Logo da Celsius
Foto: Shutterstock

A credora Celsius teria usado criptoativos equivalentes a US$ 534 milhões de fundos de seus clientes para executar “estratégias de negociação cripto de alto risco” por meio de uma outra gestora de ativos, segundo um novo relatório da empresa de análise em blockchain Arkham Intelligence.

O relatório, que utiliza análise “on-chain” (verificando movimentações registradas na própria blockchain), também indica que essas estratégias “resultaram em prejuízos aparentes de US$ 390 milhões quando a gestora de ativos devolveu o capital”, correspondendo a US$ 210 milhões a preços atuais.

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Esses criptoativos, de acordo com o relatório, podem fazer parte do passivo dos clientes da Celsius. A empesa interrompeu saques de clientes no dia 13 de junho, após ser afetada pela queda nos preços das criptomoedas, e tenta evitar um processo de recuperação judicial, recomendado por sua própria equipe jurídica.

A Arkham disse ter identificado a gestora de ativos como a empresa de investimentos KeyFi, liderada pelo CEO Jason Stone, um dos indivíduos associados à conta de “yield farming” (estratégia de maximização de lucros) 0xb1.

Na quinta-feira (7), 0xb1 também confirmou sua identidade em uma série de tuítes, anunciando um processo judicial que abriu contra a Celsius.

Segundo a Arkham, de agosto de 2020 a abril de 2021, a Celsius enviou a 0xb1 US$ 534 milhões de criptoativos em 260 transações que variaram entre US$ 1 mil a US$ 28 milhões.

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0xb1, por sua vez, investiu esses fundos em diversas atividades que geraram rendimentos em plataformas de Finanças Descentralizadas (ou DeFi, na abreviatura em inglês), que incluíam o fornecimento de liquidez em corretoras descentralizadas (ou DEXs), bem como empréstimos nos protocolos Compound e Aave.

0xb1 supostamente também adquiriu uma seleção de tokens não fungíveis (ou NFTs) equivalentes a US$ 6,3 milhões, que incluíam CryptoPunks, obras do artista Beeple e diversos outros projetos.

O relatório da Arkham cita uma auditoria da Chainalysis que havia sido divulgada em dezembro de 2020, confirmando que a Celsius tinha US$ 3,3 bilhões em ativos sob gestão (ou AUM).

Naquela data, a empresa já havia enviado US$ 365 milhões de fundos a 0xb1.

“Considerando que a auditoria da Chainalysis esteja correta, 0xb1 tinha mais de 10% de todos os ativos sob gestão da Celsius no fim de 2020”, afirmou Arkham, acrescentando que cinco meses após a auditoria, a Celsius havia enviado a 0xb1 outros US$ 180 milhões em criptoativos de seus clientes.

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Retorno com prejuízo

O relatório acrescenta que 0xb1 parece ter devolvido US$ 1,13 bilhão em criptoativos à credora entre fevereiro e maio de 2021, correspondendo a um lucro de 111% caso a quantia esteja denominada em dólares.

Apesar de “parecer ser um retorno excepcional sobre o investimento de US$ 530 milhões da Celsius”, a Arkham notou que “não é tão impressionante ao denominar o desempenho em criptoativos que 0xb1 recebeu da Celsius em vez de [denominá-lo] em dólares americanos”.

O relatório destaca o desempenho geral do mercado cripto, notando que o preço do bitcoin (BTC) disparou de US$ 10 mil para cerca de US$ 60 mil no período analisado, registrando ganhos de mais de 400%.

Ao mesmo tempo, ether (ETH), descrito como “outro ativo significativo que Celsius incumbiu a 0xb1”, disparou quase 900%, saindo de cerca de US$ 400 para quase US$ 4 mil.

“Caso a Celsius mantivesse esses ativos em vez de enviados a 0xb1, seu valor teria sido de US$ 1,52 bilhão — quase US$ 400 milhões a mais do que o que 0xb1 parece ter devolvido”, de acordo com o relatório.

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O duvidoso modelo de negócios da Celsius

Ao elaborar sobre a decisão da Celsius em confiar fundos corporativos a um terceiro, a Arkham afirma que a empresa nova-iorquina “possivelmente enviou ativos depositados por usuários da 0xb1 que estavam acumulando juros”.

De acordo com o relatório, “como consequência da relação da Celsius com 0xb1, a Celsius acabaria ficando com uma quantia menor dos ativos depositados por seus clientes, sem falar dos juros garantidos a eles”.

Além disso, Arkham notou que o modelo de negócios da credora dependia do “lucro do ‘spread’ [diferença de preço] entre seus retornos e os juros pagos a seus usuários”.

“Além disso, os painéis na conta dos usuários da Celsius possivelmente os informava que tinha acumulado recompensas em cripto que, na realidade, não existiam”, de acordo com o relatório.

Jason Stone não respondeu imediatamente ao pedido por comentários do Decrypt quando contatado via Telegram.

O Decrypt também entrou em contato com a Celsius, que respondeu automaticamente que estava “trabalhando para responder às diversas perguntas que recebemos o mais rápido possível” enquanto também informava usuários a verificarem o blog e a conta oficial no Twitter da empresa.

*Traduzido por Daniela Pereira do Nascimento com autorização do Decrypt.co.

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