Imagem da matéria: Por que alguns títulos do Tesouro Direto renderam mais que o Ibovespa em 2019?
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Poucas pessoas sabem, mas alguns títulos do Tesouro Direto renderam mais do que o Ibovespa (índice da Bolsa Brasileira), que rendeu 31,58% em 2019. Mas se o Tesouro Direto é um título de Renda Fixa, por que ele teve um rendimento tão alto assim?

Tipo do títuloVencimentoEm 12 mesesÚlimos 30 dias
IPCA+15/05/204596,4%0,89%
IPCA+15/05/203556,3%0,70%
IPCA+ com Juros Semestrais15/08/205052,8%0,56%
IPCA+ com Juros Semestrais15/05/204547,5%0,54%
Prefixado com Juros Semestrais01/01/202942,2%1,12%
Prefixado01/01/202541,6%1,31%
IPCA+ com Juros Semestrais15/05/203538,5%0,81%

Afinal, títulos de Renda Fixa são a classe de ativos de mais baixo risco, enquanto ações estão entre o risco moderado e risco elevado. Logo, qual seria o sentido de um título menos arriscado oferecer maior retorno do que uma classe de ativos mais arriscada?

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O segredo para isso está em um detalhe que muitos ignoram: a variação da cotação do título. Você sabia que dá para fazer “trade” de Tesouro Direto? Quer saber como funciona isso? Confira o restante do texto.

Como funciona o Tesouro Direto?

O Tesouro Direto é um título de dívida emitido pelo Governo Federal. Ele vai te remunerar com algum indicador econômico, geralmente Inflação ou Juros sobre o Valor Principal (dinheiro investido). Ou seja, você empresta dinheiro para o governo e ele vai te pagar com juros no final do período.

Até aí tudo bem, quase todo mundo que investe em Tesouro sabe disso. Mas o problema é que nenhum desses indicadores econômicos superaram a valorização da Bolsa em 2019. Logo, como poderia um título de Renda Fixa ter uma rentabilidade maior do que o Ibovespa?

Sim, essa afirmação está correta: nem a taxa de juros e nem a inflação superaram a valorização da bolsa. O problema é que muitas pessoas só prestam atenção na rentabilidade que elas vão obter. Ou seja, muitas vezes não nos atentamos ao detalhe que pode fazer toda a diferença. E qual é esse detalhe? O preço unitário do título!

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O preço dos Títulos de Renda Fixa

Ao investir em Renda Fixa, não estamos simplesmente “aplicando” no banco igual fazemos com a poupança. Na verdade, o que acontece é o seguinte: você compra um título de Renda Fixa que vai te remunerar de acordo com o que foi combinado no momento da compra.

Esse título tem um preço que é marcado diariamente. Por exemplo: um título do Tesouro Direto remunerado pela inflação com vencimento para 2035 custa R$ 1.973,41. No entanto, você pode comprar esse título de modo fracionado, o que facilita um investimento para quantias menores.

Preço do título Tesouro Direto IPCA+ 2035 em 2019 (Fonte: Tesouro Nacional)

Ao investir, você comprará esse título. Se você investiu em Tesouro Direto IPCA+ 2035, irá receber a inflação do período acrescida de um percentual fixo de juros no vencimento. É importante se ater ao que está escrito em negrito: você receberá a quantia combinada apenas no vencimento do título em 2035.

Quem tentar resgatar um título de Renda Fixa antes do período de vencimento, provavelmente terá prejuízo. Mas por que isso acontece? É bem simples: existe uma diferença no preço da compra e venda de títulos (spread). O preço de venda de títulos é menor do que quando você compra ao investir.

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É por isso que, muitas vezes ao investir, você verá sua carteira ter uma performance negativa. A causa disso está descrita acima: spread entre o preço de compra e o preço de venda. 

Por que o preço dos títulos varia?

Suponha que você investiu R$ 1500 na compra de um título cotado a R$ 1500 que é indexado à inflação. O emissor concordou em te pagar 3% a.a + inflação do período por 20 anos. No entanto, logo depois da compra a expectativa de inflação e taxa de juros começou a cair.

