Depois de ser criticado por não demonstrar remorso por seu papel no colapso catastrófico da exchange de criptomoedas FTX, o cofundador e ex-CEO Sam Bankman-Fried expressou arrependimento pela primeira vez no fim de semana da Páscoa.
Com a sentença de 25 anos de prisão por fraude, lavagem de dinheiro e conspiração pelo escândalo que abalou o setor e resultou em perdas de US$ 8 bilhões para os clientes, Bankman-Fried disse em um conjunto de e-mails que estava “arrependido” de suas ações — mas novamente insistiu que sempre agiu de boa-fé.
“Eu nunca pensei que o que eu estava fazendo era ilegal,” ele escreveu nas mensagens trocadas com a ABC News. “Tentei me impor um alto padrão de trabalho, mas certamente não o atingi.”
Bankman-Fried também expressou empatia pelos antigos clientes de sua empresa.
“Ouvi e vi o desespero, a frustração e a sensação de traição de milhares de clientes”, escreveu ele. “Eles merecem ser pagos integralmente pelo preço atual.”
Bankman-Fried insistiu mais uma vez que a empresa tinha dinheiro suficiente para pagar suas dívidas.
“Isso poderia e deveria ter acontecido em novembro de 2020, e poderia e deveria acontecer hoje — é excruciante vê-los esperando, dia após dia”, escreveu ele. “Existem e sempre existiram muitos ativos para reembolsar clientes, credores e investidores integralmente, a preços atuais ou a preços da época.”
“Falhei com todos”
Grande parte de seu argumento não é novo. Em seu julgamento em 28 de março, Bankman-Fried tentou argumentar que era um mau gerente e não um criminoso, dizendo ao tribunal que ele “tomou uma série de decisões ruins”.
Leia também: Veja como foi a audiência que sentenciou Sam Bankman-Fried a 25 anos de prisão
“Não foram decisões egoístas. Não foram decisões altruístas. Foram decisões ruins”, disse ele. “Falhei com todos, com quem me importo e com tudo com que me importo também.”
Leia Também
Sua defesa também tentou argumentar que não havia intenção criminosa.
“Sam está no extremo oposto da escala de culpabilidade de que se fala para crimes de fraude”, disse o advogado de defesa de Bankman-Fried durante as alegações finais. “Não havia nada de predatório, voraz, venal, mercenário ou explorador em sua conduta.”
Mas John J. Ray III, o novo CEO da FTX, nunca acreditou nisso e, aparentemente, o júri também não. “O remorso é inexistente. O altruísmo efetivo, pelo menos como vivido por Samuel Bankman-Fried, era uma mentira”, disse Ray em uma declaração por escrito.
“Por que os bitcoins estavam faltando?”, escreveu ele. “Um júri concluiu, sem sombra de dúvida, que o Sr. Bankman-Fried os roubou e os converteu em outras coisas. Por essa razão, eles não estão disponíveis para serem devolvidos em espécie às suas vítimas.”
Até o momento, Ray III não recuperou ativos digitais suficientes para pagar os credores integralmente. No entanto, a atual alta do mercado de criptomoedas ajudou muito a equilibrar a balança, um fato que o juiz Lewis Kaplan diz que isso não torna o dano menos prejudicial.
“Um ladrão que leva seu saque para Las Vegas e aposta com sucesso o dinheiro roubado não tem direito a uma diminuição na sentença por usar seus ganhos em Las Vegas para pagar todo ou parte do que roubou se e quando for pego”, escreveu Kaplan.
Bankman-Fried também expressou o desejo de fazer as pazes.
“Sou assombrado, todos os dias, pelo que foi perdido. Nunca tive a intenção de machucar ninguém ou tirar o dinheiro de ninguém”, disse ele. “Eu daria tudo para poder ajudar a reparar até mesmo parte dos danos. Estou fazendo o que posso da prisão, mas é profundamente frustrante não poder fazer mais.”
Bankman-Fried decidiu recorrer de sua condenação, um processo que poderia estender ainda mais o prazo para um resultado final em seu caso. Ele argumenta que Sullivan & Cromwell, o escritório de advocacia que representa o novo proprietário da FTX, desempenhou um papel negativo no julgamento.
“Na verdade, o papel da SullCrom na acusação, o frenesi unilateral da mídia que eles incitaram e a incapacidade da defesa de obter provas críticas no julgamento infectaram todo o processo”, disse ele à emissora.
*Traduzido por Gustavo Martins com autorização do Decrypt.