Imagem da matéria: Veja como foi a audiência que sentenciou Sam Bankman-Fried a 25 anos de prisão
Sam Bankman-Fried, criador da FTX (Foto: Decrypt/André Beganski)

Começou às 10h30 da manhã desta quinta-feira (28) a audiência que definiu a sentença de 25 anos de prisão de Sam Bankman-Fried, criador da exchange de criptomoedas FTX, culpado de sete acusações de fraude e conspiração.

A audiência aconteceu no tribunal do Distrito Sul de Nova York e foi liderada pelo juiz Lewis Kaplan, responsável por determinar quantos anos SBF enfrentaria de prisão.

Publicidade

Com base “nas leis e nos fatos”, o juiz Kaplan iniciou a audiência rejeitando o argumento da defesa de SBF de que o colapso da FTX não gerou prejuízos aos investidores.

“A afirmação de que clientes e credores serão pagos integralmente é enganosa. Os crimes incluíram a apropriação indébita de dinheiro de clientes da FTX, ao qual o réu não tinha direito, e seu uso em investimentos especulativos pela Alameda e uma variedade de outras coisas”, disse o juiz, de acordo com o perfil no X Inner City Press, que acompanhou ao vivo a audiência.

O juiz também descartou a interpretação da defesa de que a valorização das criptomoedas desde o colapso da FTX torna menos grave os crimes de Bankman-Fried.

“Um ladrão que leva seu fundo para Las Vegas e aposta com sucesso não tem direito a uma redução de sentença”, comparou o magistrado, dizendo que a afirmação de que as vítimas serão reembolsadas é ainda apenas uma especulação.

Publicidade

No cálculo final do juiz, os investidores da FTX perderam US$ 1,7 bilhão, os credores perderam US$ 1,3 bilhão e os clientes, US$ 8 bilhões. No total, o prejuízo deixado pela corretora de SBF excede US$ 10 bilhões.

O juiz Kaplan também afirmou que SBF cometeu obstrução da justiça ao tentar subornar uma testemunha. “A mensagem do Sr. Bankman-Fried para o ex-consultor jurídico de fato constituiu tentativa de suborno de testemunha”, disse.

“Também concluo que o Sr. Bankman-Fried prestou falso testemunho no julgamento – ele afirmou falsamente que até o outono de 2022 não tinha conhecimento de que a Alameda havia gasto fundos de clientes da FTX. Ele afirmou falsamente que soube dos US$ 8 bilhões pela primeira vez em outubro de 2022.”

Os advogados de SBF não quiseram fazer comentários ao juiz sobre essas acusações.

Vítima rebate SBF

Uma vítima da FTX teve a oportunidade de falar durante a audiência. Um investidor de Londres chamado Sunil Kavuri disse ser falso o argumento de SBF que o prejuízo da quebra da FTX foi zero. 

Publicidade

Ele também reclamou das ações da massa falida da FTX, dizendo que os clientes têm direito de propriedade sobre as criptomoedas presas na corretora e que a liquidação desses ativos com descontos de até 70% está “destruindo o valor dos fundos dos clientes”.

“Pelo menos três pessoas cometeram suicídio por causa desta fraude da FTX. O que eu sinto é que isso também me machucou. Sam e outros conspiradores, auxiliadores e cúmplices, precisam ser responsabilizados”, finalizou a vítima.

Em seguida, foi a vez da defesa de Sam Bankman-Fried se pronunciar. O advogado Marc Mukasey iniciou dizendo que “entende a dor” dos investidores da FTX, mas logo passou para a defesa da inocência de SBF, definindo-o como um “nerd matemático desajeitado”.

“Ele não queria infligir dor a ninguém de forma alguma. Ele toma decisões com matemática na cabeça, não malícia no coração. Ele é um nerd matemático desajeitado. Ele é adepto do veganismo. Ele tem um intelecto fora do comum. Ele consegue analisar palavras melhor do que um estudioso talmúdico e era um bilionário sem preocupações com posses materiais”, disse Mukasey.

Por fim, o advogado pediu que o juiz desse a sentença com um “coração compassivo”.

O pronunciamento de Sam Bankman-Fried

Assim como seu advogado, Sam Bankman-Fried começou seu julgamento lamentando  suas ações que levaram ao colapso da FTX e reconhecendo o trabalho de seus colegas que ele disse ter “jogado tudo fora”, algo que o “assombra todos os dias”. 

