O ambiente de jogos desenvolvidos em blockchain está se expandindo rapidamente além do auge dos tokens não fungíveis (ou NFTs, na sigla em inglês) e moedas internas de jogos.
Seu crescimento pode ser considerado como uma continuação de uma iteração de várias décadas por estratégias de monetização e modelos de negócio.
O auge de interesse mundial em videogames e NFTs em 2021 atua como uma grande catálise. Globalmente, o número de jogadores está rapidamente se aproximando de três bilhões, com uma taxa de crescimento anual composta (ou CAGR) projetada entre 5% e 7% para os próximos anos.
Enquanto isso, vendas de NFTs ultrapassaram US$ 15 bilhões pela primeira vez em 2021.
Na verdade, vendas secundárias de NFTs dos próprios jogos blockchain totalizaram cerca de 20% das vendas totais de NFTs, conforme dezenas de jogos menores geram receita de dezenas ou centenas de milhões de dólares.
Por fim, embora o metaverso continue vago, é evidente que jogos, em particular, têm uma forte presença nos mundos virtuais.
Jogos de mundos virtuais, como Decentraland e The Sandbox, geraram quase US$ 500 milhões em vendas cumulativas de NFTs (de terrenos virtuais e ativos do jogo).
Em 2021, vendas de NFTs de mundos virtuais passaram pelo maior crescimento, gerando mais de US$ 320 milhões em volume transacionado.
Conforme a compreensão global do metaverso vai sendo contextualizada, é provável que parte dessa nova experiência digital irá utilizar blockchains como uma peça fundamental de infraestrutura, o que é algo ainda mais provável de acontecer conforme a infraestrutura blockchain continua escalando para atender às demandas de desenvolvedores e consumidores.
Neste relatório, a Messari se aprofunda mais no crescimento de todas as três categorias: jogos globais, mercados NFT e jogos blockchain.
Apesar de a indústria ainda estar em seus primórdios, entender essas tendências irá ajudar a fornecer percepções sobre o que o futuro dos jogos pode nos reservar.
Introdução aos jogos blockchain
Assim como seus personagens fictícios, a indústria dos jogos continua evoluindo. A indústria está à beira de uma ruptura, onde, historicamente, descobriu inovações e as adaptou às demandas em constante mudança.
Tome como exemplo os modelos de negócios de jogos. Os primeiros jogos populares tinham um sistema “pay-to-play” (ou “pague para jogar”).
Lembramos desses jogos como máquinas de fliperama em shoppings ou discos de CD em computadores e, em seguida, downloads diretos em máquinas. A vantagem do “pay-to-play” era simples: pague apenas uma vez e continue jogando para sempre.
Após o “pay-to-play”, veio o modelo “freemium” – uma junção entre “free” (“gratuito”) e “premium” (“premium”) – dos jogos. Jogadores não precisam mais pagar para começarem a jogar nesta era.
Em vez disso, empresas lucraram com jogadores que pagavam para desbloquear elementos adicionais do jogo ou por vendas internas do jogo, como pacotes de expansão, assinaturas de plataformas e customização de personagens.
Para muitos, jogos freemium reduziram as barreiras de entrada dos jogos e essa migração ajudou a aumentar o número de jogadores pelo mundo.
Isso nos leva aos dias atuais, onde o início da próxima monetização de jogos está bem mais próximo: jogos blockchain. O setor de jogos blockchain ganhou outros nomes, como “GameFi” ou “play-to-earn”, indicando os novos modelos de monetização desta era.
Jogos blockchain geralmente incorporam NFTs ou outras formas de ativos tokenizados como conteúdos internos e negociáveis com criptomoedas (ou moedas fiduciárias) em mercados facilitados pela blockchain.
Além disso, essa estratégia principal de monetização acontece na forma de vendas de ativos tokenizados e subsequentes lucros de direitos autorais.
Estúdios e jogadores compartilham incentivos alinhados nesse novo modelo de negócios já que ambas as partes se beneficiam quando os ativos tokenizados do jogo se valorizam.
No cerne dessa revolução está a ideia de que jogadores devem possuir os conteúdos que ganham ou, pelo menos, ter mais propriedade nos mundos virtuais em que gastam uma porção significativa de seu tempo e dinheiro.
Isso cria duas vantagens imediatas: (1) a longevidade de ativos do jogo aumenta conforme esses ativos continuam a existir na carteira de seus donos mesmo após o jogo ter sido descontinuado e (2) tanto a interoperabilidade como a componibilidade de ativos (termos que descrevem sua portabilidade) permitem que interajam com outros jogos, aplicações ou blockchains.
A interoperabilidade entre diferentes blockchains permite que jogadores emprestem seus ativos internos, os transfiram para outra aplicação ou obtenham acesso a eventos no mundo real.
