A equipe do ministro da Economia, Paulo Guedes, teve duas baixas no dia de ontem, terça-feira (11), com os pedidos de demissão do Secretário Especial de Desestatização, Desinvestimento e Mercados, Salim Mattar, e do Secretário de Desburocratização, Gestão e Governo Digital, Paulo Uebel.
Em artigo publicado na manhã desta quarta-feira (12) no site Brazil Journal, Mattar explica as razões de sua debandada e reafirma que continua “apoiando a pauta econômica do ministro Paulo Guedes e também do governo Bolsonaro”.
Salim, que permaneceu no cargo por 19 meses, e afirma em seu texto que o governo possui uma lógica diferente da iniciativa privada e que procura defender o estado, enquanto ele acredita que o correto seria defender o cidadão: “Se no mundo dos negócios a orientação é mudar para melhorar, no governo é permanecer as coisas como são para manter do jeito que estão”.
Esse conflito entre a lógica governamental e a lógica privada teriam colocado o ex-secretário em uma posição “passageira”. Enquanto se esperava que os “de fora” (da política) pudessem promover mudanças “apenas incrementais”, ele buscava a transformação do Estado. ”Éramos vistos como novatos que não conheciam o governo e como as coisas funcionam”, escreveu.
Salim Mattar reforça que ele e os demais que vieram de fora da política tinham pouca receptividade e que eles eram passageiros no governo, enquanto os “membros do aparelho do Estado” se perpetuariam, assim a intenção era preservar o establishment.
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“Os liberais “de fora” que vieram para o governo cabem num micro-ônibus e são vistos como pessoas bem intencionadas, cheias de novas ideias, sonhadoras e inexperientes que querem mudar tudo. A tese liberal de reduzir o tamanho do estado para desonerar o cidadão é aplaudida mas pouco apoiada”.
O empresário critica ainda que a Secretaria de Desestatização que assumiu não tinha autoridade para execução e que os processos de desestatização seriam complexos e excessivamente burocráticos, envolvendo quinze agentes como o Presidente, o ministro setorial, o TCU e o BNDES. Assim, os processos se tornaram demasiadamente lentos, para além dos grupos da política e da sociedade contra a desestatização.
“Existem 46 estatais das quais 14 já estão encaminhadas para desestatização através do Programa de Parcerias de Investimentos – PPI e do Programa Nacional de Desestatização – PND. Estas empresas estão no BNDES, que possui o monopólio para a venda de qualquer empresa pública e, de acordo com o cronograma, sua desestatização acontecerá em 2021. Durante o Governo FHC, as estatais foram vendidas num prazo médio de 30 meses, mostrando as dificuldades do processo. Neste governo não será diferente”, disse o empresário.
Salim defende no texto a privatização e critica a não aprovação do Congresso, por exemplo da Medida Provisória 902, que acabava com o monopólio da Casa da Moeda para impressão de papel-moeda, o que seria o primeiro passo para a venda da estatal.
Argumenta ainda que as estatais sobreviventes são responsáveis por um rombo de R$ 190 bilhões nos últimos 10 anos. Segundo o ex-secretário, as iniciais 134 empresas estatais encontradas durante a transição de governo se tornaram 698 com suas subsidiárias e coligadas.
O empresário deixa claro que sempre teve o apoio do presidente Bolsonaro e também do ministro Paulo Guedes, mas conclui que a debandada foi motivada por uma simples análise de seu esforço em comparação aos resultados obtidos.