Imagem da matéria: Por que o Bitcoin caiu tanto após a aprovação dos ETFs e quando ele deve voltar a subir
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Foram anos de ansiedade e espera até que a Comissão de Valores Mobiliários dos Estados Unidos (SEC) finalmente aprovasse a criação de um ETF de Bitcoin à vista – aliás, 11 de uma vez só. Mas desde o dia da grande notícia o Bitcoin (BTC) praticamente não parou de cair, chegando a perder 15% de valor.

No primeiro dia de negociação dos ETFs, a maior criptomoeda do mundo chegou a bater na marca de US$ 49 mil. A escalada durou durou pouco, levando a uma queda acentuada até menos de US$ 42 mil logo depois. O que explica esse movimento, se a notícia foi boa?

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O raciocínio mais simples remonta a uma velha máxima do mercado financeiro: “sobe no boato, cai no fato”. Ou seja, antes do evento em si os investidores já se animam e compram o ativo, fazendo ele subir de preço. Mas, quando o fato se concretiza, vendem para realizar os lucros.

“O que estamos vivendo agora é um pouco da ressaca pós-ETF”, diz André Franco, head de research do Mercado Bitcoin (MB). “Tinha uma expectativa muito grande de entrada de capital já na largada, mas isso não aconteceu da maneira que as pessoas previam”.

Beto Fernandes, analista de criptomoedas da Foxbit, reforça que o valor de US$ 49 mil atingido logo após a aprovação dos ETFs não era visto desde dezembro de 2021, pouco antes da máxima histórica do BTC. “O montante foi o ponto ideal para que muitos investidores realizassem lucros de suas posições, já que boa parte deles estava no positivo, segundo dados on-chain do período”, explica.

A culpa é da Grayscale?

Outra explicação dada por alguns analistas é que, embora a tese de que os ETFs vão atrair dinheiro novo para o setor permaneça forte, no primeiro momento, investidores que já estavam expostos a fundos que se transformaram em ETFs estão aproveitando para realizar lucros ou realocar seu capital em outras ofertas que tenham taxas mais baratas.

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Isso ocorre principalmente no ETF GBTC, da Grayscale, que é um conversão do fundo da gestora de mesmo nome, considerado o maior e mais antigo do setor cripto.

É o que avalia Renato Nobile, gestor e analista da Buena Vista Capital, que destaca o tamanho do fundo da Grayscale e lembra que a própria ARK (que também lançou um ETF de Bitcoin) investia no GBTC.

“Era um fundo que tinha uma taxa de 2% de administração e tinha um volume muito grande. Assim que foram aprovados os ETFs, houve um resgate em massa desse fundo, justamente prevendo a queda de taxas de outros ETFs, que vão ser muito mais baratos”, explica o gestor.

Dados do JPMorgan indicam que o GBTC já registrou saídas de US$ 1,5 bilhão em apenas uma semana de negociação, e o banco alerta que o fundo pode sofrer ainda mais perdas. 

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“Se a estimativa anterior de US$ 3 bilhões se provar correta e dado que US$ 1,5 bilhão já saiu, então poderá haver mais US$ 1,5 bilhão ainda para deixar o espaço do Bitcoin por meio da realização de lucros no GBTC, colocando assim ainda mais pressão sobre os preços do BTC nas próximas semanas”, disseram os analistas da equipe liderada por Nikolaos Panigirtzoglou em nota.

O Bitcoin vai voltar a subir?

Apesar do movimento negativo nestes primeiros dias pós-aprovação dos ETFs, analistas em geral seguem otimistas com o Bitcoin, ainda que não consigam avaliar quanto tempo irá demorar para que a criptomoeda volte a ganhar força.

Para Franco, do MB, é preciso dar tempo para que os investidores institucionais entendam e entrem de verdade nos ETFs. “Um ciclo de venda de um produto como este para um family office, por exemplo, dura de três a seis meses, com várias etapas de conversas e evoluções”, explica ele.

