Uma forma de entender blockchains como o Bitcoin e o Ethereum é como bases de dados distribuídos. Já que blockchains são separadas, não podem se comunicar facilmente entre si.
Você não pode usar o bitcoin (BTC) diretamente na blockchain do Ethereum porque apenas a blockchain do Bitcoin “sabe” que você possui bitcoin.
Os “Wrapped tokens”, ou tokens embalados, em português, foram criados como uma solução a esse problema. Com wrapped tokens, é possível movimentar ativos entre blockchains e usá-las pelo ecossistema cripto.
O que são wrapped tokens?
Wrapped tokens são ativos que permitem que o valor de um ativo nativo de uma blockchain seja transferido a outra blockchain. Um dos mais conhecidos é o wrapped bitcoin (WBTC).
O WBTC possui paridade ao preço do bitcoin, então 1 WBTC é sempre igual a 1 BTC. Porém, diferente do bitcoin, o WBTC está disponível como tokens de padrão ERC-20 ou TRC-20, ou seja, pode ser usado e negociado nas blockchains Ethereum e Tron.
De certa forma, wrapped tokens são similares a stablecoins, como USDT, que seguem o preço do dólar americano. Assim como 1 WBTC é lastreado no preço de 1 BTC, 1 USDT é lastreado no preço de US$ 1.
O que os torna diferente não é apenas a paridade ao preço de outro ativo, e sim a tecnologia por trás deles e a forma como seu valor é lastreado e mantido.
Curiosidade: Em 14 de janeiro de 2021, o CoinMarketCap listou breve e erroneamente uma capitalização de mercado de US$ 432 quadrilhões para WBTC ou mais de mil vezes da riqueza total e estimada do mundo, segundo o site Financial Times.
Como funcionam wrapped tokens?
Wrapped tokens são criados e destruídos por um processo chamado “emissão” e “queima”. Para emitir um wrapped token como o WBTC, o token “original” (neste caso, o bitcoin) é enviado a uma custodiante, que armazena o bitcoin em um cofre digital. Quando o bitcoin é armazenado, uma quantia equivalente de WBTC pode ser emitida.
Esse processo também é chamado de “wrapping”. O ativo original passa pelo “wrapping” em um cofre digital, usando um contrato autônomo, e um novo ativo wrapped é emitido para ser usado em outra blockchain.
Para queimar WBTC, é feito o processo contrário. O WBTC é removido de circulação e a quantia equivalente em bitcoin é liberada do cofre digital e colocada de volta em circulação.
Assim como a emissão de wrapped tokens pode ser entendida como o “wrapping” do ativo original para a criação de um token de valor equivalente que será usado em outra blockchain, a queima de wrapped tokens pode ser entendida como o “unwrapping” do ativo original.
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Esse processo de emissão e queima (ou “wrapping” e “unwrapping”) significa que todos os wrapped tokens, de WBTC a renDOGE (uma versão da dogecoin), são lastreados por uma quantia equivalente da moeda original. Para cada 100 renDOGE que são emitidas, 100 DOGE são armazenadas para lastrear o valor do wrapped token.
O que tem de tão especial nos wrapped tokens?
Wrapped tokens, como o WBTC, oferecem interoperabilidade entre blockchains para que pessoas possam movimentar ativos facilmente e obter vantagem de recursos e aplicações em outras blockchains. Essas vantagens incluem transações mais rápidas, taxas mais baratas ou oportunidades de “yield farming” (para a maximização de lucros).
Embora a quantidade de WBTC em circulação esteja aumentando cada vez mais, “bridges” — uma solução que permite que você faça o wrapping de seus próprios tokens para movimentá-los entre blockchains — estão se espalhando.
Isso acontece com alguns riscos: Bridges são os principais alvos de inúmeros hacks e, em janeiro de 2022, Vitalik Buterin, criador do Ethereum, escreveu que suas vulnerabilidades de segurança são o motivo pelo qual ele é “pessimista sobre aplicações entre blockchains”.
Exemplos de wrapped tokens
– Wrapped bitcoin (WBTC): Projeto que faz o wrapping de bitcoin para ser usado na blockchain do Ethereum. É operado pela WBTC DAO e foi iniciado pela Kyber, Ren e BitGo.
– Wrapped ether (WETH): Criado por um grupo de projetos operado pelo 0x Labs e é uma versão ERC-20 do Ethereum que pode ser usado como um ativo em protocolos de Finanças Descentralizadas (ou DeFi).
– renDOGE: Versão da dogecoin que pode ser emitida usando a RenBridge no protocolo RenVM.
O futuro dos wrapped tokens
Alcançar a interoperabilidade entre diferentes blockchains é um desafio para a indústria.
Um problema é que cada vez mais blockchains são criados, o número de bridges necessárias para garantir que ativos em uma blockchain possam ser facilmente transferidos para todas as outras blockchains aumenta a exponencialidade.
Soluções estão sendo desenvolvidas para tentar tornar o “bridging” de ativos entre redes mais fácil e eficiente. Uma forma de fazer isso é com um núcleo de bridges, que se refere a uma bridge central usada por todas as outras blockchains. Um exemplo é Darwinia, que está sendo desenvolvida na Substrate.
No futuro próximo, bridges e wrapped tokens vão continuar sendo uma parte central da solução para a interoperabilidade.
*Traduzido por Daniela Pereira do Nascimento com autorização do Decrypt.co.