Além disso, blockchains têm o potencial de oferecer a jogadores a capacidade de comprar, vender, negociar e criar, de forma segura e eficiente, ativos de jogos com fiduciárias ou cripto na mesma aplicação; mercados secundários sombrios de jogos podem estar repletos de fraudes e muitos mercados emergentes não têm infraestrutura de pagamentos para que jogadores façam simples transações relacionadas a jogos.
Embora jogos blockchain possam ser uma nova fonte de monetização para estúdios de jogos, é importante alertar que a decisão de entrar para o mundo das blockchains é isenta de riscos.
O recente anúncio da Ubisoft Quartz, uma espécie de mercado NFT dentro do jogo, foi alvo de críticas por fãs, resultando na suspensão nos planos de incluir NFTs no novo jogo Ghost Recon Breakpoint.
Isso aconteceu após a popular comunidade de jogos no Discord rejeitar uma iniciativa parecida após sugerir uma integração com o Ethereum.
Os principais motivos por trás da rejeição da comunidade eram a sustentabilidade, a imprecisa proposta de valor e a predominância de “puxadas de tapete” (ou “rug pulls”), dentre outros.
Muitas (se não todas) dessas preocupações poderiam ter sido evitadas ou aliviadas com lançamentos mais deliberados e bem-pensados junto com a educação de mercado; a apresentação de fotos de perfil com NFTs pelo Twitter e a iniciativa da Adidas com NFTs demonstraram um futuro caminho encorajador que plataformas e detentores de propriedade intelectual podem seguir.
O mercado global de jogos
Jogos são uma das fontes mais populares de entretenimento e estão apenas se expandindo. Grandes franquias, como Fortnite e League of Legends, agora operam na arena global da cultura pop.
Fortnite, por exemplo, firmou parcerias com a Marvel Studios, “Star Wars” e “John Wick” na indústria cinematográfica; trabalhou com a cantora Ariana Grande, o jogador Neymar e outras celebridades influentes; e coordenou com marcas populares, como Balenciaga, Ferrari e Air Jordan.
League of Legends, por sua vez, realiza uma liga internacional que atrai milhões de fãs.
Histórias à parte, o mercado global de jogos não pode ser avaliado sem levar os dois últimos anos em consideração. Em 2020, quarentenas causadas pela covid-19 atuaram como uma forte catálise para a indústria.
Aqueles que já eram jogadores se viram com mais tempo para interagir com seus jogos preferidos. Enquanto isso, pessoas que não jogavam jogos se viram com tempo livre para experimentar novos “hobbies”.
Em consequência, a receita de jogos subiu 15% em 2020. Jogos para dispositivos móveis, PC e consoles cresceram absurdamente e dispositivos móveis, em particular, tiveram um crescimento anual de 26%.
Infelizmente, em 2021, empresas enfrentaram uma história diferente. Os abalos prologados da pandemia começaram a destacar efeitos inesperados de segunda ordem no mercado global de jogos.
Abalos à fabricação, ao transporte e a processos de logística prejudicaram o lançamento de consoles de última geração e hardwares de PC enfrentaram escassez de chips e atrasos em outros componentes avançados.
Apesar do contínuo interesse crescente nos jogos em 2020, tanto os segmentos de PC como de consoles tiveram poucas quedas em comparação a 2020 e dispositivos móveis foram a única categoria a passar por um crescimento devido a esses abalos na cadeia de suprimentos e difíceis elementos de comparação.
Previsões esperam que a indústria de jogos volte aos níveis de crescimento anteriores quando os efeitos da covid-19 diminuírem. Previsões estimam que a indústria atinja US$ 269 milhões até 2025 – um aumento de 53% dos números recentes.
No próximo período de três anos, se alinham com o crescimento de 15% na CAGR, direcionado por contínuas mudanças no comportamento pós-pandêmico de consumidores e novos modelos de monetização de esports em streaming e profissionais.
Enquanto isso, a previsão é que o número total de jogadores pelo mundo atinja abaixo da marca de três bilhões, em que 55% estão na região Ásia-Pacífico.
Os principais direcionadores para uma base de usuários ainda maior continuam sendo uma ampla população de internet, uma melhor infraestrutura de redes e simplificada acessibilidade a smartphones.
Os três direcionadores destacados acima serão dignos de crédito a curto prazo mas, conforme mais partes do mundo ficam on-line em regiões como o Oriente Médio, África e América Latina e o crescimento de usuários desacelera, explorar novas aventuras para aumentar participantes será do interesse de muitas empresas.
Jogos blockchain e seus modelos de monetização baseados em tokens apresentam uma oportunidade única para que desenvolvedores de jogos gerem mais receita no jogo por consumidor, ampliem sua base de consumidores e explorem novas fontes de receita.
