O Federal Reserve (Fed), banco central dos EUA, e pesquisadores do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) estão prestes a revelar um protótipo de dólar digital, possivelmente na modalidade CBDC (Moeda Digital do Banco Central), que é um uma stablecoin apoiada por uma moeda oficial. A informação tem gerado temor em Wall Street, pois o projeto ameaça bancos, empresas de pagamentos e até mesmo as criptomoedas, publicou o Bloomberg na segunda-feira (22).
De acordo com o jornal, tanto bancos quanto empresas de cartão de crédito e processadores de pagamentos digitais estão observando apreensivos os esforços em criação de uma alternativa eletrônica ao dólar de papel, ora chamado de ‘dólar digital’, ora de ‘Fedcoin’. A moeda digital eliminaria intermediários e causaria prejuízos a empresas que ganham com taxas.
O estudo de moeda digital já pode ser revelado em julho deste ano, segundo o vice-presidente do Fed de Boston, Jim Cunha, que está à frente do projeto. Ele afirmou que serão apresentadas pelo menos duas plataformas de software que podem transferir, armazenar e liquidar transações feitas com dólares digitais, porém sem mencionar se há ou não o uso da tecnologia criada com o bitcoin, blockchain.
Em resumo, a nova moeda poderia evitar o intermediário de um banco comercial ou rede de cartão de crédito. Para os vendedores, a liquidação ocorreria quase imediatamente, sem ter que esperar pelo dinheiro ou se preocupar com fraudes.
Isso é semelhante a como a maior parte do dinheiro já funciona — a maioria dos dólares americanos são apenas entradas digitais em contas bancárias, escreveu o jornal. A ideia, inclusive, foi apoiada há cerca de um mês pela secretária do Tesouro dos EUA, Janet Yellen. Para ela, um dólar digital seria conveniente para a economia americana.
Uma declaração recente do presidente do Fed, Jerome Powell, também sugere que a instituição nada tem contra um dólar digital, mas que requer cuidado antes de tudo. E mesmo que viesse a ser criada a CBDC americana, Powell acredita que ela não eliminaria a necessidade de dinheiro físico, ou seja, um dólar digital teria que coexistir com notas e moedas.
Powell também disse que um projeto como esse precisaria ter o aval dos legisladores, bem como uma consulta pública. Cunha foi além e disse: “Achamos importante não esperar pelo debate político, porque então estaremos um ano ou mais atrasados”.
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Dólar digital dos EUA
Uma moeda digital poderia mudar substancialmente a maneira como os americanos usam o dinheiro, levando algumas empresas financeiras a fazer lobby junto ao Fed e ao Congresso para desacelerar sua criação — ou pelo menos garantir que não sejam cortados, comentou o Bloomberg.
Isso porque ao mesmo tempo em que essas empresas acham desnecessário a criação de um dólar digital, ocorre no mundo o desejo de entidades globais, como Visa e Mastercard ,de trabalharem com os bancos centrais para garantir que as novas moedas possam ser usadas em suas redes, acrescentou o jornal.
Mas vale lembrar que o governo americano — Congresso, Tesouro, Fed e reguladores — ainda não pôs em pauta uma moeda virtual dos EUA atrelada ao dólar; e é isso que pode levar anos, diz o jornal. Mas “o fogo foi aceso”, segundo Josh Lipsky, diretor de geoeconomia do think tank Atlantic Council, um dos responsáveis por juntar a equipe.
Esse ‘fogo’, de acordo com o Bloomberg, foi causado pela popularidade crescente do Bitcoin, Ethereum e outras criptomoedas, cujo valor de mercado cresceu para mais de US$ 1 trilhão e inspirou projetos.
“O mundo está se movendo muito rapidamente nesses projetos”, comentou.
Lipsky concluiu comentando sobre a China, que está atualmente testando um yuan digital em várias cidades. Ele disse que há uma chance de sua moeda estar pronta para uma estreia mais ampla nos Jogos Olímpicos de Inverno de 2022 em Pequim, e que isso pode causar tensões se os atletas americanos forem obrigados a usar uma moeda que o governo chinês possa rastrear completamente.