Publicidade

Ele também relembrou os ocorridos que levaram a queda da FTX: “Tomei uma série de decisões erradas. Elas não foram decisões egoístas. Isso culminou com uma série de outros fatores, crise. A Alameda não faliu, a FTX também não — os ganhos da Alameda foram perdidos, estava mais alavancada do que deveria. Tivemos que liquidar para atender à corrida na FTX. A FTX teria sobrevivido, a Alameda não”, disse.

Mais uma vez, SBF garantiu que na época os clientes da FTX poderiam ter sido reembolsados. “Havia ativos suficientes. Não é por causa do aumento do preço das criptomoedas, isso não ajudou, simplesmente havia o suficiente. Por que eles não foram reembolsados? Havia, para ser justo, uma crise de liquidez. Isso foi em parte minha culpa”, reconheceu.

“Eu era o CEO da FTX, eu era seu líder, isso significa que eu era responsável no final do dia. Não importa por que as coisas dão errado, se você é o CEO, é sua culpa… Minha vida útil provavelmente acabou. Eu já dei o que tinha para dar há muito tempo”, continuou.

“Os clientes têm sofrido, mas, no final do dia, parece que finalmente serão pagos, valor atual dos ativos. Isso é verdade também para os credores e investidores. Eu acho que gostaria de ter conseguido fazer mais para ajudar nisso, acho que falhei. Não tenho certeza do porquê, mas eu acho que fiz.”

Por fim, ele argumentou que ainda existe a oportunidade de fazer coisas boas que pensou que faria pelo mundo, caso recebesse uma pena mais branda. “Se as pessoas fizerem o que podem pelo mundo, espero poder ver o sucesso delas, não apenas os meus próprios fracassos”, finalizou.

Do lado oposto, o procurador dos EUA, Nicolas Roos, foi enfático em dizer que Samuel Bankman-Fried roubou US$ 8 bilhões dos investidores. “Foi um roubo, dos clientes espalhados por todo o mundo. Foi uma perda que impactou significativamente as pessoas e causou danos.”

Publicidade

“Ele sabia que estava errado”, diz juiz

Depois dos pronunciamentos da defesa e acusação, foi a vez do juiz Kaplan falar. Ele não pegou leve e cravou: “Este foi um crime financeiro enorme.” 

“Em 15 ou 16 de novembro, ele [Sam] foi entrevistado por um repórter que perguntou “Você disse muitas coisas sobre boas regulamentações — isso também foi apenas relações públicas?” Ele: “Sim, dane-se os reguladores”, relembrou o juiz.

“Ele era um homem disposto a jogar uma moeda para decidir sobre a continuação da existência da vida na terra. O Sr. Bankman-Fried sabia que a Alameda estava gastando fundos de clientes em investimentos arriscados, contribuições políticas e imóveis nas Bahamas. Os fundos não eram dele para usar”, continuou.

“O Sr. Bankman-Fried tem o direito de se declarar inocente e ir a julgamento. Todo mundo tem esse direito e eu não o condeno por isso”, disse o juiz.
“Não estou diminuindo o dano. A audácia de suas ações. Sua flexibilidade excepcional com a verdade. Sua aparente falta de qualquer remorso. Quando ele não estava mentindo, era evasivo, arrumando o cabelo, tentando fazer com que os promotores reformulassem as perguntas para ele. Eu faço esse trabalho há quase 30 anos. Nunca vi uma atuação como essa”, disse o juiz antes de dar sua sentença final: 25 anos de cadeia para Sam Bankman-Fried.

VOCÊ PODE GOSTAR
Moedas de ether

Mercados de empréstimos de Ethereum enfrentam liquidações massivas em abril

O volume de empréstimos em Ethereum (ETH) liquidados apenas nas duas primeiras…
Imagem da matéria: Mineradores de Bitcoin quebram recorde ganhando mais de US$ 100 milhões em taxas pós-halving

Mineradores de Bitcoin quebram recorde ganhando mais de US$ 100 milhões em taxas pós-halving

Com exceção de uma taxa paga acidentalmente ano passado, os 10 blocos mais caros da história do Bitcoin são pós-halving
Imagem da matéria: Icônico papel escrito “Compre Bitcoin” é vendido por R$ 5,1 milhões em leilão

Icônico papel escrito “Compre Bitcoin” é vendido por R$ 5,1 milhões em leilão

A frase “Compre Bitcoin” foi apresentada diante das câmeras durante uma audiência televisionada de Janet Yellen em 2017
Galpão usado para mineração em chamas

Mineradora de criptomoedas operada por brasileiro pega fogo no Paraguai

Incêndio ocorreu em um imóvel do bairro Las Carmelitas, em Ciudad del Este