O hard fork ‘London’ do Ethereum será ativado nesta quinta-feira (5) e junto com ele, está o EIP-1559 — uma Proposta de Melhoria do Ethereum que visa resolver os persistentes problemas da rede com as taxas de transação.
É uma mudança significativa para a rede do ETH que já está agitando o mercado. Mas como a atualização irá se desenrolar, e o que vem a seguir para os usuários do Ethereum?
O que é EIP-1559?
Em sua essência, o EIP-1559 visa tornar as taxas de transação do Ethereum menos voláteis e mais previsíveis, eliminando o problema do alto custo das taxas cobradas dos usuários. A melhoria também ajuda a reduzir a incerteza daqueles que não sabem se sua transação será aprovada por ter definido o gas a um preço abaixo do esperado.
O EIP-1559 não só ajudará a acelerar o tempo de espera por transação, mas também permitirá uma experiência mais eficiente para a comunidade global do Ethereum e de suas camadas de aplicativos descentralizados (dapps).
Como funciona?
A Proposta de Melhoria do Ethereum é baseada em dois elementos centrais. O primeiro é o BASEFEE — um preço mínimo de gas necessário para as transações, e um novo método de regular as taxas de transação, que aumentará quando o mercado estiver movimentado e diminuirá quando ele estiver calmo.
A diferença entre o sistema atual e esta nova versão é que os mineradores não definem mais as taxas; a rede usa um algoritmo, criando mais consistência em todo o ecossistema Ethereum. Além disso, os mineradores vão parar de receber as taxas de transação; em vez disso, elas serão queimadas, o que reduz o fornecimento de ETH e evita qualquer congestionamento deliberado na rede.
O EIP-1559 também introduz a “taxa de inclusão”, um sistema de gorjeta opcional que você adiciona à taxa básica para que os mineradores priorizem sua transação sobre as outras na rede. Efetivamente, a taxa de inclusão substitui as taxas de transação originais como uma fonte de renda para os mineradores.
O que acontece depois?
O EIP-1559 foi projetado para reduzir a volatilidade dos preços de gas, mas não garante taxas mais baratas — o Ethereum ainda só pode lidar com um número limitado de transações por vez. De acordo com o EIP-1559, as taxas baseadas no padrão mínimo só podem aumentar e diminuir em 1,125x por cada bloco, permitindo maior estabilidade e previsibilidade para transações de ETH.
Isso é importante porque a incerteza sobre os preços do gas tem historicamente limitado a escalabilidade e a adoção dos dapps baseados no Ethereum em favor de outros protocolos da concorrência. Dado que a rede já tem uma vantagem significativa de pioneirismo no estabelecimento de uma base para os desenvolvedores e um ecossistema dapp, o EIP-1559 poderia limitar ainda mais a popularidade dos “Ethereum killers”, como Polkadot, Dfinity e Solana, reduzindo seu apelo de taxas mais baixas e transações mais rápidas.
Neutralizando o fornecimento de Ethereum
Um dos principais pontos fortes do Bitcoin, de acordo com seus apoiadores, é seu suprimento limitado de 21 milhões de moedas. Isso contrasta com o Ethereum, cujo suprimento é tecnicamente ilimitado — pelo menos, até a chegada do hard fork London.
Atualmente, para cada novo bloco minerado de ETH, duas moedas adicionais são colocadas em circulação; isso dilui o valor do ETH conforme mais ativos se tornam disponíveis no mercado. A atual taxa de emissão anual de Ethereum é de cerca de 4%, enquanto a do Bitcoin fica em torno de 1,8%.
Com a introdução do EIP-1559, o novo aspecto da queima irá, por meio da programação subjacente, remover automaticamente as moedas de circulação após a emissão das novas, freando um aumento do número de tokens sem a introdução de um limite de oferta.
No futuro, durante os mercados de alta ou períodos de grande atividade da rede, a quantidade total de ether queimado por meio de pagamentos das taxas básicas, pode ser maior do que a quantidade de ETH recém-minerado por meio de recompensas em bloco. Isso poderia levar a um declínio gradual e consistente na oferta de Ethereum, fazendo com que a taxa de emissão anual caia de 4% para zero ou números negativos.
“É como uma empresa que obtém lucro e recompra ações”, disse ao Decrypt o Tim Ogilvie, CEO da Staked, uma empresa de serviços de infraestrutura baseada em Ethereum. A queima de bilhões de dólares em ETH pode aumentar o preço da criptomoeda, disse ele. “O efeito líquido é que as ações restantes aumentam de valor porque a oferta é menor”.
