A mineração de bitcoin gera diariamente milhões de dólares em diversos países do mundo, mas o Brasil dificilmente consegue tirar uma lasquinha dos ganhos gerados pelo processo.
Preço da energia nacional, insegurança jurídica e alto custo de importação de equipamentos são os principais entraves para a mineração de bitcoin no país, segundo especialistas consultados pelo do Portal do Bitcoin.
“O preço do primeiro quartil de energia no mercado global é de 8 a 22 centavos de real por kilowatt, enquanto que no Brasil é de 26 centavos por kilowatt, no mercado livre de energia. Essa diferença encarece a mineração no país”, disse o empresário Rudá Pellini, co-fundador da Wise&Trust, gestora de ativos digitais baseada nos Estados Unidos.
Além da energia, diz Pellini, outro obstáculo que atrapalha a mineração verde-amarela de bitcoin é que a atividade vive em um limbo jurídico sem um CNAE (Classificação Nacional de Atividades Econômicas) específico. Pesam também a dificuldade de importar equipamentos e a burocracia do país, que atrapalha a vida de qualquer setor:
“Então a gente se pergunta: faz sentido montar uma mineradora Brasil, onde não tem garantia nenhuma, ou é melhor montar em um país onde você tem garantia jurídica e sabe que a lei vai ser respeitada, como nos Estados Unidos?”.
Ave Maria para o Bitcoin
O P2P Allex Ferreira (vulgo Barão do Bitcoin), que trabalha com criptomoedas desde 2011 e chegou a ter uma operação de mineração na China, também acha que a atividade é praticamente impossível de ser exercida no Brasil, em especial por causa da importação.
O país não produz as máquinas de mineração como as ASICS. É preciso trazê-las de outros países, principalmente da China. Só que a alíquota de importação é de 60% sobre o valor do produto, sem contar o frete e o seguro.
“É muito caro levar máquinas para o Brasil de forma rentável, saindo da China, e lucrar com isso. São 30 dias para os equipamentos chegarem, isso se você encontrá-los. Para piorar, se a máquina falhar, será difícil achar alguém que conserta esse tipo de equipamento”, disse.
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Além de lidar com importação e com a burocracia, falou Ferreira, o potencial empreendedor também deve se atentar para outras variáveis, como aluguel de galpão, dificuldade de mineração — que cresce a cada dia — e o preço do bitcoin.
“Na hora que a pessoa ver tudo o que tem que gastar, ela percebe que pode ser que valha mais a pena comprar bitcoin do que minerar. Mas se mesmo assim ela decide partir para a atividade, o ideal é fazer um cálculo matemático, levando em consideração todas as variáveis, e rezar para Ave Maria. Vai ser necessário”, afirmou.
Minerando em casa
Apesar dos entraves, o youtuber Denny Torres, que mantém um canal sobre mineração caseira no Youtube, acha que ainda é possível fazer uma graninha com mineração de bitcoin em casa. O difícil, explica, é encontrar os equipamentos.
“Se você ficar um ano minerando bitcoin, você consegue recuperar o valor investido em equipamentos em seis meses. Mas você só vai conseguir isso se você entrar em um pool de mineração. Sozinho não dá certo”.
Para chegar ao cálculo que prevê um payback em seis meses, Torres usou o site Whattomine, onde é possível ter uma estimativa de gasto com mineraração e faturamento.
Com um equipamento de mineração Antminer S19 Pro, que custa US$ 3,7 mil, por exemplo, seria possível minerar em bitcoin cerca US$ 35 por dia, de acordo com o site. Em seis meses, a pessoa faturaria US$ 6,3 mil e já teria recuperado o investimento na máquina.
Mas o cálculo acima é bruto. Segundo Torres, seria preciso levar em consideração as outras variáveis do processo, como custo de energia, que depende de cada região, e todas as apontadas pelas fontes desta reportagem.