Mineração de Bitcoin: como sobreviver à queda do mercado

Recuo no preço da criptomoeda suspendeu a construção de locais para mineração e fez o preço dos equipamentos despencar, mas também gerou oportunidades
Mineração de Bitcoin

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Mineradores de criptomoedas têm muitas despesas fixas, como conta de luz, aluguel e os computadores turbinados (ou fazendas de máquinas) responsáveis pela mineração.

É por isso que pode ser uma dor de cabeça para suas margens quando o mercado entra em queda livre e faz com que o preço dos fundos que possuíam em cripto, como o bitcoin (BTC), despenque.

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E agora que o mercado cripto está no que parece ser um mercado prolongado de baixa, mineradores estão sendo obrigados a se ajustar.

A capitalização global do mercado de criptomoedas é de quase US$ 1 trilhão atualmente — metade do que era em abril, de acordo com o CoinMarketCap.

O mercado sofreu seu primeiro impacto quando o Terra começou a colapsar em meio e, depois, em junho, quando a Celsius se tornou a primeira grande credora cripto a suspender saques de clientes para evitar uma “corrida bancária”.

Em junho, o Arcane Research publicou um relatório que revelou que empresas de mineração de bitcoin listadas em bolsa venderam mais bitcoins do que haviam produzido em maio. Na época, foi uma estatística chocante.

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Porém, dados mostraram que, em junho, mineradoras venderam 400% de sua produção e reduziram suas ofertas em junho e reduziram suas alocações de bitcoin em 25%, de acordo com Jaran Mellerud, analista do Arcane Research.

As empresas que venderam bitcoins incluem Core Scientific, que vendeu US$ 165 milhões de suas alocações em bitcoin para “melhorar a liquidez” e a Bitfarms, que liquidou mais da metade de seu fornecimento em bitcoin para pagar suas dívidas.

Um dos motivos para as vendas foi a falta de espaço para ligar e operar as máquinas, afirmou o CEO da empresa de consultoria blockchain Sabre 56, Phil Harvey. Pelo que ele pôde perceber, o ditado sobre mercados de baixa serem as épocas para desenvolver é uma triste ironia.

Sua empresa de operação e gestão de projetos busca locais para datacenters e trabalha com empresas locais de serviços públicos para garantir que possam acomodar empresas de mineração cripto.

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Mas conforme os mercados despencaram, ele viu empresas que, em 2021, haviam se esforçado para comprar fazendas de mineração, pausar ou abandonar projetos de construção.

“No fim da era do [modelo Antminer S17] e do [Antminer S19], havia apenas uma abundância onde a Bitmain havia atendido à oferta e à demanda e isso estava inundando o mercado. Mas as pessoas ainda tinham o pensamento de: “Você sabe… Precisamos comprar as máquinas. Essa é a nossa chave para a mineração”, explicou ele ao Decrypt em uma ligação durante a conferência Mining Disrupt em Miami.

“Mas ninguém conseguiu entender que, se eles não tivessem a infraestrutura, essas máquinas vão ficar em galpões e não gerar receita. Infelizmente, é isso o que está acontecendo.”

Falta de planejamento na mineração de bitcoin

A falta de planejamento teve um efeito dominó no mercado secundário de máquinas de mineração. Empresas de mineração que fizeram o pedido de mais máquinas do que conseguem comportar estão vendendo suas máquinas novinhas junto com máquinas que estavam operando ininterruptamente.

É um problema para mineradores que conseguiam depender da venda de máquinas usadas para gerar uma pequena receita.

“Então quando as pessoas agora quiserem vender suas máquinas secundárias, será um show de horrores porque ninguém precisa de uma máquina de segunda mão que foram usadas ao máximo quando podem comprar máquinas de segunda mão que nunca foram utilizadas”, disse Harvey.

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O problema se espalhou para fabricantes de hardware, como NVIDIA, cujo preço por suas placas de vídeo caiu em 50%, conforme informado pela agência de notícias Bloomberg em junho.

Como se planejar para a queda do mercado

É um momento difícil para ser uma enorme empresa listada em bolsa, afirmou Chris Bae, CEO do Enhanced Digital Group.

Sua empresa, fundada e repleta de ex-trader de derivativos de Wall Street do UBS, Goldman Sachs, Merrill Lynch e JPMorgan Chase, esteve conversando com empresas cripto, incluindo mineradores, sobre como se planejar melhor para quedas de mercado.

“Acredito que o que estamos descobrindo é que as necessidades de fluxo de caixa e as conversas sobre o equilíbrio em torno do bitcoin realmente borbulharam. E não estamos mais na etapa inicial dessas coisas. Muitas mineradoras têm investidores que só querem investir”, contou Bae ao Decrypt. “Não estão fazendo isso de graça.”

Significa que fazer com que empresas se comprometam a vender, daqui a seis meses, uma parte de suas reservas a um preço definido em vez de liquidarem antes de uma apresentação de resultados e ficarem à mercê da volatilidade de preço.

“O que encontramos é caminhos nos próximos meses para que um minerador venda acima da taxa ‘spot’ [à vista]”, explicou Bae. “A pergunta que mais recebemos é se existe liquidez suficiente. Sempre existe liquidez suficiente para planejar. Nunca existe liquidez suficiente quando você precisar dela naquele momento.”

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Para isso, Bae e a equipe do Enhanced Digital Group fixam taxas nos mercados a termo ou futuros. Contratos a termo ou futuros são tipos de derivativos que permitem que investidores comprem ou vendam um ativo no futuro a um preço já definido.