No entanto, os críticos argumentaram que a queima e o fornecimento contrabalanceado pode levar à instabilidade econômica em toda a rede, pois é difícil prever com precisão qual será a quantidade total de Ethereum criada ao longo do tempo.
Unindo o ecossistema
Embora a maioria das taxas da rede Ethereum sejam pagas atualmente com ether, não há nada que impeça os mineradores de aceitar outras moedas como pagamento. O incentivo para os usuários pagarem os mineradores em outra moeda que não ETH, é ter sua transação incluída no próximo bloco por um custo zero de gas — basicamente como uma porta dos fundos ou uma abordagem “por baixo da mesa” para evitar gastar qualquer coisa além do necessário.
Com o EIP-1559, isso muda: a taxa básica da rede deve ser paga com Ethereum para que as transações sejam processadas. Embora um minerador ainda possa aceitar uma moeda alternativa para priorizar a transação de um usuário, a taxa básica subjacente ainda precisa ser paga em ETH — pelo usuário ou pelo minerador — para que a transação entre num bloco de Ethereum.
Em última análise, isso fortalece ainda mais a utilidade do ether como um elemento vital na aprovação de transações na rede. O EIP-1559 também deve solidificar o papel da moeda como forma de pagamento ao usar recursos de computação ou interagir com o seu ecossistema mais amplo de dapps.
Em essência, o Ethereum está lentamente resolvendo as pontas soltas e preenchendo os buracos em seu ecossistema, da mesma forma que a Apple criou uma infraestrutura integrada e complementar para dispositivos iOS — permitindo controle e eficiência de ponta a ponta.
Riscos e recompensas
Mas nem tudo é fácil. Por um lado, como acontece com qualquer atualização técnica importante, o risco de bugs está sempre presente. Esses bugs também podem levar a comportamentos maliciosos de usuários que procuram explorar brechas ou vulnerabilidades no sistema.
Para combater os infratores, várias auditorias e análises do EIP-1559 foram financiadas por crowdfunding pela comunidade Ethereum para sinalizar quaisquer problemas potenciais. Além disso, a atualização é totalmente de código aberto. Com a combinação de testes simulados e suporte da comunidade, uma análise completa está sendo feita para garantir que não haja riscos pendentes durante ou após o lançamento.
Também existe a possibilidade de resistência por mineradores insatisfeitos. Após o lançamento do EIP-1559, os mineradores que atualizaram com antecedência para o software mais recente começarão a produzir blocos automaticamente sob as novas estruturas de taxas. Aqueles que não atualizarem, continuarão minerando a versão antiga do Ethereum.
Essas divisões são conhecidas como “hard fork contenciosos” e já ocorreram no passado. Em 2017, a rede do Bitcoin se dividiu porque foi bifurcada em uma atualização de escalabilidade conhecida como “Segwit”. O próprio Ethereum viu uma forte bifurcação levar à criação do Ethereum Classic em 2016.
No entanto, apesar de uma revolta inicial dos mineradores por causa da redução da receita, Slava Karpenko, o diretor de tecnologia do 2Miners, um pool de mineração de ETH, e outros mineradores, supostamente aceitaram a ativação do EIP-1559. O minerador Brian Lee que roda 11 GPUs em sua garagem na Califórnia, disse ao CoinDesk em junho que “todos nós aceitamos, estou bastante confiante de que vai dar tudo certo. É apenas uma questão de tempo”.
De olho no futuro
Uma coisa que o EIP-1559 não faz é mudar o fato de que, em sua forma atual, o Ethereum só pode lidar com um número limitado de transações por vez. A escalabilidade da rede tem sido uma prioridade para o criador do Ethereum, Vitalik Buterin, e é algo que a próxima atualização do Ethereum 2.0 visa avançar.
A nova versão vai fazer a rede abandonar o mecanismo de consenso de prova de trabalho (a mineração tradicional empregada também pelo Bitcoin) para um baseado na prova de participação. Além de consumir menos energia, o Ethereum 2.0 também permitirá que a rede deixe de processar apenas 30 transações por segundo para fazer até 100.000 transações por segundo, por meio da implementação de cadeias de shard.
O EIP-1559 continuará a ter um impacto após o ETH concluir a migração para a prova de participação. Isso porque a sua maior contribuição afeta amplamente como as taxas são determinadas no Ethereum, e não a escalabilidade da rede em termos do número de transações que ela pode processar.
*Traduzido e editado com autorização da Decrypt.co