Tokens não fungíveis estão virando o jogo
NFTs atuam como um primitivo principal para ativos blockchain e como uma proposta fundamental de valor de diversos jogos blockchain.
Em jogos blockchain, NFTs fornecem vários benefícios a jogos, incluindo a propriedade de ativos, a programabilidade de ativos e abrem novas oportunidades de incentivo e inovação.
Propriedade de ativos
Em jogos tradicionais, ativos são controlados e pertencentes à desenvolvedora do jogo e alugada a jogadores.
Para fins de comparação, em jogos blockchain, jogadores retêm propriedade genuína sobre seus ativos digitais, sejam moedas do jogo ou ativos mais exclusivos, como skins, nomes de usuário, terrenos do jogo ou outros ativos.
Programabilidade de ativos
Já que NFTs são, basicamente, softwares em redes blockchain, esses ativos podem ser programados para terem qualidades diversas ou criar utilidade no jogo.
NFTs podem ser criados com conteúdos de uso único e desbloqueáveis, emitidos para jogadores que atingirem um certo status, ou programados com inúmeros outros casos de uso exclusivos.
Incentivo e inovação
Desenvolvedores de jogos já estão entre os maiores especialistas quando o assunto é incentivo.
NFTs oferecem uma camada extra de incentivos econômicos ao permitir que jogadores ganhem ativos de geração de rendimentos, misturem ativos de jogos com um verdadeiro valor financeiro e desenvolvam uma economia de jogo mais robusta por meio de moedas internas do jogo e mercados NFT.
Já que redes blockchain são apermissionadas (qualquer pessoa pode participar), abrem as portas para a inovação de desenvolvedores.
Com NFTs, uma única categoria de ativos pode ser automaticamente licenciada para outras empresas ou alavancada em outros jogos. Sorare, o jogo de fantasia de futebol NFT, licenciou o uso de NFTs com outras desenvolvedoras de jogo, como a Ubisoft.
Por fim, NFTs também possibilitam novas formas de monetização. Por exemplo, NFTs emitidos por empresas podem ganhar royalties por todas as vendas secundárias, produzindo uma nova fonte de receita para emissores de ativos digitais.
Empresas podem escolher a integração vertical de seus próprios mercados e atividades ou operarem com plataformas como o OpenSea.
O crescimento dos NFTs: analisando o mercado secundário
Em 2021, o total de vendas secundárias de NFTs ultrapassou US$ 15 bilhões entre diversas redes blockchain. Como plataforma, o Ethereum lidera vendas de NFTs.
No entanto, mais altos custos de transação na rede pavimentaram o caminho para novos blockchains e soluções de segunda camada, como Solana, Ronin, ImmutableX, Polygon e mais.
Cada blockchain ou solução de segunda camada tem suas próprias vantagens e desvantagens, incluindo escalabilidade, infraestrutura existente, usuários, segurança, dentre outras.
Existe uma variedade de desenvolvedores de jogos que criam em diferentes blockchains por diferentes motivos.
Jogos que exigem uma maior escalabilidade podem optar por blockchains, como Solana, enquanto desenvolvedores de jogos que querem usar os existentes efeitos de rede do Ethereum podem escolher Polygon, ImmutableX ou outra solução de escalabilidade para a blockchain.
Agosto foi o mês de maior auge na atividade mensal em 2021, com mais de US$ 4,5 bilhões em vendas secundárias de NFTs.
Apesar de os últimos meses de 2021 terem ficado para trás em comparação ao auge, é importante perceber que o mercado secundário de NFTs ainda é múltiplas vezes maior do que era no início de 2021.
Com um crescente número de aplicações e mercados que integram diversas formas de tokens, incluindo NFTs, o mercado secundário de NFTs estará pronto para testar novamente o nível de interação registrado em agosto de 2021.
Perceba que esses gráficos representam vendas secundárias, ou seja, a venda de uma pessoa para outra. Portanto, esses dados excluem a venda inicial de NFTs da empresa de jogos ao primeiro comprador, que pode produzir receitas significativas.
Vendas secundárias são uma métrica útil para medir a saúde tanto do mercado NFT como um todo como de um jogo específico.
Uma alta nas vendas secundárias pode ser traduzida para uma economia de jogo mais robusta e, já que coleções de NFTs geralmente concedem direitos autorais à empresa a cada venda, um mercado secundário saudável também pode corresponder diretamente à receita crescente do emissor do NFT.
Dados mostram que Axie Infinity é o grande líder em vendas secundárias de NFTs e a grande maioria acontece em sua sidechain (blockchain paralela) Ronin.
Mais recentemente, ParallelAlpha, outro jogo de estratégia com cards, cresceu nos últimos meses, em parte devido ao seu passado intrigante de ficção científica e propriedade intelectual.
