A BWA Brasil, empresa que atuava em Santos suspeita de ser um esquema de pirâmide com bitcoin, pediu Recuperação Judicial e declarou ter uma dívida de R$ 295.412.252,63 milhões com quase duas mil pessoas.
O esquema emulava um banco de investimentos para grandes aportes e prometia rendimentos fixos mensais entre 3% e 5,2% ao mês, que seriam investidos em criptomoedas. Apenas convidados podiam entrar. Desde novembro de 2019, a suposta empresa deixou de pagar os clientes.
Semanas antes, o criador da BWA, Paulo Bilibio, já havia feito as malas e embarcado para Miami. Em agosto, ele havia sido vítima de um sequestro por policiais civis a mando de um investidor que se sentiu prejudicado.
Os principais alvos da empresa foram membros da elite da baixada santista. Só em Santos, onde havia uma sede, mais de 800 pessoas foram lesadas. Pela lista dos credores, boa parte reside em bairros nobres da cidade, como o Ponta da Praia. Há também investidores de São Paulo, capital, e até mesmo moradores do Leblon, região nobre do Rio de Janeiro.
Um deles, que pediu para não ser identificado, relatou ao Portal do Bitcoin a situação.
“A BWA prejudicou a economia de uma cidade inteira e levou muitos à falência”, disse.
Ele afirmou ter aportado R$ 100 mil na empresa mas acabou se deparando com um crédito em cerca de R$ 30 mil. Há aportes também no nome de empresas que chegam à casa de R$ 14 milhões.
Procurado, o advogado José Luis Macedo, que representa a BWA Brasil, não respondeu até a publicação desta reportagem.
Da confiança ao calote
As vítimas teriam sido iludidas com a falsa percepção de confiança. O homem que conversou com a reportagem disse que a sensação ao visitar a empresa era de estar colocando colocando o dinheiro no lugar certo.
Ele mencionou que isso não era apenas por causa da promessa de lucros mensais de 5% ao mês, mas do cenário criado em torno da BWA. A empresa estava localizada num escritório de luxo no melhor prédio comercial no bairro do Gonzaga, em Santos.
“Você entrava e pensava: esses caras são milionários. Estou colocando meu dinheiro no lugar certo. Foi tudo bem planejado”, afirmou.
Todo esse deslumbramento fez com que ele indicasse cunhado, nora e até a esposa. No total foram sete pessoas da família dele que injetaram dinheiro. “Temos mais de R$ 1 milhão no total lá”, revelou.
Depois da ilusão, a realidade
Quando os pagamentos pararam, em novembro do ano passado, a ilusão se desfez:
“A BWA colocou a culpa da falta de pagamento nos saques em massa feito pelos clientes. Foi quando eu percebi que era um esquema de pirâmide mesmo”.
A empresa então deu diversas desculpas e postergou os pagamentos em diversas ocasiões. Os donos deixaram de atender os clientes e até mesmo de circular pela cidade de Santos. O principal, Paulo Bilibio, saiu do Brasil e agora mora em um bairro de luxo em Miami.
Indicação de confiança
Outra vítima, que também não quis revelar a identidade, disse que nem o valor informado na lista está correto.
“Esse valor de R$ 427 mil é inferior ao que a gente tinha registrado na plataforma na última ocasião que estava disponível no sistema. Eu tenho até foto do saldo na BWA”.
Como é comum nesses casos, ele começou a investir por indicação de um parente que já havia aplicado dinheiro no negócio e vinha recebendo.
Histórico da empresa
Embora não figure no contrato social da empresa, Paulo Bilibio admitiu que era um dos donos da empresa em depoimento à polícia no ano passado. Em 2013, ele vendia produtos da Bbom, uma pirâmide financeira que lesou milhares de pessoas.
Ele criou a BWA junto com Marcos Aranha, que fez escola no esquema chamado UpEssências, que também foi investigado pelo Ministério Público. Jéssica da Silva Farias e Roberto Willens Ribeiro são os demais sócios, conforme os documentos da Junta Comercial.
De acordo com os dados da BWA Brasil fornecidos à Receita Federal, apesar de não ter entre os sócios nenhuma pessoa chamada Paulo Bilibio, consta o seu nome no endereço eletrônico da empresa.
Um outro detalhe curioso sobre essa relação societária é que, segundo o Whois, o domínio do site da BWA Brasil também pertence à Paulo Roberto Ramos Bilibio.
Antes de vir à tona a história do sequestro, a BWA Brasil atuava nas sombras. Era pouco divulgada no mercado e em seu site não havia qualquer informação sobre arbitragem ou qualquer coisa que remetesse a investimento com criptomoedas exceto por um número de telefone.
Atuando desde 2017, ela era direcionada para um seleto grupo de clientes convidados — por isso a suspeita de que tenha atingido parte da elite santista.