Antonio Neto Ais, o dono da Braiscompany – empresa que vem atrasando os pagamento de clientes desde dezembro do ano passado – não deu as caras publicamente do que vinha anunciando como o “Jogo das Estrelas”: uma pelada entre ele e o ex-craque Ronaldinho Gaúcho, que foi realizada na tarde deste sábado (4) na cidade de Limeira, no interior de São Paulo.
A participação de Ais no jogo havia sido destacada no cartaz da partida, onde ele aparece no mesmo tamanho que o ex-jogador pentacampeão do mundo. Os ingressos para o jogo entre “Seleção Ronaldinho Gaúcho” e “Seleção Braiscompany” custaram de R$ 60 a R$ 120, embora compras antecipadas desse direito a meia entrada.
O time que inicialmente havia sido apresentado como “Seleção Braiscompany” na divulgação do evento, inclusive, foi anunciado nos alto falantes do estádio Limeirão como “Seleção de Limeira” no início da partida, sem explicações para a súbita mudança no nome.
A ausência de Neto Ais gerou revolta de investidores da empresa nas redes sociais e deu origuem a uma série de especulações. “Não veio pro jogo? Certeza que ele, a mulher e os filhos já estão em Dubai”, disse um seguidor em um grupo da empresa no Telegram. “Nem esquenta a cabeça. Brais já era, Brais quebrou”, afirmou outro, em chat na transmissão da partida pelo YouTube.
A semana foi marcada por um período de baixa visibilidade do empresário, que já participou da divulgação de pelo menos três pirâmides financeiras. Antes um usuário assíduo das redes sociais, ele colocou uma única publicação neste sábado em sua conta no Instagram, sem relação com a partida. “O sucesso vem para aqueles que têm um compromisso inabalável de continuar assim até o fim”, afirma ao texto da postagem.
Antes desse post, a última publicação havia sido feita no dia 27 de janeiro, em meio a reclamações de clientes da empresa nos comentários. Nesse período, ele também deixou de comparecer a algumas lives que estavam programadas.
Braiscompany no campo de futebol
Anteriormente, Neto Ais já havia entrado em campo ao lado de Ronaldinho. Em outubro de 2022, ambos jogaram no mesmo time em uma partida e o dono da Braiscompany registrou em vídeo e foto no seu Instagram. O empresário, que já se envolveu no passado com três empresas que deram calotes nos clientes, é assíduo em realizar partidas de ex-jogadores. Suas redes sociais mostram ele jogando ao lado de craques como Romário, Falcão e D’Alessandro.
Além disso, Neto Ais tirou fotos com Messi e Neymar e as compartilhou ao longo da Copa do Mundo do Catar em 2022.
Por sua vez, Ronaldinho Gaúcho tem um longo histórico de envolvimento com empresas suspeitas, muitos delas envolvendo criptomoedas. Ele promoveu a plataforma Olymp Trade, banida pela CVM; fez propaganda da World Cup Inu (WCI), criptomoeda suspeita da Copa do Mundo; atuou na publicidade da pirâmide financeira LBLV. O ex-jogador também acabou se tornando réu numa ação coletiva contra a empresa 18k Ronaldinho.
Braiscompany atrasa pagamentos
A Braiscompany, que diz ter um negócio de “aluguel de criptoativos”, tem atrasado constantemente os pagamentos aos clientes desde dezembro, esquema acusado de ser pirâmide financeira por Tiago Reis, o CEO da Suno Research.
Segundo a empresa, teria sido o lançamento do Brais App, previsto para acontecer no dia 28 de dezembro, que causou o primeiro atraso dos pagamentos no dia 20 de dezembro.
O que chama atenção é o fato de que a Braiscompany não usa aplicativo ou um sistema interno para efetuar o pagamento dos clientes. Ao invés disso, envia os supostos lucros mensais diretamente para a carteira de bitcoin informada pelo usuário e mantida em corretoras de criptomoedas, como a Binance.
O aplicativo sequer foi lançado no dia previsto — embora a Braiscompany tenha feito uma grande festa para a ocasião, regada a champagne e atrações musicais — e segue fora do ar até hoje. Na confraternização, a empresa também anunciou a criação da sua própria criptomoeda, a Brais Token, cuja data de lançamento ainda não foi informada.
Culpa na Binance
Em uma live realizada no dia 9 de janeiro, Antonio Neto Ais, criador da Braiscompany, afirmou que os atrasos nos pagamentos que tem ocorrido junto aos clientes da empresa são culpa da corretora de criptomoedas Binance. Segundo o empresário, a corretora tem colocado travas em saques e liquidações da empresa.
“A Braiscompany vem sofrendo travas sistêmicas da Binance desde novembro. Quando tem um pedido de depósito, ela quer saber a origem do dinheiro, quer provas como prints de conversas. Isso vai contra tudo que defendemos de descentralização”, disse Neto Ais.
CVM recebe denúncia formal
As consequências parecem estar chegando para a Braiscompany. No dia 12 de janeiro, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) recebeu uma denúncia formal contra a empresa.
Na denúncia feita pelo escritório de advocacia Cardenas Torres Advocacia, a CVM é provocada a investigar a Braiscompany, sob o argumento que a empresa faz oferta irregular de valores mobiliários nas ofertas de contrato de investimento coletivo.
Ao cometer essa infração, a empresa estaria dentro do escopo de atuação da autarquia, mesmo que descreva seu serviço como “locação de criptoativos” com o “objetivo principal de afastar a competência da CVM”, segundo a denúncia assinada pelos advogados Pedro Torres e Hector Cardenas.
Quer fazer uma denúncia? Envie um e-mail para denuncia@prod.portaldobitcoin.com