Finanças Descentralizadas (DeFi) podem ser consideradas como um bem público?

No setor cripto, principalmente em DeFi, essa distinção é bem menos clara
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(Foto: Shutterstock)

Uma das reflexões mais interessantes no mundo das criptomoedas — que é usada como um reduto da transparência e do código aberto — é se uma plataforma descentralizada se qualifica com um bem público.

Se é um bem público, então o serviço deve estar disponível a toda e qualquer pessoa. Além disso, o uso de tal serviço não o torna escasso para outras pessoas e, geralmente, um bem público é benéfico para todos. Exemplos incluem ar puro ou a internet.

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O oposto de um bem público é um bem privado: um pedaço de pizza de um restaurante italiano próximo à sua casa ou um ingresso para o cinema. Você precisa pagar por isso. Existem muitos pedaços de pizzas e ingressos para “Top Gun”.

Na indústria cripto, principalmente no setor de Finanças Descentralizadas (ou DeFi, na sigla em inglês), essa distinção é bem menos clara.

Lido decide não apoiar o Terra

Veja, por exemplo, a recente iniciativa do Lido Finance em não apoiar a nova blockchain do Terra.

“Após uma discussão sobre o lançamento do Lido na segunda versão do Terra , a Lido DAO votou CONTRA a reinicialização do Terra”, tuitou o projeto na quarta-feira (25).

Lido oferece um serviço de staking para diversas blockchains proof of stake (ou PoS), como Solana, Ethereum, Polygon e, anteriormente, Terra. Qualquer pessoa com uma conexão à internet pode usá-lo e as redes que se integram com o Lido também ganham mais stakers (e mais segurança).

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Neste momento, por exemplo, a plataforma promete juros entre 4% e 22,6% por staking com o serviço. Esses rendimentos também são pagos com os tokens nativos em staking, ou seja, você pode ganhar 4% em ether (ETH) do que em uma altcoin que está em queda.

A plataforma deslistou LUNA em meio à sua implosão e, agora, votou para não reintegrá-lo após sua reformulação.

Bloqueou acesso à sua plataforma — no caso, a comunidade Lido votou no bloqueio do relançamento.

Isso significa que Lido Finance é ou não é um bem público? A resposta depende de como você analisa a situação.

Quem se beneficia?

Grande parte dos bens públicos, como fontes de água e parques, são mantidos graças a impostos pagos pelos cidadãos. Mas podem ser aproveitados por todos — até por turistas de outros países. Você pode não ser um holder do token LIDO, o token nativo de governança do Lido, mas você com certeza pode utilizar seu serviço de staking. 

Então quem paga por Lido? Usuários, é claro.

A plataforma obtém 10% de suas recompensas por staking e as divide entre operadores de nós — como validadores no Solana e no Ethereum, que operam máquinas 24/7 para manter Lido funcionando —, a organização autônoma descentralizada (ou DAO) e o fundo de seguros do projeto.

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Agora, se esses turistas que aproveitam bens públicos quiserem que haja mudanças, então vão precisar ser expatriados. Em termos cripto, neste caso, significa adquirir tokens LDO e entrar para a DAO do projeto pois, embora qualquer pessoa possa entrar no debate informal sobre a votação do Terra, apenas holders de LDO podem votar via Snapshot.

Nesse sistema, você tem todos os componentes de um bem público: um serviço disponível para (quase) todo mundo que, sem dúvidas, serve a um bem maior (mantém a segurança de redes PoS) e é mantida por “impostos”.

Talvez cripto seja dinheiro privado, mas as economias da internet que gera pareçam bem mais com parques nacionais.

*Traduzido por Daniela Pereira do Nascimento com autorização do Decrypt.co.