O balde de água fria jogado pela Tesla e o surgimento de novas empresas cripto contagiadas pela crise de liquidez pesam sobre o mercado de criptomoedas nesta quinta-feira (21).
Assim, após superar a marca de US$ 24 mil na quarta-feira (20), o Bitcoin (BTC) cai pela primeira vez em três dias, com baixa de 2,6% e cotado a US$ 22.957,38, segundo dados do CoinGecko. O Ethereum (ETH) recua 2,9%, para US$ 1.508,13. Em sete dias, a valorização do Ethereum é de 35,5%, enquanto o BTC sobe 13,5% no período, sua melhor semana desde março.
Em reais, o Bitcoin opera em queda de 1,2%, negociado a R$ 125.685,34, mostra o Índice do Portal do Bitcoin (IPB).
As principais altcoins também devolvem os ganhos nesta quinta, entre elas Binance Coin (-5,5%), XRP (-5,4%), Cardano (-8,6%), Solana (-9,9%), Dogecoin (-3,7%), Polkadot (-8,6%), Shiba Inu (-5,6%), Polygon (-11%) e Avalanche (-9,5%).
No cenário macro, a retomada do envio de gás da Rússia para a Europa trouxe um pouco de alívio aos investidores, que aguardam a decisão sobre a taxa de juros do Banco Central Europeu e reagem à renúncia do primeiro-ministro da Itália, Mario Draghi. No Brasil, cresce a expectativa de que o projeto de lei para a indústria cripto seja votado em agosto.
Projeto que regula as criptomoedas no Brasil
Em meio à volatilidade do mercado de criptoativos, investidores e players esperam regras mais claras. Segundo apurado pelo Cointelegraph, o projeto de lei que regula a indústria cripto no Brasil deve ser aprovado pela Câmara de Deputados em agosto. Fontes dizem que tanto o presidente da casa, o deputado federal Arthur Lira (PP-AL), quanto o líder do governo, o deputado Ricardo Barros (PP-PR), definiram que o tema é prioridade e deve ser votado com urgência.
Para Julien Dutra, diretor de Relações Governamentais na 2TM, holding que controla o MB, a possível aprovação do PL em agosto é uma boa notícia: “É uma oportunidade gigantesca para o Brasil estar à frente do mundo com uma legislação estratégica para este ambiente que chamamos de criptomoeconomia (…).”
Ainda segundo o Cointelegraph, entre as movimentações para análise do texto do projeto, a corretora Binance passou a integrar o Comitê de Criptomoedas e Blockchain da Câmara Brasileira da Economia Digital (camara-e.net). É uma entidade que reúne nomes de peso como Facebook, Nubank, Visa e Uber.
Efeito Tesla
O bilionário Elon Musk, acompanhado por investidores cripto por sua declarada preferência pela Dogecoin, voltou a mexer com o mercado. Desta vez por meio de sua montadora de carros elétricos Tesla, que vendeu 75% das reservas de Bitcoin em caixa acumuladas desde janeiro de 2021, quando investiu US$ 1,5 bilhão na criptomoeda.
As conversões em moeda fiduciária, efetuadas no fim do segundo trimestre, injetaram US$ 936 milhões no balanço da empresa, segundo comunicado. Com as vendas, as reservas de Bitcoin da Tesla agora somam US$ 218 milhões.
Fim da crise das criptomoedas?
A notícia atingiu o Bitcoin, que caiu de US$ 23.700 para cerca de US$ 23.000 logo após o anúncio da Tesla. Para Lucas Passarini, especialista em trading do MB, tudo indica que “esse rali do Bitcoin seja um movimento circunstancial”, pois ainda é muito cedo para declarar o fim do mercado baixista, disse ao Portal do Bitcoin.
“Os invernos cripto não duram um semestre, duram de um ano e meio a pouco mais de dois anos. Durante o inverno, é possível que tenhamos movimentos de alta. O Bitcoin, desde a sua máxima histórica, chegou a cair mais de 70%. Desde a mínima deste ano, subiu 35%. Isso mostra que o mercado não sobe nem cai em linha reta, ele forma padrões de queda e recuperação”, afirmou Passarini.
Ele relembra que ainda há muitos fatores de risco que precisam ser superados pelo Bitcoin, não apenas questões internas do ecossistema cripto mas, principalmente, do cenário macroeconômico.
Juros na Europa
Com essa perspectiva, o mercado acompanha nesta quinta (21) o resultado da reunião do BCE, que deve anunciar o primeiro aumento dos juros na zona do euro em mais de uma década. Duas fontes disseram à Reuters que a instituição pode surpreender com um aumento de 0,5 ponto percentual, embora o consenso seja de uma elevação de 0, 25 ponto.
Assim como em outros países, a economia da região sente o impacto da inflação, que disparou nos últimos meses em meio à guerra entre Rússia e Ucrânia, gargalos logísticos e forte demanda pós-pandemia.
Como consequência, o euro deu um mergulho e chegou a atingir a paridade com o dólar, normalmente visto como um ativo mais seguro em períodos turbulentos e beneficiado pelo ciclo de aperto monetário do Federal Reserve, que atuou antes do BCE para frear os preços.
Contágio
O contágio de outras plataformas cripto com problemas de liquidez também contribuiu para encurtar o rali da quarta-feira.
