“Sempre fiz um baita sacrifício trabalhando e colocando dinheiro na Grow Up, confiando naquela rentabilidade e que daqui três anos eu pegaria meu dinheirinho para fazer alguma coisa. Infelizmente, agora eu não faço ideia se vou vê-lo outra vez”, lamenta um brasileiro que estima ter perdido R$ 150 mil na suposta pirâmide financeira Grow Up.
A empresa é acusada de dar um calote desde o início do ano em cerca de 300 investidores, a maioria deles da cidade de Campos dos Goytacazes (RJ).
Ao Portal do Bitcoin, o investidor João Santos* — que pediu para ser identificado apenas por um nome fictício para garantir sua segurança — conta que foi atraído a investir na Grow Up por Leandro de Sousa da Silva, pastor da Igreja Presbiteriana de Tapera, em Campos.
Em relatório apresentado à Delegacia de Defraudações da Polícia Civil do Rio de Janeiro, as vítimas do esquema acusam o pastor de ser um dos sócios da Grow Up, que dizia ser capaz de pagar retornos de até 10% ao mês sobre o aporte do investidor por meio do trade de criptomoedas.
Embora o criador do negócio, Gleidson Costa, centralizasse as operações da Grow Up, ele contava com o apoio de sócios influentes na cidade para atrair investidores para o esquema sem poupar nem a fé das pessoas.
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Santos conta que, embora não conhecesse nada de criptomoedas quando investiu na Grow Up pouco antes da pandemia de covid-19, acreditou que as promessas de lucros eram verdadeiras e que se tratava de um negócio comandado por pessoas honestas, já que religião sempre esteve presente nas conversas.
“Um dos sócios é um pastor de uma igreja evangélica. Todos eles, principalmente o Gleidson, só falavam em Deus. Então você se sente mais tranquilo. Fica mais confiante em dar o dinheiro”, conta.
O Portal do Bitcoin tentou contato com Leandro Silva e Gleidson Costa, mas não teve resposta até a publicação desta reportagem.
Incentivo ao investimento
Santos diz ter conhecido a Grow Up através de um colega de trabalho que lhe recomendou investir por meio do pastor Leandro. Santos quis conhecer o pastor pessoalmente e, após o encontro inicial, diz ter sido convencido a investir no Plano Plus da Grow Up. Leandro passou os dados bancários da Grow Up e o investidor então depositou R$ 20 mil para a empresa.
Ao ver os lucros aumentando, ele foi incentivado a colocar cada vez mais dinheiro no esquema. Ao investir em três pacotes de investimento diferentes, Santos deveria conseguir sacar cerca de R$ 153 mil, considerando o aporte inicial mais os lucros prometidos.
“Eles garantiam que a empresa era séria, que Gleidson era muito inteligente, uma espécie de CDF das criptomoedas. Então eu pensei: ‘é o lugar que eu vou colocar muito dinheiro porque eu sei que não vou ser roubado’”.
Questionado se sabia em quais criptomoedas seu dinheiro era aplicado, o investidor não soube informar. “Até mesmo o pastor Leandro disse que não sabia, porque o Gleidson era a única pessoa que tinha acesso às plataformas onde o dinheiro era investido”.
Ele explica que resolveu firmar os contratos com a Grow Up por não ter tempo de aprender a investir. “Eu não tinha paciência nem tempo para operar, trabalhava o dia inteiro. Como o banco paga uma mixaria pela poupança, resolvi investir nessas empresas de criptomoedas”, conta o investidor que revela também ter perdido cerca de R$ 10 mil na GAS Consultoria, a pirâmide financeira de Glaidson Acácio dos Santos, também conhecido como o “Faraó do Bitcoin”.
Glaidson também era pastor antes de abrir a GAS Consultoria e chegou a doar R$ 72 milhões para a Igreja Universal do Reino de Deus quando ficou rico com seu esquema de criptomoedas. A Polícia Federal suspeita que transferências milionárias como essas doações à Igreja Universal podem estar relacionadas à lavagem de dinheiro.
A Braiscompany, outra pirâmide financeira que operava de forma muito semelhante a Grow Up, também fazia patrulha ideológica com funcionários e apelava para o discurso religioso. Antônio Neto Ais, o líder foragido da pirâmide, já chegou a dizer que Jesus Cristo era o principal sócio da Braiscompany.
Falsas promessas de lucro
Ao longo dos três anos, Santos afirma ter sido levado a sempre reinvestir o dinheiro na Grow Up e acabou exposto a três produtos diferentes do grupo. O primeiro era uma espécie de consórcio, em que clientes faziam depósitos mensais por um ano. Na chegada do 12º mês, o investidor deveria ser capaz de sacar o aporte inicial, mais uma rentabilidade de 25% sobre o valor. Ou seja, se o cliente depositasse R$ 24 mil, no final de um ano ele sacaria um total de R$ 30 mil.
Ele também tinha investimentos nos planos Gold e Plus da Grow Up. No plano Gold, o investidor aporta um valor no produto que prometia gerar um lucro fixo de 1,25% por semana e que poderia ser sacado após três anos.
