Imagem da matéria: Retorno à média: a triste realidade do mercado e como impacta seus investimentos
Foto: Shutterstock

O Retorno à média é uma das mais tristes realidades para quem investe. Para exemplificar da melhor forma, nada melhor do que um exemplo futebolístico. 

Até hoje não esqueço o dia que o Flamengo perdeu a final da Copa do Brasil para o pequeno Santo André em um Maracanã abarrotado no ano de 2004. O Santo André tinha despontado, mas anos depois, caiu no ostracismo.

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Santo André venceu uma Copa do Brasil e depois caiu no ostracismo.

Também não faltam exemplos de times pequenos (no Brasil e no mundo) que formaram esquadrões que surpreendiam a todos. O exemplo mais recente aconteceu com o Leicester City, ganhando a Premier League (liga inglesa) com uma campanha surpreendente.

A questão é que o tempo passou e todos esses times retornaram às suas realidades de antes de suas conquistas, ou tiveram uma pequena melhora como no caso do Leicester. Tudo isso nos ensina uma pequena lição: as coisas tendem retornar à média.

Bitcoin em 2017

Como não esquecer de um dos bull markets mais insanos da história? Em 2017 o Bitcoin valorizou mais de 1900%, saindo dos US$ 1,000 e chegando aos US$ 17,000 durante todo ano. Depois da máxima histórica, veio a queda de 84% e desde então o ativo não conseguiu recuperar sua cotação de US$ 17,000. O que aconteceu? Retorno à média.

Essa dinâmica pode ser observada em vários mercados. O ativo sempre tenderá a retornar para a média móvel. Afinal, isso é natural, pois nenhum ativo pode subir para sempre em linha reta. Correções são necessárias e saudáveis para que o mercado cresça de forma sustentável.

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No caso do Bitcoin, veja como o preço sempre tenta retornar à média (linha azul) quando se afasta muito. Essa estratégia é muito utilizada por quem gosta de fazer trades longos: comprar ou vender um ativo sempre que ele está muito afastado da média.

Bitcoin teve uma valorização acima da média em 2017. Meses depois, retornou para ela.

Mas isso tem algum tipo de embasamento teórico ou é só algum tipo de “lenda urbana”? Por incrível que pareça, o retorno à média é um fenômeno estudado pelo excelente economista Daniel Kahneman, em seu livro “Rápido e Devagar”.

A teoria de Retorno à média

Kahneman acredita que todas as coisas têm uma tendência de retornar à média: seja um fundo de investimentos, um ativo financeiro, um clube de futebol ou um jogador que estourou no Brasil. Isso acontece por conta da aleatoriedade em nosso universo.

Para explicar melhor, vale citar um teste interessante: se você pegar uma classe com 30 alunos de ensino médio e colocá-los para fazer uma prova de Verdadeiro ou Falso sobre física quântica avançada, provavelmente os resultados das provas seriam em média muito ruins.

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Afinal, é altamente improvável que estudantes de ensino médio saibam sobre o assunto, então restaria a eles dar o famoso “chute” e torcer para tirar uma nota boa. No geral, se pegar todos os resultados das provas, eles assumiriam o formato de uma curva normal:

Distribuição Normal. Se você pegar todas as notas e colocar em um gráfico, esse gráfico provavelmente ficará assim.

A tendência é que, aleatoriamente, a maior parte do grupo de alunos fique próxima à média (intervalo vermelho do gráfico). Alguns sortudos ou alguns azarados ficam nos extremos do gráfico (0.13%). 

Mas, e se repetirmos o teste? Será possível ver que aqueles que ficaram afastados da média irão convergir para ela na segunda vez: os piores vão melhorar, assim como os que se saíram melhor na primeira vez terão uma piora nos resultados.

Esse mesmo teste poderia ser aplicado para diferentes situações: quantos gols um atacante fará em um ano em relação à média nacional, quantos pontos um time fará no campeonato em relação à média do ano passado. A questão é que estamos sempre retornando à média.

Eu ficaria preocupado se meu investimento foi o melhor do ano

Terminou o ano, você foi ver sua planilha de investimentos e constatou que todos os fundos e ativos em que investiram renderam muito dinheiro, algo muito acima da média do mercado. A reação natural é ficar otimista para o próximo ano. Mas quem conhece a Teoria de Regressão à Média ficaria bem preocupado.

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Geralmente, fundos e ativos que performam muito acima da média do mercado tendem a apresentar piora de rendimento nos meses e anos seguintes. É importante dizer que não necessariamente eles darão prejuízo. Afinal, a rentabilidade recente também entraria para o cálculo da média, elevando-a no final.

A rentabilidade piora por diferentes motivos: condições econômicas e de mercado estão mudando a cada momento, as estratégias precisam se adaptar às novas condições, o fundo recebe um fluxo grande de novos aportes. 

Portanto, quanto mais tempo os resultados forem acima da média, maior será a média final. No retorno a média, o ativo terminaria em um patamar superior de onde saiu, o que foi exatamente o que aconteceu com o time do Leicester City: antes lutava para não ser rebaixado, hoje fica na metade superior da tabela.

A mesma dinâmica pode ser observada no gráfico abaixo. Ativos que passaram por grandes valorizações tendem a ter um retorno à média, em um patamar superior ao anterior.

Os ciclos de um investimento que valoriza muito acima da média.

Como usar o conceito nos investimentos?

Conforme dito acima, alguns traders costumam utilizar o indicador de análise técnica conhecido como média móvel. Ele pega os preços em um determinado período e vai calculando uma média que se altera conforme os novos preços.

Normalmente, utiliza-se uma média móvel de 21 períodos no gráfico de intervalo diário. Caso o preço caia e se afaste muito da média, a tendência é que ele suba. Por outro lado, se o preço subir e descolar da média, a tendência é que ele caia.

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Estratégia de Retorno à Média para day trading.

O gráfico acima demonstra um exemplo prático. O preço sempre que se afastou muito da média (linha azul) voltou a convergir para ela em seguida. Operar a estratégia de retorno à média pode ser uma alternativa para quem quiser se arriscar em operações de trading.

Além da operação de trading, é recomendado que se evite “os melhores investimentos do ano”, principalmente aqueles que renderam muito acima de suas médias nos últimos anos e estão sendo falados na grande mídia. Cedo ou tarde, a lei de Regressão à Média irá atuar. 

É por isso que dificilmente times de futebol vencem tudo por várias temporadas seguidas. Entender esse conceito é fundamental para se manter “vivo” no mercado e fazer uma boa alocação de risco da sua carteira de investimentos.

*Texto escrito por Lucas Bassotto e publicado originalmente pelo site Investificar.