A corretora de criptomoedas Zipmex, que atua em vários países da região Ásia-Pacífico, incluindo Singapura e Tailândia, suspendeu o serviço de saques em sua plataforma. A empresa justificou a medida citando a volatilidade do mercado e dificuldades financeiras.
Em anúncio nesta quinta-feira (21) em sua página no Facebook, a Zipmex disse que estuda todas as opções disponíveis e planeja retomar os saques para algumas carteiras, informou o The Block.
Depois de travar saques, a Vauld, plataforma de crédito cripto que tem Peter Thiel e Coinbase Global entre os investidores, pediu proteção contra credores em Singapura. A empresa registrou o pedido em 8 de julho, confirmou um porta-voz ao Wall Street Journal. A Vauld diz que a medida dá “o espaço para respirar necessário” antes de sua reestruturação, segundo publicação recente.
A Coinbase, maior corretora cripto dos EUA, negou ter exposição financeira ao Three Arrows Capital, Celsius Network ou Voyager Digital. A exchange destaca que essas empresas tiveram “problemas específicos de crédito” por estarem muito alavancadas e sem controles de risco suficientes, e não relacionados aos criptoativos em si, afirmou em publicação na quarta-feira (20).
A exchange FTX, cofundada pelo bilionário Sam Bankman-Fried, está em negociações para captar fundos depois de injetar dinheiro em empresas do setor afetadas pela crise de liquidez. Tanto a FTX quanto seu braço FTX US estão buscando levantar recursos, disseram pessoas a par do assunto à Bloomberg.
Outros destaques
O primeiro mercado organizado de ações tokenizadas do país está pronto para ser lançado com taxa zero, conforme o InfoMoney. O projeto da fintech BEE4 replica a estrutura de uma bolsa de ações e foca em companhias “que ainda não têm a robustez necessária para fazer um IPO tradicional, mas que também não estão em estágio tão inicial”.
A startup de cashback e cupons de descontos Méliuz revelou o impacto da desvalorização das criptomoedas e do fim de um acordo de uma de suas unidades, a Bankly, com a maior corretora do setor, a Binance, segundo comunicado ao mercado publicado pelo O Globo. No segundo trimestre, o volume de operações financeiras da Bankly encolheu R$ 1 bilhão.
A 99Pay, carteira digital do aplicativo de mobilidade urbana 99, ampliou sua oferta de criptoativos, informou o jornal. Os usuários, que já tinham a opção de compra e venda de bitcoins, a partir deste mês também poderão negociar Ethereum, USDC, Solana e Mana, moeda utilizada para transações no metaverso.
A Bit2Me, maior exchange de criptomoedas espanhola, comprou uma participação majoritária na rival peruana Fluyez, segundo anúncio da empresa nesta quinta-feira (21). A compra da fatia de 85% somou mais de 1 milhão de euros, disse ao CoinDesk o diretor de operações da Bit2Me, Andrei Manuel, sem divulgar o valor exato.
Regulação, Cibersegurança e CBDCs
A venezuelana Mirelis Zerpa, mulher de Glaidson Acácio dos Santos, o “Faraó do Bitcoin”, teve pedido de soltura negado na terça-feira (19) pelo TRF-2 (Rio de Janeiro e Espírito Santo),segundo Lauro Jardim, colunista do jornal O Globo. Zerpa está foragida há praticamente um ano e foi incluída na “lista de difusão vermelha da Interpol, a pedido do Judiciário brasileiro”.
O colapso do ecossistema Terra desencadeou uma onda de investigações na Coreia do Sul, que agora respingam nas corretoras cripto. Autoridades sul-coreanas fizeram buscas nas sedes de diversas exchanges, incluindo a Upbit, líder do mercado local. A operação faz parte de uma investigação mais ampla que apura se houve fraude nos eventos que levaram à implosão das criptomoedas Luna e TerraUSD.
Reguladores do Reino Unido vão incluir regras para o uso de stablecoins como ferramentas de pagamento em uma nova lei de serviços e mercados, destinada a fortalecer o sistema financeiro no pós-Brexit, conforme o CoinDesk. De acordo com uma cópia da legislação publicada online, as regras existentes para sistemas bancários e de pagamento serão modificadas ou ampliadas para cobrir ativos digitais.
Nos EUA, reguladores seguem pelo mesmo caminho. Empresas que emitem stablecoins teriam que cumprir regulamentações semelhantes a bancos e apoiar seus tokens com ativos conservadores sob o plano mais recente para a legislação dos EUA, de acordo com uma pessoa a par das negociações. Um projeto para as stablecoins deve ser apresentado por deputados democratas na semana que vem, disseram fontes ao The Block.
Metaverso, Games e NFTs
A SkyBridge Capital, empresa de investimentos de Anthony Scaramucci, lançará um fundo para startups de Web3 e cripto a partir de setembro, disseram fontes ao Business Insider. Recentemente, a empresa suspendeu os saques em um de seus fundos, o Legion Strategies, devido ao impacto da desvalorização das criptomoedas e ações.
Huan He, o mercado de NFTs da Tencent, a maior empresa de internet da China, será fechado, segundo informações do jornalista Colin Wu. O motivo seriam as perdas do negócio, possivelmente devido à proibição imposta pelo governo chinês às transações de NFTs no mercado secundário.