Como seu título é indexado à inflação, seria necessário um prazo maior para pagar o rendimento. No entanto, não é possível aumentar o prazo de vencimento. O que deve ser feito para compensar a baixa expectativa de juros e inflação?

O preço dos títulos vai precisar subir para compensar a baixa nos indicadores econômicos. Isso acontece porque o comportamento da inflação e da taxa de juros são fatores importantes na composição de preço dos títulos.

O gráfico acima demonstra o funcionamento da rentabilidade do Tesouro Direto. O preço do título precisa subir para compensar o pagamento da baixa taxa de juros. (Gráfico: Investificar)

No gráfico acima, você viu a valorização do título. No gráfico abaixo, você verá o que aconteceu com a taxa de rentabilidade no mesmo período. O que acontece: o preço precisa subir para compensar a baixa rentabilidade.

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Rentabilidade do Tesouro Direto IPCA+ 2035 (Fonte: Tesouro Nacional)

De forma simples, o preço dos títulos funciona assim:

  • Quando a taxa de juros cai, o preço do título aumenta e beneficia quem comprou o título quando a taxa de juros estava alta.
  • Quando a taxa de juros sobe, o preço do título cai e prejudica quem comprou o título quando a taxa de juros estava baixa.

No ano de 2019, o preço dos títulos de Tesouro Direto disparou. O Título Tesouro IPCA+ 2035 chegou a ter uma valorização de 56%. Ano passado o mercado esperava uma redução nas taxas de juros. E ela veio: caiu para os níveis mínimos da história.

Com isso, o preço dos títulos disparou e quem comprou Tesouro Direto IPCA + antes de 2019 conseguiu ter uma boa rentabilidade. Enquanto a expectativa era a de queda de juros, o preço do título continuou subindo e quem comprou conseguiu ganhar um bom dinheiro.

Mas quando o mercado parou de esperar novas quedas nos juros, o preço voltou a cair. Ou seja, a taxa de juros é um dos principais fatores que determinam o preço dos títulos. Logo, essa valorização não poderia durar para sempre.

Como fazer trade com Tesouro Direto?

É possível se aventurar no trade de Tesouro Direto. No entanto, é necessária uma advertência: não tente fazer isso se você não entende de conjuntura macroeconômica, ciclos econômicos e o funcionamento da dinâmica da taxa de juros.

Não existe uma “bolsa” para negociar Tesouro Direto. Logo, você perde muito em liquidez, o que acaba gerando um spread entre a compra e a venda do título. Portanto, esse tipo de operação não é para o curto prazo. Ela deve compreender um horizonte mínimo de 6 meses a 1 ano.

O trade de Tesouro Direto vale a pena quando o preço dos títulos está baixo e a taxa de Juros está muito alta. Você pode, embasado em informações macroeconômicas, apostar a favor de uma queda de taxa de juros e comprar títulos. Quem fez isso até 2018 conseguiu bons retornos financeiros.

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Se o preço dos títulos subiu muito, é melhor esquecer esse “trade” como novo investimento e procurar por outras oportunidades, ou esperar a taxa de juros subir muito e o preço dos títulos desvalorizar novamente.

Vale a pena fazer esse tipo de operação com o Tesouro Direto?

Pessoalmente, eu não faria. Os títulos valorizaram bem durante 2019 e a inflação voltou a subir, o que pode fazer necessária uma nova elevação na taxa de juros, diminuindo o valor dos títulos e atrapalhando seus planos.

Nossa economia está começando a se recuperar. O governo está precisando incentivar a economia. Ele pode fazer isso através de dois modos:

  1. Aumentar os seus gastos com infraestrutura para gerar empregos; 
  2. Ou provocar uma expansão monetária através de crédito barato com baixas taxas de juros.

Acontece que o orçamento do nosso governo está apertado. O que nos leva a escolher a segunda opção: expansão monetária para incentivar a economia. Portanto, a tendência é que os juros tenham uma leve alta, ou que se mantenham no mesmo patamar, caso nada de extraordinário aconteça. 

*Texto escrito por Lucas Bassotto e publicado originalmente pelo site Investificar.

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