Imagem da matéria: Google, Microsoft e Facebook dizem que o metaverso será livre: devemos acreditar?
Mark Zuckerberg, CEO do Facebook, apresentando o futuro metaverso da Meta (Foto: Reprodução/YouTube)

Na terça-feira (21), um grupo de 35 empresas de tecnologia — entre elas gigantes como Meta (anteriormente conhecida como Facebook), Microsoft, Alibaba e Sony — anunciaram que serão membros-fundadores de uma organização chamada “Metaverse Standards Forum”.

O objetivo do fórum será fomentar a coordenação e cooperação entre centenas de empresas atualmente disputando para criar — ou dominar — o ainda nascente metaverso: Uma coleção imersiva de espaços digitais e mundos navegados via avatares 3D que muitos consideram como o futuro da internet.

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Essas gigantes da tecnologia afirmam ter se unido para definir padrões e criar um “metaverso aberto e inclusivo”. Mas há pessoas que afirmam que existem motivos para duvidar disso.

“Acredito que sempre devemos ser céticos”, explicou Danny Greene, diretor-geral de uma organização autônoma descentralizada (ou DAO, na sigla em inglês) do projeto Meebits, ao Decrypt. “Afinal de contas, estamos lutando por um futuro descentralizado e essas são corporações que representam acionistas.”

Vizinhanças digitais

Uma parte fundamental da afirmação do fórum em criar um metaverso aberto, incapaz de ser controlado por uma empresa, é uma palavra particular: interoperabilidade. Muitos consideram o metaverso como uma constelação de muitas “vizinhanças” digitais, em que cada uma é criada por uma empresa diferente.

Para que essas vizinhanças digitais sejam facilmente transitáveis, é necessário que ativos digitais de todos os tipos passem livremente, de forma interoperável, de uma vizinhança para a outra.

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Atingir a interoperabilidade seria um recurso técnico (pense transformação de um vestido digital, por exemplo, de um mundo 2D para um mundo 3D) mas, ainda assim, seria um recurso econômico e político.

Críticos das “big techs” temem que gigantes corporações que estão entrando para o metaverso tenham uma visão diferente para ele: Um em que uma empresa como a Meta mantém seus mercados digitais, dados e análises sob seu controle em um ambiente digital e isolado em vez de em vizinhanças sem muros.

Após a Meta ter mergulhado de cabeça no metaverso e mudado seu nome em 2021, desenvolvedores de metaverso, como Jeff Zirlin (ou Jiho), líder de crescimento da Sky Mavis, considerou o evento como a primeira tentativa em uma “batalha pelo futuro da internet”.

Apesar do ceticismo, Greene também expressou um otimismo cuidadoso sobre o Metaverse Standards Forum caso a Meta e essas outras empresas listadas em bolsa estejam sendo sinceras sobre seu comprometimento em cooperarem para a criação desses padrões de interoperabilidade.

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“À medida em que essas grandes corporações — que têm o dinheiro, o talento e o alcance para realmente propor ideias de metaverso — estão realmente assinando o compromisso da interoperabilidade, estou incrivelmente empolgado com a notícia”, afirmou Greene.

Colonialismo online

Porém, outros foram mais explícitos sobre seu cinismo. Yat Siu, fundador e presidente-executivo da Animoca Brands, empresa de software e capital de risco de US$ 5 bilhões responsável por inúmeros e grandes projetos de metaverso, anteriormente chamou as ambições de metaverso da Meta de “colonialismo digital”.

Em e-mail enviado ao Decrypt, ele considerou o Metaverse Standards Forum como um “tigre de papel” e o comparou à Liga das Nações, o órgão internacional criado após a Primeira Guerra Mundial para promover o multilateralismo e evitar outra catástrofe global, que rapidamente abriu caminho ao auge do fascismo e à Segunda Guerra Mundial.

Dentre as críticas de Siu ao pacto está a improbabilidade de que qualquer uma das corporações participantes realmente adote uma estrutura apermissionada, em que a propriedade de ativos não seja “bloqueada” por uma empresa e todos os dados permaneçam publicamente em uma blockchain.

“Isso é algo muito difícil de essas empresas fazerem”, disse Siu. “Empresas Web2 dependem do acesso exclusivo aos seus dados.”

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Siu acredita que o modelo de negócio de empresas como a Meta seja fundamentalmente incompatível com a noção de um metaverso descentralizado e aberto, em que usuários, seus dados e seus pertences digitais existem de forma independente a qualquer empresa, assim como as roupas que você veste não são pertencentes ou controladas por uma vizinhança pela qual você passa.

“Um metaverso aberto permite que haja um acesso apermissionado e acredito que a grande maioria dessas empresas não irá permitir isso no início”, explicou Siu.

A palavra “apermissionada” (do inglês “permissionless”), popular entre defensores Web3 de um metaverso aberto, não aparece nos documentos do fórum. A Meta não respondeu aos pedidos por comentário do Decrypt para este artigo.

Um dos principais projetos da Animoca é The Sandbox, uma enorme plataforma de metaverso que vendeu quase US$ 500 milhões em terrenos digitais até hoje, de acordo com dados da Dune Analytics.

O diretor operacional e cofundador da plataforma, Sebastien Borget, contou ao Decrypt que o Metaverse Standards Forum nunca chegou a consultá-lo antes do anúncio da última terça-feira. Siu e Greene também nunca foram contatados pelo fórum. Siu notou que, dentre os 35 membros-fundadores do fórum, “houve uma ausência notável de empresas blockchain e nativas à Web3”.

O comunicado sobre a fundação do fórum nota que qualquer organização é bem-vinda para se juntar a ele. Ainda não se sabe se empresas nativas à Web3 e devotas ao desenvolvimento de um metaverso aberto vão achar que a missão do fórum faça seu tempo valer a pena ou se é genuinamente consistente com seus objetivos.

*Traduzido por Daniela Pereira do Nascimento com autorização do Decrypt.co.

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