E apesar de ser possível que parte dessas conversas tenham ocorrido antes da efetiva aprovação, esse tipo de investidor é cauteloso e só passaria a estudar melhor o produto após seu lançamento.

Já Sebastián Serrano, CEO e cofundador da Ripio, complementa dizendo que “a perspectiva futura para os ETFs à vista de BTC continua excepcional”. “Muitas empresas e organizações tradicionais que queriam expor o capital ao Bitcoin, agora podem ter essa possibilidade, sem precisar lidar diretamente com criptomoedas, carteiras e chaves privadas”, afirma.

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Para ele, também é preciso dar mais tempo até que todo o mercado se ajuste e os institucionais realmente sejam atraídos para o Bitcoin: “Ainda há muito a ser ajustado para tornar as condições atraentes para esse capital de grande escala, mas à medida que os ETFs forem negociados, suas gestoras precisarão comprar BTC subjacente para corresponder aos NAVs (Valor Líquido do Ativo, ou o patrimônio total de um fundo) de seus fundos”, diz ele citando ainda uma expectativa de que o BTC atinja o valor de US$ 50 mil nos próximos meses.

Halving do Bitcoin deve ajudar

Outro fator que deve ajudar na recuperação do Bitcoin é o halving, previsto para acontecer em abril. Neste evento, a recompensa de mineradores pelos blocos aprovados na rede cai pela metade, reduzindo assim a oferta de novos bitcoins no mercado, o que tende a fazer uma pressão para cima nos preços, já que a demanda segue em alta.

“Nós estamos a mais ou menos 90 dias do halving, e toda vez que ele acontece temos uma valorização muito forte [dos preços do BTC]”, diz Nobile, gestora da Buena Vista. “Então a adoção, a entrada de institucional e o halving devem fazer com que o Bitcoin suba esse ano”.

Franco, por sua vez, reforça que após o halving é comum que as altcoins também se valorizem bastante, muitas vezes mais que o próprio Bitcoin. “Essa é a primeira pernada do que a gente conhece como um boom market um pouco mais forte que acontece após o período de halving”, afirma.

Para o investidor que está mais receoso com essa queda atual, Fernandes, da Foxbit, lembra que mesmo com a correção, o BTC ainda pode fechar janeiro no positivo, o que significaria o quinto mês seguido de alta, com ganhos de quase 90% no período. “Então, uma correção de preços não vai nada mal neste momento de mercado”, diz.

“É sempre bom lembrar também que nenhum mercado saudável sobe em linha reta. Por isso, as correções são muito importantes para criar novos níveis de suporte e, assim, uma espécie de bolsões de preços que impeçam quedas mais abruptas e sustentem novos avanços”, explica o analista.

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Nem todos estão otimistas

Apesar da visão positiva dos analistas, nem todos estão tão otimistas, pelo menos para o curto prazo. Parte dos analistas já esperava que o preço do Bitcoin caísse nos primeiros dias após a aprovação do ETF, sendo que no final do ano passado, a provedora de dados CryptoQuant alertou que o BTC poderia sofrer uma correção em janeiro e cair para até US$ 32 mil.

Na última quinta, em um relatório, a CryptoQuant disse que ainda existem riscos negativos no radar e que podem puxar o preço mais para baixo.

“Várias métricas e indicadores da rede ainda sugerem que a correção de preços pode não ter terminado ou pelo menos que uma nova alta ainda não está prevista”, disseram os analistas da empresa. “Investidores de curto prazo e grandes detentores de bitcoin ainda estão realizando vendas significativas em um contexto de atitude de ‘sem risco’”.

Os analistas ainda apontam que “as margens de lucro não realizadas não caíram o suficiente para que os vendedores se esgotassem”.

Mas mesmo que ainda ocorram mais correções no curto prazo, Nobile reforça que acredita que o Bitcoin “é um investimento muito interessante para o investidor”. “Acho que qualquer investidor tinha que ter [BTC], claro, de acordo com o seu perfil de risco, porque pensando para o longo prazo, é um dos grandes ativos que tendem a se valorizar bastante”, conclui.

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