Por exemplo, um minerador pode ter entrado em um contrato de futuros de seis meses para vender uma parte de seus bitcoins em janeiro.

Significa que pode ter vendido a um preço definido em junho, quando os mercados estavam em queda livre por conta dos rumores de que as credoras cripto Celsius e Voyager e o fundo de hedge Three Arrows Capital estavam insolventes.

Período bom para hospedagem

Houve poucos pontos positivos no que foi um período difícil para o setor cripto como um todo. Por exemplo, é um bom momento para ser uma empresa de hospedagem, como a Applied Blockchain, que já possui uma infraestrutura no lugar.

A empresa de hospedagem com sede na cidade de Dallas, no Texas, firmou um acordo por uma quantia não divulgada com a Marathon Digital para fornecer 200 megawatts (ou MW) de capacidade de hospedagem em seus próprios centros de dados em operação. 

O CEO da Applied Blockchain, Wes Cummins, considera os anos cripto como idade de cachorro — é o setor de evolução mais rápida e mais volátil que ele já esteve em seus mais de 20 anos de investimento em tecnologia, contou ele ao Decrypt via ligação telefônica de Paris, para onde ele havia viajado para uma reunião de conselho. 

“Estamos exclusivamente criando centros de dados e fornecendo uma espécie de serviço de hospedagem diferenciado para nossos clientes. Isso se tornou o obstáculo onde, há um ano, era definitivamente obter ASICs [chips de circuito integrado para aplicação específica] — que era o obstáculo”, explicou Cummins.

“Existem muitas pessoas que ou têm o equipamento pelo qual pagaram que será entregue no futuro ou já têm o hardware de mineração que precisam ligar em algum lugar.”

Por enquanto, segundo ele, o baixo preço do bitcoin pode desequilibrar as empresas de mineração, ou seja, as chances são baixas de que empresas possam lucrar pelo menos o tanto que pagaram pelas máquinas de mineração desde o início.

Isso desaceleraria o crescimento da indústria de mineração na América do Norte, que disparou desde que a China baniu a mineração em 2021.

Cummins afirma que existe muito hardware nos EUA — o que vai aumentar a taxa de hashes (velocidade de processamento de dados em uma blockchain) do país como um todo —, mas pode demorar um tempo até que grande parte dessas máquinas seja ligada.

Ele também espera que a indústria de mineração passe por uma espécie de consolidação que já está acontecendo entre credores, conforme a Alameda Research, de Sam Bankman-Fried, está adquirindo uma participação na Voayger Digital e a FTX está fazendo o mesmo com a BlockFi; ou a credora cripto Nexo adquirindo sua adversária, Vauld

“Empresas de mineração, não importando onde vocês estão na cadeia de suprimentos, a tendência é desaceleração. Vocês ainda poderão ter exposição ao bitcoin em seu balanço patrimonial. Poderão ter empréstimos com algumas das maiores credoras do setor, mas ainda levará meses até que você fique inadimplente com esses empréstimos e talvez entre em um acordo com a credora”, explicou.

“Não é algo [que possa ser resolvido] da noite para o dia, em que você está lidando com uma enorme quantidade de pessoas que está tentando sacar fundos ou cripto de sua plataforma.”

Em junho, no Texas, onde a Allied Blockchain irá hospedar as fazendas de mineração da Marathon, a empresa de mineração com sede na Suíça, White Rock Management, fez sua estreia nos EUA.

O CEO da White Rock, Andy Long, afirma que a empresa, que comanda uma capacidade de mineração equivalente a 55 MW na Suécia e agora está se expandindo aos EUA, planeja continuar se expandindo em 2023.

“As pessoas que estão com problemas esgotaram [o limite de] seus cartões de crédito comprando máquinas”, contou Long ao Decrypt. “Foram ao mercado, tiveram acesso a muito capital, muitas ordens no auge do mercado quando o preço das máquinas era o triplo do que é atualmente e, agora, estão tendo de pagar o pato.”

Escolha as fontes de energia

Long afirma que parte da estratégia de seis anos da empresa para sobreviver aos mercados de baixa, principalmente na unidade do Texas, foi escolher suas fontes de energia com cuidado.

Por exemplo, sua unidade no Texas é operada com gás de combustão, ou gás natural que é lançado durante a produção de petróleo que é direcionada para geradores e utilizada para operar fazendas de mineração.

“Quando o governador estava pedindo a todos que desligassem suas máquinas há algumas semanas, não precisamos, pois não estamos [conectados] na rede”, explicou.

“Então isso faz parte de nossa diversificação. A energia hidroelétrica na Suécia, o gás de combustão no Texas e outra [fonte energética] em outro estado. Dessa forma, só meio que dispersamos nosso risco.”

Apesar de todo o impacto do mercado de baixo, Long espera que a taxa de hashes da rede Bitcoin aumente em quase 1/3 até o fim do ano.

A taxa de hashes é uma medida do poder computacional total em uma blockchain. Cada hash representa um “palpite” de uma série criptográfica.

Em redes blockchain proof of work (ou PoW), como o BItcoin, o minerador que a adivinhar corretamente ganha o direito de verificar um bloco repleto de transações e recebe uma recompensa.

“[A taxa de hashes] deu uma desacelerada, mas essa retração que tivemos, a menos que o mercado de baixa realmente piore, acredito que veremos [um aumento de] 30%”.

*Traduzido por Daniela Pereira do Nascimento com autorização do Decrypt.co.

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