Ao todo, existem diversos jogos bem-sucedidos com mais de US$ 100 milhões em vendas secundárias entre diversas redes blockchain, demonstrando que ainda não existe um consenso evidente sobre qual plataforma é mais adequada para jogos blockchain.
Também é importante mencionar o fato de que grande parte dos jogos blockchain mais bem-sucedidos atualmente são predominantemente jogos de cards em comparação à existente indústria de jogos, que favorece jogos “sandbox” (de livre exploração pelo mapa do jogo), jogos de interpretação de personagens on-line e multiplayer em massa (ou MMORPG) e jogos com experiências de jogabilidade mais robustas.
Atualmente, jogos blockchain não estão em um estágio de desenvolvimento em que possam apoiar complexos primitivos de jogabilidade e econômicos, como NFTs, em grande escala.
No entanto, ao longo do tempo, avanços na tecnologia blockchain e experiências de usuários, incluindo melhorias a serem lançadas no próximo ano, vão abrir as portas para jogos mais funcionais que operam em redes blockchain.
O setor de jogos blockchain
Conforme o setor de jogos blockchain ganha força, a infraestrutura de jogos também evoluiu rapidamente e, agora, é composta por um ecossistema de estúdios, jogos e peças-chave de infraestrutura.
Vamos analisar as diversas camadas do setor de jogos blockchain.
“Guilds”
“Guilds” (ou “alianças”) não são algo novo no setor de jogos blockchain. Esses grupos sociais foram utilizados em jogos RPGs há décadas.
Porém, a combinação de organizações autônomas descentralizadas (ou DAOs) – entidades formadas por comunidades organizadas em torno de um conjunto de regras implementadas em um blockchain, geralmente sem uma estrutura central de liderança – e jogos permite que esses “guilds” ingerem e aloquem capital, criando novos modelos para a financeirização de jogos e aquisição de usuários.
Guilds bem capitalizados, como Yield Guild Games, GuildFi e Merit Circle, patrocinaram (delegaram ativos em troca de parte das recompensas do jogo) centenas de jogadores para jogos, como Axie Infinity.
Jogos blockchain
A maior camada do setor de jogos blockchain são os jogos em si. Até agora, existe uma variedade de tipos de jogos.
Algumas das categorias de maior sucesso incluem jogos de negociação de cards (como Axie Infinity), MMORPGs (como DeFi Kingdoms), mundos virtuais (como The Sandbox) e jogos de esportes (Sorare).
Conforme o setor de jogos evolui, jogos superpopulares vão surgir de cada setor. No entanto, muitos jogos ainda estão sob desenvolvimento e podem levar meses até serem finalizados.
“Marketplaces”
Conforme jogos emitem ativos como NFTs, mercados gerais, como OpenSea, oferecem acesso, bem como mercados específicos a alguns blockchains, como Metaplex, VIVE e Magic Eden, que facilitam transações.
Além disso, algumas partes de infraestrutura de jogos, como Enjin, oferecem seus próprios mercados para jogos desenvolvidos por kits de desenvolvimento de software (ou SDK) do Enjin.
“Launchpads”
“Launchpads” (ou “plataformas de lançamento”) ajudam novatos desenvolvedores de jogos a arrecadarem capital para o desenvolvimento de jogos.
Geralmente, essas plataformas arrecadam capital para um ecossistema específico de jogo (como Polkastarter para o Polkadot ou Magic Eden para o Solana).
Geralmente, launchpads permitem o financiamento ou por meio de uma oferta inicial de corretora descentralizada (ou IDO) ou um pool de inicialização de liquidez (ou LBP) – cada uma permite a venda inicial de tokens.
Infraestruturas para o desenvolvimento de jogos
A infraestrutura para o desenvolvimento de jogos, como Forte e Enjin, geralmente têm interfaces para a programação de aplicações (ou APIs) e SDKs que permitem que desenvolvedores de jogos rapidamente integrem NFTs ou outras atividades criptoeconômicas.
Desenvolver, do zero, toda a infraestrutura blockchain necessária para um jogo pode ser difícil e demorado para desenvolvedores de jogos.
Desenvolvedores de jogos blockchain alavancam ferramentas existentes de contratos autônomos e infraestruturas de carteira (como Stardust, Enjin e Forte) que fornecem suporte a componentes modulares, como carteiras, emissão de ativos, pagamentos e outros recursos fundacionais.
Infraestruturas de segunda camada
O mercado de alta (ou “bull market”) dos NFTs em 2021 resultou em mais investimentos de soluções de segunda camada no ecossistema de jogos.
Axie Infinity optou pela integração vertical, desenvolvendo sua própria sidechain Ronin e sua própria corretora descentralizada (ou DEX) Katana.