Já o plano Plus, que gerava uma rentabilidade variável de 4% a 5% ao mês, o usuário estabelecia um contrato de investimento de um ano, mas podia realizar saques das supostas rentabilidades após seis meses do primeiro depósito — fazendo o saque completo do aporte inicial depois de um ano.
Ele explica que conseguiu realizar saques do plano Plus em algumas ocasiões, porém os valores sacados eram baixos. Como a Grow Up nunca teve uma plataforma própria, todo contato com a empresa era feito por WhatsApp.
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Consultores informavam quanto o cliente tinha investido na empresa, qual era a suposta rentabilidade daquele mês, e quanto poderia sacar. A transferência de dinheiro era feita apenas por conta bancárias abertas em nome da Grow Up Intermediações e Assessoria LTDA.
A expectativa dele era recuperar o investimento no início do ano, quando o seu contrato de três anos do plano Gold chegaria a data final. Para seu azar, esse foi justamente o período em que a Grow Up entrou em colapso.
A queda da Grow Up
A estimativa inicial é que a Grow Up deu um calote em pelo menos 300 clientes que não recebem os pagamentos prometidos desde janeiro deste ano, conforme mostrou uma reportagem do Portal do Bitcoin.
A empresa começou a apresentar problemas na virada do ano, na mesma época em que a Braiscompany, deixou de pagar os clientes.
“Na época eles criaram o plano de contingência alegando que corretoras e bancos estavam reduzindo o número de saques e assim a Grow Up não conseguia pagar os investidores em dia. Mas era tudo mal explicado”, relembra Santos.
Ele explica que o plano de contingência reduzia a rentabilidade dos planos de investimento. O corte não fez muita diferença no final das contas, já que nem as rentabilidades reduzidas os clientes conseguiam sacar.
Quando os pagamentos pararam, Santos entrou em contato com o pastor Leandro, que alegava não saber o que havia acontecido. Para pressionar o pastor, o investidor disse que iria processá-lo por lhe ter arrastado para a pirâmide.
“Ele me disse apenas ‘ok, você fez o investimento comigo, só que o dinheiro que você mandava, ia para a conta da empresa, não na minha’. Agora o pastor não responde mais. Mando mensagem fica um mês lá parada sem resposta. Enquanto isso ele está lá na igreja dele pregando e não está nem aí para os clientes”.
Quando questionado se acreditava nas desculpas dadas pelos sócios de que não sabiam de nada, o investidor diz que “não bota a mão no fogo por ninguém”.
Falta de respostas
Ele parece ter motivos para desconfiar principalmente de Gleidson. O líder principal da Grow Up também não responde mais os clientes. Desde que bloqueou os saques, ele criou um “canal de transparência” no Telegram para passar informações sobre a situação da empresa, mas, segundo os clientes, esse canal não passa de um “enfeite”.
Nesse canal, Gleidson promete que a situação será resolvida e que a Grow Up voltará a pagar os clientes, mas nunca dá um prazo para isso. Desde o início do ano, ele disse que estava ligando para todos os clientes para explicar a situação. No entanto, os grupos de lesados dizem que nunca receberam uma ligação de Gleidson.
Santos diz que não consegue mais contato com Gleidson porque ele mudou o número de telefone. Segundo ele, a esposa de Gleidson também o bloqueou no WhatsApp. “Você acha que se fosse um negócio sério e que se eles não tivessem intenção de passar a perna na gente, eles fariam isso?”, questiona o investidor.
Em meio a esses problemas de comunicação, os clientes lesados da Grow Up temem que o caso caia no esquecimento e que eles nunca mais recuperem os valores investidos na empresa, um dinheiro que parece fazer falta no dia a dia.
“Estou precisando desse dinheiro que está preso na Grow Up. Foi um dinheiro muito suado. Para muitos pode parecer que não, mas para quem lutou a vida toda e não nasceu em lar rico, é muito dinheiro”, conta o investidor que precisou deixar o trabalho que tinha para uma cirurgia e agora está três meses sem receber salário. “Eu estou de mãos atadas, infelizmente. Eu só queria que esse pesadelo acabasse”, lamenta.
Grow Up na CPI das Pirâmides
Desde então, pessoas que se dizem lesadas por Gleidson Costa se organizam para cobrar das autoridades que a Grow Up seja investigada da mesma forma que as pirâmides concorrentes, que foram alvos de operações da Polícia Federal nos últimos tempos.
A movimentação parece já ter gerado um resultado parcial. No final de junho, o deputado federal Caio Vianna (PSD/RJ) apresentou um requerimento para que Gleidson Costa seja convocado para prestar esclarecimentos na CPI das Pirâmides Financeiras, que investiga os principais golpes aplicados com uso de criptomoedas no Brasil.
Na justificativa para a intimação, o deputado descreve que “sob a alegação de problemas operacionais, o presidente da empresa, Gleidson Costa, tem sido incapaz de cumprir com as obrigações financeiras assumidas com os investidores, causando prejuízos significativos.”
“Considerando a possível caracterização da Grow Up Club como mais um caso de pirâmide financeira, é imprescindível o convite de seu presidente para prestar esclarecimentos perante esta CPI”, acrescenta Vianna.
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