O mercado de criptomoedas amanhece de ressaca nesta quinta-feira (15) após o presidente do banco central dos EUA descartar um alívio no aperto monetário no país. Hoje também é dia de decisão de juros na zona do euro e no Reino Unido, o que traz cautela aos índices futuros das bolsas europeias.
No mercado cripto, investidores ainda temem o contágio de mais empresas pela crise, enquanto reguladores revelam mais evidências de irregularidades praticadas por Sam Bankman-Fried, o fundador da exchange FTX que está preso nas Bahamas.
O Bitcoin (BTC) opera com pouca variação nas últimas 24 horas, em queda de 0,9%, para US$ 17.664,85. O Ethereum (ETH) recua 2,7%, para US$ 1.287,19, segundo dados do Coingecko.
Em reais, o Bitcoin (BTC) mostra estabilidade, cotado a R$ 93.231,08, de acordo com o Índice do Portal do Bitcoin (IPB).
As altcoins mais negociadas estão em terreno negativo, entre elas BNB (-3,9%), XRP (-2,9%), Dogecoin (-4,1%), Cardano (-2,7%), Polygon (-2,6%), Polkadot (-2,3%), Shiba Inu (-2,8%) e Avalanche (-1%).
SOL vai na contramão e sobe 1,2% na esteira do anúncio de descontos e recompensas para usuários do Magic Eden, marketplace de tokens não fungíveis (NFTS) baseado na blockchain Solana.
Enquanto isso, o Departamento de Justiça dos EUA anunciou na quarta-feira (14) que Francisley Valdevino da Silva, conhecido como o “Sheik das Criptomoedas”, é alvo de acusações de lavagem de dinheiro e fraude no país, informou o jornal O Globo.
Silva, que foi preso no início de novembro em Curitiba pela Polícia Federal após descumprir medidas cautelares, é acusado de usar a empresa Forcount, depois rebatizada de Weltsys, para montar um esquema de pirâmide.
A gestora VanEck disse em suas previsões para o mercado cripto em 2023 que o Brasil pode ser pioneiro na tokenização de sua dívida soberana, segundo o InfoMoney. A empresa de investimentos também destacou que o Brasil será um dos países mais “cripto-friendly” do mundo no próximo ano.
Bitcoin hoje
O Bitcoin chegou a ultrapassar a marca de US$ 18 mil na quarta-feira, com a expectativa de um aumento mais moderado da taxa de juros nos EUA e dados que haviam mostrado desaceleração da inflação ao consumidor americano.
O Federal Reserve confirmou as expectativas e elevou a taxa básica em 0,5 ponto percentual, para um intervalo entre 4,25% e 4,5%. Mas Jerome Powell, presidente da instituição, avisou que o banco central americano ainda tem chão pela frente em sua campanha contra a inflação.
O que azedou o humor dos investidores foi a projeção de uma taxa terminal, ou seja, o pico dos juros no fim do atual ciclo de aperto, de 5,1%, acima das projeções anteriores do Fed e muito mais alta do que as estimativas do mercado.
Lucca Benedetti, analista do MB, destacou ao Valor Investe que o ciclo mais longo de aumento de juros tem um impacto negativo nos preços de ativos de risco, como criptomoedas e ações. “Nos próximos períodos, o Fed vê um crescimento marginal da economia norte-americana, mas não se descarta um cenário de recessão mais acentuada, o que provoca uma reação negativa dos mercados”, acrescentou.
Nesta quinta, o Banco Central Europeu e o Banco da Inglaterra devem seguir os passos do Fed e elevar suas taxas de juros em 0,5 ponto percentual.
Correlação com o cobre
Apesar dos riscos de recessão global, o comportamento do cobre tem indicado o contrário. O metal é visto como um termômetro da saúde da economia e entrou em território positivo no fim de novembro.
Análise do CoinDesk aponta que a correlação do Bitcoin com o cobre tem aumentado, o que seria positivo para investidores de longo prazo. Se um forte desempenho do cobre é um bom sinal para a economia, também seria para o Bitcoin, dizem analistas.
No entanto, Powell jogou um banho de água fria nas expectativas de cortes de juros já em 2023, o que fortaleceria o dólar diante da perspectiva de maior retorno para investidores. O Bitcoin costuma caminhar em direção oposta ao dólar. Por isso, resta saber qual será a rota escolhida pela maior criptomoeda do mundo.
Riscos de contágio
Um dos indicadores mais observados para medir a percepção de traders na plataforma de derivativos da Binance sinaliza maior ansiedade em relação às consequências do colapso de empresas da indústria cripto este ano, aponta a Bloomberg.
A média de sete dias do chamado interesse aberto para contratos futuros perpétuos de Bitcoin mostra queda de 40,3% desde o início de novembro, mostram dados da CryptoCompare. O interesse aberto é o número total de contratos futuros mantidos no fim da sessão.
