A Africrypt, plataforma de criptomoedas sul-africana cujos donos fugiram com os bitcoins dos clientes, não era uma corretora, mas sim um grande golpe. E indícios para isso não faltam.
O principal era a garantia de lucro mensal, promessa típica de pirâmides financeiras, a exemplo de Unick Forex, Genbit, Midas Trend etc. Os proprietários do esquema, os irmãos Raees Cajee, 20 anos, e Ameer Cajee, 17 anos, ofereciam aos clientes rendimentos de 3% a 11% ao mês em cima de aportes.
O valor variava de acordo com o tipo de carteira escolhida pelos vítimas, que poderia ser passiva, passivo-agressiva ou agressiva. O valor do golpe — de US$ 3,6 bilhões — foi divulgado por um escritório de advocacia que investiga o caso mas não pôde ser confirmado. Isso porque, em geral, esses ativos não existem de verdade, mas apenas nos sistemas das plataformas.
Um print dos falsos resultados alcançados pelos irmãos — divulgado no Twitter por um empresário de Joanesburgo, na África do Sul – dá a entender que a dupla não registrou perda em nenhum mês desde o início de 2019, ano em que eles lançaram a empresa. Gênios da renda variável?
Não. Essa suposta expertise, na verdade, também joga dúvidas sobre o negócio. Isso porque os irmãos não tinham experiência comprovada. No site da corretora, que foi retirado do ar, a biografia dos agora fugitivos dizia apenas que um deles – o Raees – se ‘apaixonou’ por criptomoedas aos oito anos enquanto assistia TV ao lado do pai.
Após isso, ele teria começado a minerar Ethereum e criado seu próprio programa de inteligência artificial sozinho, dois eventos que foram a semente para a criação da Africrypt. É um storytelling forte e com emoção, que apesar de ter sido capaz de fisgar a grana de milhares de clientes da África e de outros países, não é um atestado de conhecimento sobre o mercado.
Serviços que não dizem nada
Outro indicativo que o negócio pode ser uma fraude eram os serviços ofertados pela dupla, que não diziam nada com nada nas descrições, e pareciam ter sido copiadas de outros locais.
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Nas páginas, eles também usavam termos como ‘merchant banking’ e ‘deep learning’, mas não explicavam nada sobre como o serviço funcionava de fato. É uma tática conhecida atrair investidores inexperientes com serviços desconhecidos do público em geral.
Entenda o caso
A Africrypt foi criada há dois anos com a missão de ser uma “forma fácil de entrar no mundo das criptomoedas” e de levar liberdade financeira para a população do continente, segundo a descrição do app da empresa.
Em abril deste ano, a plataforma disse que havia sido vítima de um hack, que teria afetado os sistemas. Os irmãos pediram para os clientes não relatarem o incidente às autoridades, alegando que isso dificultaria a recuperação dos fundos perdidos.
Esquemas brasileiros, como a Binary Bit e o Projeto Rota 33, também sumidam com dinheiro de investidores e alegaram que foram vítimas de ataques virtuais.
Após o suposto hack, os irmãos transferiram os fundos dos investidores para um mixer de criptomoedas, serviço que permite a ocultação da origem dos ativos digitais.
O caso está sendo investigado pela Hawks, uma unidade de investigação da força policial nacional da África do Sul, além de escritórios de advocacias que representam as vítimas.