Outras plataformas de desenvolvimento de jogos, como Enjin, decidiram a integração horizontal, garantindo um leilão de “parachains” (blockchains que operam paralelamente à blockchain principal) da Polkadot para Efinity.
Ainda assim, muitos desenvolvedores de jogos existentes estão comprometidos em trabalhar com os existentes efeitos de rede do Ethereum, alavancando Starkware (responsável por Sorare), ImmutableX (Gods Unchained), Polygon (Zed Run) e outras para suas necessidades de escalabilidade.
Infraestruturas de primeira camada
A infraestrutura de primeira camada atua como a base central de diversos protocolos e aplicações.
Embora alguns jogos estão sendo desenvolvidos em blockchains de altíssimo processamento, como Solana e Flow, grande parte dos jogos do Ethereum migrou para soluções de segunda camada.
A importância das redes de primeira camada se dá em outros protocolos componíveis que jogos irão alavancar, incluindo guilds, protocolos de financeirização (como a NFTX), soluções de identidade (como ENS), marketplaces e outros serviços e aplicações.
Estúdios de jogos
Estúdios estão na camada base do setor pois, geralmente, são desenvolvedoras de jogos, bem como infraestruturas de primeira e segunda camadas.
Dapper, Sky Mavis e Animoca Brands estão entre as desenvolvedoras de jogos mais bem-capitalizadas com centenas de milhões de capital. No futuro, nem todos os estúdios de jogos vão sobreviver.
No entanto, aqueles que desenvolvedores os próximos jogos mais populares terão o potencial de se tornarem a próxima Electronic Arts do futuro.
Jogos blockchain atraem interesse
O primeiro jogo blockchain foi criado no fim de 2017, mas foi apenas durante a recente febre dos NFTs que o subsetor encontrou um engajamento significativo de usuários.
Com a popularidade de jogos, como Axie Infinity, e colecionáveis de jogos, como NBA Top Shot, jogos blockchain agora estão à beira da ampla adesão.
Métricas de usuários e financiamento
Apesar de jogadores blockchain comporem uma pequena porcentagem dos três bilhões de jogadores globais, dados recentes do site DappRadar mostram que outubro de 2021 foi o primeiro mês em que mais de um milhão de carteiras ativas diárias interagiram com aplicações descentralizadas (ou dapps) de jogos.
Esse número reflete um aumento de quase 300% de quatro meses antes, quando a mesma métrica demonstrava apenas 350 mil interações de carteiras.
O número único mensal de compradores de NFTs de jogos blockchain também está aumentando. Até hoje, grande parte dos jogos blockchain exigem que uma pessoa tenha NFTs, o que apresenta um fardo inicial de capital a jogadores, como se tivessem de comprar um console.
Embora esse modelo continue sendo o mais popular, é provável que mais jogos experimentem modelos “free-to-play” (ou “gratuitos para jogar”) no futuro.
Acompanhando o financiamento
Diferente de carteiras como um referencial de adesão, outra métrica importante a ser rastreada é o financiamento de risco.
Investimentos de capital refletem muitas coisas: o interesse na indústria; a certo ponto, as ambições de fundadores no setor; a um nível maior, os recursos disponíveis àqueles que desafiam a situação atual.
Vale a pena analisar como o ambiente de financiamento mudou no último ano.
Não é surpreendente que os números continuem destacando o crescimento deste subsetor. O financiamento de risco total entre franquias de jogos e infraestruturas aumentou mais de cem vezes em comparação a 2020.
A alta ainda representa um pequeno aumento de 40 vezes do financiamento em 2018, o ano em que o financiamento havia atingido um auge antes de 2021.
Em 2021, o financiamento de risco teve um contraste gritante aos anos anteriores, em que múltiplas empresas arrecadaram rodadas de financiamento maiores do que a soma de todos os anos anteriores juntos.
Exemplos incluem Forte, uma plataforma de desenvolvimento de jogos blockchain de ponta a ponta que firma parceria com diversos estúdios de jogos.
Talvez o que seja mais evidente nesses dados é a variedade de produtos e serviços nessa lista: tanto estúdios como infraestrutura/ferramental são representados, sem mencionar outros componentes do setor de jogos, incluindo mercados NFT e diversas blockchains de primeira e segunda camadas.
Além das quantias arrecadadas, a origem do financiamento também mudou no último ano. Fundos de capital de risco específicos de cripto não eram os únicos presentes.
No último ano, aqueles que fizeram investimentos no setor agora incluem fundos tradicionais de tecnologia, como Sequoia Capital, Andreessen-Horowitz (a16z) e Lightspeed Partners, bem como fundos de hedge bem-conhecidos no setor de investimentos de crescimento, como Tiger Global e Coatue Management.
