O mercado de criptomoedas novamente acompanha as bolsas dos EUA, que apontam uma abertura com perdas nesta quarta-feira (18). Nas últimas 24 horas, o Bitcoin recua 1,8%, para US$ 30.040, segundo dados do CoinGecko. Em sete dias, o BTC mostra queda de 3,2%. O Ethereum (ETH) perde 2%, cotado a US$ 2.045.
No Brasil, o Bitcoin opera em baixa de 4,4%, negociado a R$ 148.827, segundo o Índice do Portal do Bitcoin (IPB).
Ainda abalados pela turbulência na última semana com a crise no ecossistema Terra, investidores de criptomoedas voltam a olhar o cenário macroeconômico e o desempenho das bolsas dos EUA. Em evento promovido pelo Wall Street Journal, o presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, afirmou que o banco central americano está determinado a reduzir a inflação, atualmente no maior nível em 40 anos.
O vice-presidente do Banco da Inglaterra, Jon Cunliffe, disse na mesma conferência que as criptomoedas podem enfrentar mais obstáculos à frente em meio ao aperto da política monetária e maior demanda por ativos vistos como mais seguros. Para ele, a maioria dos investidores de varejo que apostaram em moedas digitais provavelmente não entende exatamente o que compraram ou os riscos envolvidos.
Em artigo no New York Times, o economista Paul Krugman também destacou a inexperiência de pequenos investidores de criptomoedas, com menos suporte para arcar com as perdas nos últimos meses.
E o mercado tem mais um fator de preocupação que provocaria mais volatilidade nas bolsas: o iminente default do Sri Lanka de US$ 12,6 bilhões em títulos internacionais pode respingar em outros países em desenvolvimento que enfrentam inflação crescente, destaca a Bloomberg.
Futuro das stablecoins
Com as perdas causadas pela TerraUSD, muitos no mercado se perguntam qual será a próxima criptomoeda a colapsar. Em entrevista à Forbes Brasil, Paolo Ardoino, diretor de tecnologia da empresa por trás da maior stablecoin do mercado, afirmou que não será a Tether (USDT). “Estamos confiantes de que podemos resgatar todos os US$ 75 bilhões”, disse em referência ao volume de Tether em circulação no mercado.
Pesquisa preliminar em andamento no fórum de pesquisa e governança da blockchain Terra indica que 90% dos quase 2 mil usuários que participaram da sondagem até o momento são contra a proposta de “hard fork”, que resultaria na criação de uma outra versão da rede e do token LUNA. O time do departamento jurídico da Terraform Labs pediu demissão logo após a turbulência causada pela perda de paridade da stablecoin, conforme o The Block.
A capitulação do token resultou em um dos maiores eventos de perdas dos últimos cinco anos, de acordo com análise da Glassnode, comparável aos períodos de liquidação em 2018, em março de 2020 com o surgimento da Covid e em maio de 2021.
‘Quarto ciclo’
Humberto Andrade, analista de trading do Mercado Bitcoin, observa que o colapso da criptomoeda Luna tem impactado as discussões sobre regulamentação de criptoativos nos Estados Unidos. “Isso se reflete diretamente nos dados on-chain [obtidos a partir do blockchain], no qual os indicadores de volume se mostram em patamares muito baixos, com redução de compra por parte dos investidores de longo prazo”, disse em artigo no Valor.
Curiosamente, um token de governança chamado MKR, usado para ajudar a operar a stablecoin descentralizada DAI, se valorizou cerca de 40% na última semana na esteira da crise da TerraUSD, aponta a Bloomberg.
Em seu primeiro relatório anual sobre as tendências da indústria cripto, a gigante de venture capital a16z destaca que o setor está no meio do “quarto ciclo de inovação de preço” e que, embora o mercado cripto possa ser “volátil e seus ciclos caóticos, há uma lógica subjacente em ação”.
Meme coins
Dogecoin, o token preferido de Elon Musk, é negociado com baixa de 1,2%. Na terça-feira, o CEO da Tesla afirmou que o acordo para comprar o Twitter por US$ 44 bilhões pode “não avançar” até que a rede social forneça mais informações sobre quantas contas falsas existem na plataforma.
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Os últimos sete dias foram turbulentos e com forte impacto para as chamadas moedas-meme. Mas enquanto Dogecoin e Shiba Inu acumulam perdas no período de 17,3% e de 23,7%, respectivamente, ApeCoin tem queda de 4%. Para Igor Rodrigues head de trading do Mercado Bitcoin, o token de governança da organização Yuga, que também será a moeda de troca nas negociações do metaverso “Otherside”, se destaca pelos casos de uso real, “com mais tecnologia e profissionais envolvidos que os tradicionais meme coins”.
