Apesar de ensaiar uma leve recuperação na segunda-feira (30), o Bitcoin registrou na semana passada a nona semana seguida de queda, alcançando um marco nunca antes visto de desvalorização do valor desse ativo.
No entanto, é necessária uma análise detalhada sobre todo o contexto para entendermos exatamente os motivos pelos quais esse cenário de queda chegou a esse marco, bem como para a execução de estratégias nesse momento.
Impacto do cenário macroeconômico
As últimas semanas foram de forte movimento de lateralização. De uma forma geral, a performance ainda segue um caminho de queda, porém, de forma branda, visto que há algum tempo estamos falando sobre a luta do Bitcoin para se manter no patamar de US$30 mil.
Nesse momento, os fatores macroeconômicos são os principais agentes causadores do chamado “inverno cripto”. Afinal, o humor dos investidores tem sido fortemente impactado por políticas monetárias, principalmente ações para aumentar juros e conter a inflação, que está em níveis elevados em diversos países do mundo.
O resultado natural desse movimento é a busca por alternativas mais conservadoras, como títulos de renda fixa que podem apresentar bons rendimentos em momentos de juros em alta.
Pré-halving do Bitcoin
Além do contexto econômico mundial, é importante lembrar sobre um fato histórico: o momento pré-halving do Bitcoin.
Tradicionalmente, em um período que compreende os dois anos anteriores ao processo que reduz a emissão de novos bitcoins (BTC) pela metade há um movimento natural de lateralização do mercado.
Se olharmos para os dois últimos ciclos completos de halving do Bitcoin (2012-2016 e 2016-2020), é possível identificar um padrão que faz com que a moeda alcance sua alta histórica no primeiro ou segundo ano após o halving.
Isso acontece devido ao choque de oferta de novos Bitcoins no mercado e aumento da demanda pelos investidores que cresce a cada ano.
Ainda de acordo com o padrão histórico, estamos passando por um momento de pré-halving, muito marcado pela lateralização dos preços. Porém, tradicionalmente foi seguido por movimento que chamamos de bull run (corrida dos touros), momento em que a procura pelo Bitcoin se intensifica, visto que a oferta será drasticamente reduzida no ano seguinte com o novo halving.
Leia Também
Chegamos ao fim do poço?
É difícil dizer se o recorde de nove semanas em queda será renovado. De fato, o momento apresenta um cenário complicado para ativos voláteis como o Bitcoin ou mesmo como ações de empresas listadas em Bolsa.
A manutenção do conflito na Europa e o possível novo aumento dos juros por parte do FED são fatores que podem indicar que esse inverno cripto ainda está longe de acabar.
Sobre isso, vale destacar que o Bitcoin está cada vez mais inserido na sociedade, dessa forma, uma política monetária como a atual pode causar impactos diferentes de outras épocas, resultando em uma demora para recuperação do ativo.
Nada muda para o Bitcoin
Mesmo com todo esse cenário, é sempre interessante lembrar que os fundamentos do Bitcoin seguem inalterados. Esse ativo continua sendo a melhor alternativa para quem busca uma forma de proteger seu capital contra a inflação ou mesmo para quem busca um caminho para investir pensando no longo prazo.
Alguns fatos e movimentos recentes mostram que, mesmo com a queda, o Bitcoin está caminhando para se transformar em um dos mais relevantes pilares da economia mundial.
O principal fator é a crescente adoção da moeda como instrumento de negociação em relações comerciais e a aceitação como moeda oficial em diversas localidades em todo o mundo.
A facilidade para realizar negociações envolvendo essa moeda faz com que seja mais fácil do que utilizar serviços de investimentos bancários, por exemplo, atraindo atenção de diferentes tipos de usuários, consumidores e investidores.
Por fim, ainda vale destacar que os debates sobre a regulamentação do Bitcoin e das criptomoedas aumentam diariamente. Portanto, mesmo que essas leis criem processos como a declaração desses ativos, a tendência é que sirva para impulsionar o universo cripto em todo o mundo.
Sobre o autor
José Artur Ribeiro é CEO na Coinext. Economista formado pela Università di Roma (Itália) e investidor em criptomoedas desde 2014. Possui mais de 15 anos de experiência em cargos de liderança. Foi CFO da Hexagon Mining e CFO da Vodafone Brasil. Trabalhou também em multinacionais como Airbus Industries (França) e PricewaterhouseCoopers (Itália e Brasil).