No futuro, essa triarquia de participantes (principalmente os mais recentes) deve continuar injetando novo capital ao ecossistema.
Iniciativas de desenvolvedores
Além disso, um estudo recente com 157 desenvolvedores nos Estados Unidos e no Reino Unido descobriram que 72% dos respondentes consideraram a integração da tecnologia blockchain em seus jogos enquanto 58% têm planos de fazê-lo nos próximos 12 meses.
Enquanto isso, 47% dos participantes já estão usando NFTs em seus jogos, destacando um interesse considerável por parte dos desenvolvedores.
Embora desenvolvedoras vejam uma oportunidade de criar novos conteúdos, deve-se reiterar que a tecnologia por trás de tais jogos ainda é nascente.
Além disso, atuais desafios das blockchains, como custos de transação, velocidade de processamento e escalabilidade geral, limitam a jogabilidade para jogos de partidas e de coleção de cards em vez dos jogos “live action” e de gráficos em 3D lançados por estúdios de alto orçamento.
Casos de estudo para jogos blockchain
Nesta seção, são analisados o crescimento de três grandes jogos blockchain, de seus modelos e o que significam para o ecossistema de jogos blockchain.
Axie Infinity
Bastante reconhecido como o jogo mais popular até hoje, Axie Infinity facilitou US$ 4 bilhões em volume cumulativo em seu mercado NFT. A premissa do jogo é parecida com a do Pokémon.
Jogadores possuem ou criem campeões Axie, representados como personagens NFT negociáveis, que ou completam níveis de aventura ou batalham com seus oponentes ou outros humanos no reino do Axie Infinity.
Batalhas ou conquistas bem-sucedidas resultam em recompensas do jogo, que podem ser trocadas por moedas de verdade. Axie Infinity gerou a adesão global do modelo “play-to-earn”.
Estima-se que 40% dos jogadores totais são apenas das Filipinas, onde jogadores podem ganhar até US$ 500 por mês com o jogo. O jogo gira em torno de dois tokens cripto:
Smooth Love Potions (SLP)
SLP são amplamente usados para propósitos práticas do jogo e garantem a holders a capacidade de criar novos campeões Axie.
O processo consiste na queima de tokens SLP para criar uma nova criatura Axie. Tokens SLP podem ser obtidos por meio de jogos comuns, comprados em mercados secundários ou pelo engajamento com ofertas promocionais.
Axie Infinity Shard (AXS)
AXS são os tokens de governança da comunidade Axie Infinity. Quem possuir AXS pode colocar o token em staking na rede para obter retornos. Esses tokens também são usados como moedas no mercado NFT no jogo.
Axie Infinity gera sua receita de protocolo de diversos mecanismos de taxa. O primeiro mecanismo são as taxas de mercado obtidas como uma porcentagem das vendas facilitadas pelo mercado NFT.
A outra fonte de receita principal são as taxas de criação pagas por jogadores para criarem novas criaturas Axie no jogo. Duas fontes menores de receita incluem taxas obtidas por vendas em terrenos do jogo e a venda original de criaturas Axie de primeira geração.
Em suma, o protocolo obteve mais de US$ 1,3 bilhão em receita dessas quatro vendas, em que grande parte aconteceu após junho de 2021.
Esse momento coincide com o lançamento da rede Ronin pela Sky Mavis, que ajudou a diminuir os custos de transação para seus usuários e impulsionou a popularidade do jogo.
A segmentação de receita parece apoiar essa conclusão. Mais de 99% da receita cumulativa total é derivada da atividade na rede Ronin.
O Ethereum compõe meros 0,19% do US$ 1,3 bilhão enquanto inclui a receita obtida pela venda de terrenos e de Axies de primeira geração, pois ambos não estão disponíveis na rede Ronin.
Além disso, os mais de 99% receita do Ronin é outro indicador da incrível atividade apenas pelas taxas de criação e de mercados.
O gráfico abaixo demonstra quanto de crescimento aconteceu no segundo semestre do ano. Surpreendentemente, a receita começou a cair nas últimas semanas de 2021.
Possíveis explicações incluem o recente caos do Tufão Rai nas Filipinas (onde 40% dos usuários totais residem) ou a mudança de interesse para jogos blockchain com nova jogabilidade.
Apesar de a capitalização circulante de mercado do Axie Infinity ter caído nas últimas semanas conforme o crescimento de receita diminuiu, um difícil índice de referência ainda compara o jogo com muitos estúdios tradicionais de jogos.
Essa metodologia compara um único jogo (Axie Infinity) com estúdios que têm diversas franquias – demonstrando quão grande esse único jogo blockchain se tornou.
Axie Infinity perde para grandes participantes da indústria, como Nintendo, Activision Blizzard e Electronic Arts (com enormes estúdios de jogos), mas está mais próximo de muitas outras.
