A última semana foi conturbada para o mercado de criptoativos. As preocupações ao redor do setor bancário nos Estados Unidos acabaram afetando a stablecoin USDC da Circle e acabaram culminando no rali bullish da segunda-feira (13). O bitcoin e o ether fecharam a semana quase no zero a zero com -1,39% e 1,35%, respectivamente.
Ao contrário do que muitos vão defender, a crise bancária americana não começou através do setor de criptomoedas e sim através das ações do FED nos últimos meses. A rápida e intensa escalada nos juros americanos provocou um rombo no balanço das instituições bancárias através do investimento em títulos do tesouro de longo prazo.
Com a liquidação voluntária do Silvergate no início desta semana, a atenção logo se voltou para o Silicon Valley Bank (SVB), que além de oferecer seus serviços para empresas do setor de criptomoedas, também era o banco de boa parte das startups que receberam investimentos de venture capital nos Estados Unidos.
No início da semana, o banco SVB anunciou que faria uma venda de equity para cobrir alguns prejuízos no balanço causados pelos títulos de longo prazo. O anúncio provocou preocupação em participantes do mercado que começaram a sacar seu dinheiro e, com o aumento dos saques, o pânico acabou gerando uma bankrun e quebrando o banco.
De imediato, a situação do SVB acabou gerando preocupação no mercado de criptomoedas, principalmente devido à relação do banco com a Circle, emissora da stablecoin USDC. O SVB era um dos custodiantes dos ativos que servem de colateral para a emissão da stablecoin e sua insolvência provocou a perda da paridade entre o USDC e o dólar americano.
A paridade entre os ativos só iria retornar no início desta semana com rumores de um provável bailout ao SVB.
Com a abertura do mercado na segunda-feira, o pânico estava instaurado no setor bancário americano, isto porque geralmente os bancos não vão à falência sozinhos, com alguns papéis apresentando prejuízo de mais de 60% no pré-market. Com o risco de uma catástrofe financeira nos Estados Unidos, o mercado começou a precificar uma postura muito mais dovish do FED e a possibilidade de um retorno ao Quantitative Easing.
O mercado cripto recebeu muito bem a notícia, com o bitcoin liderando o rali em uma clara demonstração da utilidade das criptomoedas. Em meio ao caos no sistema bancário americano e a possibilidade de um novo bailout aos bancos, 14 anos após 2008, o Bitcoin provou seu ponto.
Satoshi estaria orgulhoso.
Destaque da semana
Entre os ativos com US$ 10 bilhões ou mais de capitalização de mercado, o destaque da semana fica com o BNB. A criptomoeda da exchange Binance viu uma valorização de 3,4% em meio ao cenário conturbado provocado pelas falências dos bancos associados ao setor cripto nos Estados Unidos.
Análise on-chain
Após dias de queda no saldo de bitcoin nas carteiras de investidores de longo prazo (LTHs), voltamos a ver um crescimento com o evento da insolvência do Silicon Valley Bank. Os LTHs adicionaram mais de 15 mil BTC a suas posições desde a última terça-feira (07).
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O saldo de bitcoin em exchanges viu uma ligeira queda em meio aos eventos da última semana, com quase 20 mil BTC saindo de exchanges nos últimos sete dias.
O tamanho de bloco no bitcoin fez novas máximas recentemente com a popularização dos NFTs na rede. O aumento do tamanho de bloco é saudável para o protocolo no longo prazo, o que traz mais receita para os mineradores e ainda garante a viabilidade do bitcoin mesmo em um cenário em que as recompensas de mineração diminuam ainda mais.
Conclusão
A situação dos bancos nos Estados Unidos é preocupante e tem tudo para marcar o ponto de virada na política monetária americana, já que um FED mais dovish é obviamente benéfico para os mercados. Entretanto, a inflação ainda não está completamente controlada. Os dados do CPI referentes ao mês de janeiro ilustram bem que, por mais que o FED esteja lutando contra o aumento de preços, a situação ainda não está completamente resolvida.
O rali do bitcoin em meio a um cenário de um provável bailout aos bancos é poético. O ativo foi criado em meio a crise financeira de 2008 e, 14 anos depois, estamos mais uma vez cogitando resgatar os bancos. A natureza do sistema fiduciário está escancarada para que todo o mundo possa ver. Satoshi, onde quer que esteja, deve estar sentindo orgulho de sua invenção.
Mesmo que a origem da derrocada dos bancos americanos esteja no aperto monetário promovido pelo banco central americano, a exposição dos bancos que quebraram até então a indústria de criptomoedas será utilizada como narrativa para que os reguladores sejam ainda mais hostis com a indústria e este pode ser o momento chave para o setor em solo americano.´
Por fim, as métricas on-chain parecem refletir a mudança brusca de postura que o mercado espera do Federal Reserve.
Sobre os autores
André Franco: André é Engenheiro Mecatrônico e Analista de criptoativos desde 2017, foi eleito uma das 50 maiores personalidades cripto do Brasil pelo Cointelegraph, com vasta experiência no mercado. André é atualmente o diretor de Research do Mercado Bitcoin.
Rony Szuster: Rony é Engenheiro Químico com pós-graduação em Engenharia de Software, imerso no mercado cripto desde 2019 e contribuidor do Messari Hub em 2021 e 2022. Atualmente integra a equipe de analistas de criptoativos do Mercado Bitcoin.
Lucca Benedetti: Lucca é estudante de Engenharia Química e um entusiasta do mercado desde 2015, tendo se tornado analista de forma profissional em 2021. Possui experiência no nascente campo de finanças descentralizadas (DeFi) e atualmente integra a equipe de analistas de criptoativos no Mercado Bitcoin.
Bernard Pedra: Bernard é estudante de blockchain e criptografia digital e entusiasta do mercado desde 2019 com experiência prática no campo de tokens-não-fungíveis (NFT). Atualmente integra a equipe de analistas de criptoativos no Mercado Bitcoin.
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