclo de alta tenha início de fato:
“Para o inverno cripto chegar ao fim, é preciso que a conjuntura macro pare de atrapalhar e que os investidores retomem algum nível de apetite ao risco, possibilitando que os preços reflitam os avanços em fundamentos observados desde o ano passado. Por enquanto, o Bitcoin e os demais criptoativos seguem com grandes perdas em relação às máximas registradas em 2021.”
Paulo Boghosian, head de cripto do TC, tem uma visão um pouco mais otimista, de que pelo menos o fundo do bitcoin, ou seja, a cotação mais baixa registrada pelo ativo no atual ciclo de baixa, já foi atingido.
“O bitcoin passou por um padrão gráfico que coincide com fundos: uma vela de altíssimo volume com uma sombra grande que foi o sell-off após as notícias da FTX, logo seguida por uma recuperação dos preços. Todos os dados on-chain também apontavam para o fundo, em que grande parte dos investidores estava em capitulação [venda com prejuízo]”.
Apesar disso, o especialista ainda não está confiante de que um bull market se concretize esse ano, sendo improvável que o bitcoin e outras criptomoedas importantes alcancem suas máximas históricas nos próximos meses.
“O cenário macro continua desafiador. Talvez tenhamos temporariamente nos livrado da inflação, mas ainda é possível que uma recessão aconteça nos EUA e piore os mercados tradicionais. Outro fator é que muitos players grandes de cripto quebraram ano passado. Leva tempo e muito dinheiro novo entrando para que o mercado consiga recuperar o que era antes”, observa.
Para onde vai o preço do bitcoin?
Henrique Teixeira da Ripio argumenta que o cenário continua sendo positivo para o bitcoin caso a ameaça de possíveis aumentos nos juros norte-americanos seja contida.
“A tendência é que o bitcoin continue sua recuperação se o preço se mantiver acima da média móvel, como as últimas análises indicam. Sendo assim, as próximas resistências deverão ficar entre os US$ 25 mil e US$ 30 mil”, projeta.
Rony Szuster do MB aponta que já será possível ter um indício de que caminho o preço do bitcoin vai seguir nesta quarta-feira (1º), quando sair a decisão do FED de aumentar a taxa de juros.
“Se amanhã o FED fizer um aumento de 50 pontos base ou falar que vai fazer outros aumentos que o mercado não está precificando, tem grande chances do bitcoin ter um recuo de preço e voltar para US$ 20 mil. Para saber onde o preço vai parar, é preciso encontrar o fundo atual, que pode estar entre US$ 18 mil e US$ 19 mil”, analisa.
No cenário de incerteza que se forma, ele recomenda que o investidor siga com a seguinte estratégia: “Continue comprando pequenas quantidades de bitcoin, porque não é possível acertar o fundo. A melhor estratégia continua sendo ir comprando aos poucos para fazer um bom preço médio.”
O gestor da Hashdex, João Marco Cunha, recomenda cautela aos investidores visto a dificuldade de acertar o “timing” correto de fazer um investimento de alto risco. “Recomendamos sempre que a parcela da carteira que o investidor aloca em cripto seja relativamente pequena, de um dígito percentual, com horizonte de longo prazo e com rebalanceamentos mais frequentes do que os ativos tradicionais”, finaliza.
- Bull market está de volta? Conheça as expectativas para o mercado cripto em 2023 em live do MB quinta-feira (2) no YouTube.