A queda do preço do bitcoin está afetando a receita das empresas de mineração nas últimas meses e pode atrasar as expansões planejadas para a região da América Latina.
A Bitfarms, empresa canadense de mineração de bitcoin, planeja desde abril do ano passado, montar uma grande fazenda de mineração na Argentina com uma potência de 210 megawatts, capaz de alimentar cerca de 55 mil máquinas.
Em entrevista à Bloomberg Línea, o gerente geral para a América Latina da Bitfarms, Damián Polla, disse que o primeiro data center da nova filial na Argentina deve ser entregue em outubro deste ano.
De acordo com ele, a indústria de mineração enfrenta atualmente um desafio no curto prazo: “Tanto na Argentina como no resto do mundo, a queda do preço do bitcoin está reduzindo a renda e aumentando os custos operacionais [de mineração]”.
Queda dos lucros
O bitcoin estagnado na casa dos US$ 30 mil, um preço que representa metade da sua máxima histórica de US$ 68 mil de novembro passado, se reflete no próprio caixa da Bitfarms.
A empresa deixou de ser considerada um “unicórnio” — título que recebeu no ano passado —, uma vez que seu valor de mercado caiu de US$ 1 bilhão para menos de US$ 500 milhões atualmente, segundo a Bloomberg.
Além disso, a receita da Bitfarms caiu 33% no primeiro trimestre de 2022 em relação ao trimestre anterior, segundo o Financial Post.
O resultado fez a empresa diminuir a sua meta de atingir uma hashrate de 7,2 EH/s (exashash por segundo) em 2022, estabelecida no início do ano, para 6 EH/s até dezembro.
A Bitfarms anunciou a meta mais tímida citando ajustes que precisavam ser feitos em projetos de expansão em andamento, como a fazenda em construção na Argentina.
Em paralelo, o lucro com a mineração do bitcoin passou a desacelerar para todos os participantes do setor. No mês de maio, por exemplo, os mineradores registraram a menor receita em 11 meses, de US$ 906 milhões.
Leia Também
O número negativo quebrou uma tendência de alta: desde julho de 2021, a receita de mineração de BTC superou a faixa de US$ 1 bilhão todos os meses, até recuar em maio.
Mineração na Argentina
Além dos efeitos do preço do bitcoin, o setor de mineração na Argentina enfrenta seus próprios desafios internos, como o aumento das tarifas cobradas dos mineradores.
Em janeiro deste ano, o governo argentino impôs um aumento em 170% na conta elétrica de Tierra del Fuego, província no sul da Argentina que abriga pelo menos 22 empresas de mineração de criptomoedas.
A BitPatagonia, uma das maiores empresas da área, viu sua última conta de energia aumentar 400% em relação ao mês anterior, conforme mostrou o CoinDesk em reportagem de maio.
Quando questionado pela Bloomberg se o aumento das tarifas na Argentina afetaria as operações que a Bitfarms planeja montar na região, o porta-voz da empresa se esquivou, se limitando a dizer que “a realidade nos desafia a superar os diferentes cenários que surgem em cada um dos países em que atuamos”.
Cenário positivo para Paraguai
Enquanto a mineração na Argentina parece incerta pelo aumento das cobranças do governo, o Paraguai recentemente ganhou um novo incentivo regulatório que pode atrair mineradores para a região.
A Câmara dos Deputados do Paraguai aprovou em 25 de maio um projeto de lei que regula a comercialização e produção de criptomoedas no país, o que inclui a criação de normas para a mineração de bitcoin na jurisdição.
O texto, já aprovado no Senado em dezembro do ano passado, voltou para avaliação no Senado e, se tudo seguir como esperado, a lei avança para sanção presidencial.
A regulação do mercado cripto é vista com bons olhos pelos participantes do mercado cripto, pois vai proporcionar segurança jurídica e fiscal para empresas — incluindo mineradoras — que querem entrar no Paraguai.