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Essa cautela é confirmada em relatório do Citigroup: “Alavancagem, volatilidade e interesse diminuíram à medida que investidores enfrentam a queda dos preços”, escreveram analistas do Citi liderados por Joseph Ayoub, que também destacam uma menor demanda de investidores institucionais por cripto em meio à abalada confiança no setor.
Aposta contra Tether
Um dos focos de desconfiança é a Tether, maior stablecoin com US$ 66 bilhões em valor de mercado. Um grupo de fundos de hedge aposta na queda do preço da Tether que, na avaliação desses investidores, poderia ser a próxima a abalar o universo cripto.
Fir Tree Capital Management e Viceroy Research estão entre as empresas vendidas em Tether, disseram pessoas com conhecimento do assunto à Bloomberg. Esses fundos estão com posições vendidas em Tether há meses à espera de lucrar com a estratégia.
Um possível contágio da Tether pela quebra da FTX também preocupa investidores.
Sobre o assunto, um porta-voz da Tether Holdings disse que o pedido de recuperação judicial da FTX e de outras empresas “pode ser atribuída a negócios ruins, liderança ruim, administração ruim, empréstimos ruins e garantias ruins, nenhuma das quais tem nada a ver com a Tether”.
Investigações sobre FTX
Enquanto Sam Bankman-Fried, ou SBF, segue preso nas Bahamas, mais detalhes das investigações sobre o colapso da FTX vêm à tona.
Um executivo próximo ao fundador da FTX disse a reguladores das Bahamas nos dias anteriores ao pedido de recuperação judicial do grupo que SBF supostamente teria desviado dinheiro de clientes para a Alameda Research, o braço de investimentos da empresa, de acordo com o Financial Times.
Ryan Salame, codiretor-presidente da unidade operacional da FTX nas Bahamas, informou à comissão de valores mobiliários do país em 9 de novembro que os fundos de clientes da FTX haviam sido usados para cobrir perdas na Alameda, de acordo com registros do tribunal. Salame identificou Bankman-Fried e dois outros executivos da FTX como potencialmente responsáveis.
Além disso, a custodiante de ativos digitais BitGo se recusou a permitir que a Alameda Research trocasse US$ 50 milhões em WBTC, uma versão tokenizada do Bitcoin, dias antes da recuperação judicial, disse o CEO da BitGo, Mike Belshe, em conversa no Twitter Spaces.
Bankman-Fried também foi acusado pela Justiça das Bahamas de esconder US$ 300 milhões (cerca de R$ 1,6 bilhão) em uma empresa chamada Modulo Capital, registrada no país em maio deste ano.
Enquanto isso, segue a batalha de advogados que representam a FTX nos EUA contra autoridades das Bahamas, acusadas de “conluio” com SBF para transferir ativos para fora do território americano. Em meio à disputa, os responsáveis pelo processo de recuperação judicial da exchange nos EUA querem bloquear o acesso de advogados da FTX Digital Markets, operação do grupo nas Bahamas, aos sistemas da empresa. Um juiz federal vai decidir a questão em audiência em 6 de janeiro.
Audiência no Senado
Senadores nos EUA estão analisando mais de perto a Binance após o colapso da FTX. Em audiência realizada na quarta-feira (14), os parlamentares citaram com frequência a maior exchange do mundo, mas também expressaram preocupações mais amplas em relação ao setor de ativos digitais em geral, de acordo com o The Block.
Questões sobre lavagem de dinheiro, consequências de uma maior exposição do setor financeiro e o papel da Binance no colapso de sua rival surgiram durante a audiência.
“Quando você pensa em uma implosão semelhante da Binance, isso seria realmente catastrófico”, disse o senador republicano Bill Hagerty.
Para abordar práticas ilegais com cripto, a senadora democrata Elizabeth Warren e o senador republicano Roger Marshall apresentaram um projeto de lei para reprimir a lavagem de dinheiro e o financiamento de terroristas e nações desonestas por meio de criptomoedas.
Outros destaques
Produtores de crédito de carbono originados na Amazônia brasileira poderão comercializar direitos de emissão em um marketplace de ativos digitais próprio do tipo whitelabel, segundo o Valor. A tecnologia, que envolve a tokenização desses créditos, foi desenvolvida pela startup americana Betablocks, especializada em infraestrutura blockchain.
O MB, maior plataforma de ativos digitais da América Latina, foi o vencedor do ‘Prêmio Reclame Aqui 2022’ na categoria “Corretoras de Criptomoedas”, segundo publicação da organização. De acordo com os resultados, o MB obteve 43.601 votos públicos que, calculados com um fator multiplicador descrito como “Tabela de Peso”, resultaram na pontuação vencedora de 43.753 pontos.
O PayPal integrará seus serviços de compra, venda e custódia de criptomoedas com a MetaMask Wallet, à medida que as empresas buscam ampliar as opções dos usuários para transferir ativos digitais de suas plataformas, disseram as empresas na quarta-feira.