No gráfico abaixo, Axie Infinity possui uma capitalização de mercado parecida com a da Ubisoft, a criadora de jogos famosos, como Assassin’s Creed e a série Tom Clancy.
Sorare
Assim como muitos esportes de fantasia, Sorare oferece aos jogadores a oportunidade de misturar esportes do mundo real com jogos digitais mas, dessa vez, com a inclusão da tecnologia blockchain. Pense no Fifa Ultimate Team com cards NFT como colecionáveis.
Até agora, a jogabilidade do Sorare está limitada ao futebol como o esporte escolhido, apesar de a empresa ter arrecadado US$ 680 milhões em setembro para apoiar sua expansão contínua.
Sorare rastreia estatísticas de futebol do mundo real, recompensando jogadores que têm cards NFT com atletas de alto desempenho. A natureza do jogo atrai um grande público de fãs do futebol.
Conforme demonstrado acima, jogadores de primeira viagem de NFTs do Sorare dispararam no segundo semestre de 2021. O total de compradores mensais únicos de NFTs do sorare ultrapassou 20 mil pela primeira vez em dezembro de 2021.
Dados apresentados aqui devem ser observados sob uma queda em que, diferente do Axie Infinity, jogadores não precisam adquirir NFTs para começarem a jogar. Isso provavelmente indica que o número total de jogadores do Sorare excede aqueles que fazem aquisições NFT.
Sorare é o único dentre os casos de uso mais bem-sucedidos até hoje de NFTs que se fundem com a cultura.
A participação de ligas influentes de futebol, incluindo as mais populares do mundo, como a Premier League inglesa, a La Liga espanhola e a Champions League europeia, bem como sua disposição em emprestar sua marca a um jogo blockchain, o tornam em um precursor para futuros jogos.
DeFi Kingdoms
O jogo blockchain DeFi Kingdoms é semelhante ao clássico jogo de internet Runescape. Jogadores dessa época podem se sentir nostálgicos conforme personagens virtuais interagem entre si em um mundo retrô de arte em pixel.
Diferente de Axie Infinity ou Sorare, a jogabilidade do DeFi Kingdoms não gira em torno da coleção e batalha com cards. Em vez disso, o jogo incorpora heróis, missões, profissões e uma variedade de atividades práticas, como mineração, jardinagem, agropecuária e pesca.
O roteiro de desenvolvimento (ou “roadmap”) do jogo é bastante ambicioso. Futuras atualizações permitirão que Heróis entrem para guilds, interajam em batalhas de ponto a ponto, tenham animais de estimação e mais.
Fazer com que heróis participem dessas diversas tarefas impulsiona a probabilidade do jogador de acumular recursos negociáveis em mercados blockchain.
DeFi Kingdoms, como seu nome sugere, une elementos de jogos e de Finanças Descentralizadas (ou DeFi), com um foco maior em DeFi do que muitos de seus antecessores.
O jogo inclui uma DEX, staking de liquidez e mercado NFT nativo – todos os serviços encontrados no ecossistema cripto, mas não tradicionalmente em um jogo blockchain.
Na realidade, a equipe por trás do jogo realizou uma abordagem reversa ao do Axie Infinity: em vez de começar com o jogo, DeFi Kingdoms começou com incentivos tradicionais de “liquidity mining” e está fazendo o jogo crescer ao longo do tempo.
O blockchain escolhido para o jogo é Harmony. O que é evidente sobre o lançamento do DeFi Kingdoms no Harmony é a grande dominância do projeto pela rede blockchain.
DeFi Kingdoms possui aproximadamente 68% de todo o valor total bloqueado (ou TVL), uma participação bem maior do que as duas principais DEXs ativas na rede, SushiSwap e ViperSwap. Há uma expectativa de lançamento do DeFi Kingdoms no Avalanche nos próximos meses.
Dados de uso parecem apoiar a ideia de que o jogo está gerando interesse. A contagem de usuários diários está em uma tendência de alta desde seu lançamento.
No início de dezembro, o jogo anunciou sua expansão para o Avalanche com o lançamento de um novo reino chamado Crystalvale.
No mesmo dia, foram anunciadas que DEXs no Avalanche, como Trader Joe e Pangolin, iriam começar a fornecer liquidez imediatamente para o novo token do DeFi Kingdoms no Avalanche.
Alguns dias depois, o número de usuários ativos no Harmony disparou 64% antes de perder alguns desses ganhos. O volume de transações também disparou 29% no período seguinte de duas semanas.
O metaverso
Em ampla escala, grande parte do que está acontecendo nos jogos está se movendo junto com outra grande tendência tecnológica: o metaverso.