Outras altcoins também são negociadas com perdas nesta quarta-feira como Binance Coin (-1,3%), XRP (-0,7%), Cardano (-3%), Solana (-3,4%), Polkadot (-6,4%) e Avalanche (-2,5%), segundo dados do CoinGecko.
Outros destaques
A Coinbase Global, maior corretora de criptomoedas dos EUA, decidiu desacelerar as contratações em meio à desvalorização das ações, cujo preço caiu 74% desde janeiro. No começo de 2022, a empresa havia anunciado triplicar a força de trabalho, conforme o Wall Street Journal.
A startup Arabyka, especializada em rastreabilidade via blockchain, implementou a tecnologia em um lote de café orgânico Minamihara exportado para o Japão, de acordo com a Forbes. A intermediação entre o produtor e a startup faz parte do trabalho do Cocriagro, hub de inovação com sede em Londrina.
A popularidade e o potencial econômico das criptomoedas devem estimular a integração dos bancos com o mercado de ativos digitais no futuro, na avaliação de Reinaldo Rabelo, CEO do Mercado Bitcoin. “Esse movimento que a gente observou, de anúncios do BTG Pactual, da XP e do Nubank oferecendo criptomoedas diretamente das suas plataformas e não por meio de fundos, já é uma indicação dessa integração”, afirmou Rabelo ao E-Investidor durante participação no Congresso Nacional de Executivos de Finanças, realizado em Fortaleza.
O CEO do Wells Fargo, Charlie Scharf, disse em evento do Wall Street Journal que algumas das tecnologias subjacentes das criptomoedas podem mudar a natureza de como os sistemas de pagamento e empréstimos funcionam.
Apostando na inovação, a MasterCard lançou um programa biométrico que permitirá a consumidores fazerem pagamentos apenas com um sorriso ou aceno de mão. A empresa diz que o objetivo é acelerar os pagamentos, mas o programa já causa polêmica, segundo o The Guardian. Em abril, a Mastercard lançou o primeiro cartão com limite em criptomoedas com a Nexo.
O futuro dos meios de pagamento, incluindo o papel do metaverso, será o tema da 4ª edição do “Payment View”, organizado pela IdeaD. O evento será realizado nesta quarta-feira (18) online e presencialmente no Learning Village, em São Paulo. Carlos Eduardo Brandt, chefe adjunto do Departamento de Competição e de Estrutura do Mercado Financeiro do Banco Central, fala às 12h20 sobre Pix e Open Finance. Clique aqui para mais informações.
Regulação, Cibersegurança e CBDCs
Investidores que colocam dinheiro em projetos que prometem retornos fixos muito acima do mercado devem estar cientes do risco, segundo avaliação do Superior Tribunal de Justiça. Em decisão publicada em 12 de maio, a corte negou um recurso a dois investidores que pediram reparação após terem sido lesados pela pirâmide financeira da Unick Forex.
A regulamentação dos criptoativos deve ser discutida em uma reunião dos ministros das Finanças do G7 nesta semana na Alemanha, de acordo com o presidente do banco central francês, François Villeroy de Galhau. “O que aconteceu
recentemente é um alerta para a necessidade urgente de regulamentação global”, disse Villeroy na terça-feira (17) durante conferência em Paris, em referência à onda vendedora nos mercados de criptoativos, segundo a Reuters.
Nos Países Baixos, reguladores querem proibir a negociação de derivativos de criptomoedas por investidores de varejo e permitir o acesso apenas a mercados no atacado, de acordo com o CoinDesk.
O governo de El Salvador começou a receber na segunda-feira (16) representantes de 44 países da África, Ásia e América Latina — 32 bancos centrais e de 12 autoridades financeiras — para debaterem criptomoedas e inclusão financeira na conferência ‘Serviços Financeiros Digitais e Financiamento para PMEs’. O evento, que termina na quinta-feira (19), pretende destacar os benefícios que o Bitcoin trouxe a El Salvador como moeda de curso legal.
A China voltou a responder por uma parcela significativa da mineração de Bitcoin, com 21,1% da chamada hashrate, apesar de a atividade ter sido formalmente banida no país em maio de 2021, de acordo com relatório do Cambridge Center for Alternative Finance. Mineradores dos EUA lideram o ranking, com 37,8%.