Talvez o metaverso já tenha afetado sua vida (não faz muito tempo que o Facebook se reformulou estrategicamente para Meta), mas se não afetou, as chances são altas de que irá afetá-la nos próximos anos.
Definir o metaverso é um pouco difícil porque o conceito em si continua bastante hipotético.
Em sua base, o metaverso representa uma coleção de mundos virtuais (incluindo as realidades virtual e aumentada e as bidimensionais), em que poderemos interagir uns com os outros de forma digital.
Mas, atualmente, múltiplos mundos existem simultaneamente, o ecossistema está fragmentado e a competição está acirrada dentre aqueles que buscam pavimentar o caminho pelo qual aplicações do mundo real vão ser desenvolvidas.
Independente da forma final do metaverso, oportunidades de integrações em jogos são bastante inexploradas.
O metaverso amplia o escopo dos jogos ao desbloquear novos tipos de propriedade intelectual, experiências e comportamentos. Um grande exemplo é Worldwide Webb, um enorme MMORPG interoperável.
Worldwide Webb permite que usuários importem NFTs que possuem ao jogo para atuar como identidades digitais, marcando um dos primeiros exemplos em que a interoperabilidade entre aplicações NFT aparece em mundos digitais em blockchain.
A dominância dos mundos virtuais
Desde a oferta inicial de moeda (ou ICO) do Decentraland em agosto de 2017, mundos virtuais são bastante debatidos como uma possível aplicação ao metaverso.
Esses mundos virtuais são criados para serem jogos “sandbox” (como Minecraft, Roblox etc.), onde jogadores podem desenvolver seus próprios ativos, além de socializarem com outros jogadores.
Os quatro principais mundos de metaverso são The Sandbox, Decentraland, Somnium Spaces e Cryptovoxels. Cada um desses jogos virtuais permite que jogadores adquiram terrenos digitais escassoz e muitos também utilizam suas próximas moedas (como SAND, do The Sandbox).
Até hoje, alguns desses mundos virtuais ganharam notoriedade para casos de uso específicos. Por exemplo, usuários do Cryptovoxels criaram estúdios de arte em 3D e Decentraland possui cassinos e escritórios virtuais para diversas empresas cripto.
Mundos virtuais geraram quase US$ 500 milhões em vendas cumulativas de NFTs (de terrenos virtuais e ativos de jogos). Em 2021, vendas de NFTs de mundos virtuais tiveram o maior crescimento, gerando mais de US$ 320 milhões em vendas de NFTs.
The Sandbox é a grande líder dos mundos virtuais, com mais de US$ 235 milhões em vendas. Além disso, Decentraland e The Sanbox passaram por crescimentos de 490% e 739% em vendas de NFT apenas no quarto trimestre de 2021, respectivamente.
Conforme a conscientização sobre o metaverso aumenta, mundos virtuais síncronos passaram por cada vez mais especulação.
Essas aplicações ainda estão em seus primórdios, ainda desenvolvendo conteúdo para jogadores e tentando encontrar seu nicho entre possíveis usuários (de forma social ou em jogos).
A proposta única de valor de redes blockchain (propriedade de ativos, inovação apermissionadas, design de incentivos e programabilidade) provavelmente garante que esses protocolos apoiem o metaverso como a camada-base ou partes fundamentais de infraestrutura para aplicações e serviços secundários e terciários.
No último ano, é inegável que jogos blockchain passaram por um momento decisivo (uma mudança histórica da qual o desenvolvimento futuro depende).
A percepção de jogos blockchain mudou por conta de jogos bem-sucedidos, como Axie Infinity, o crescimento impressionante de vendas secundárias de NFTs, o amplo crescimento de adotantes de cripto e, mais especificamente, a expansão de usuários de jogos blockchain.
Por sua vez, isso catalisou mais financiamento no setor de jogos blockchain entre diversos elementos principais de infraestrutura e dezenas de novos jogos e estúdios.
O impulso do metaverso também beneficiou a indústria de jogos, que compõe uma parte significativa da atividade on-line atualmente e que, provavelmente, será uma área importante de crescimento e obtenção de usuários para empresas que desenvolvem no metaverso.
Ecossistema blockchain, como o Ethereum, estão se desenvolvendo em um ritmo crescente, mas desafios de escalabilidade e a experiência de usuários ainda persiste.
Ainda assim, existem muitas equipes que desenvolvem soluções tanto para clientes como para desenvolvedores de jogos para melhorar a experiência de criar e jogar jogos blockchain.
Apesar de um modelo comum de monetização entre jogos blockchain ainda precisar surgir, os experimentos em torno da emissão de NFTs, mercados verticais, moedas de jogos e outros primitivos criptoeconômicos continuam promissores.
*Traduzido e editado por Daniela Pereira do Nascimento com autorização do Messari Hub.