Já nos acostumamos: uma empresa de videogames anuncia planos com tokens não fungíveis (ou NFTs, na sigla em inglês) e, em seguida, se inicia a revolta.
Em alguns casos, a empresa cancela seus planos e publica um “mea culpa”. Isso aconteceu novamente esta semana conforme a publicadora Team17 e seus planos com NFTs baseados na franquia de videogames “Worms” agora foram cancelados.
Na terça-feira (1º), a publicadora independente de jogos confirmou no Twitter que estava mudando de caminho após enfrentar muitas críticas nas redes sociais após o anúncio dos NFTs na segunda-feira (31).
“Hoje, a Team17 está anunciando o fim do projeto NFT MetaWorms”, tuitou. “Ouvimos nossos Teamsters, parceiros de desenvolvimento e nossas comunidades de jogos, as preocupações que expressaram e, assim, tomamos a decisão de nos afastarmos do setor NFT.”
A publicadora britânica planejava lançar colecionáveis NFT inspirados pela franquia Worms, que vendeu 75 milhões de jogos ao longo de seus 26 anos.
A Team17 firmou uma parceria com o Reality Gaming Group para lançar os colecionáveis na sidechain do Ethereum da empresa, a plataforma Digital Asset Trading (ou DAT).
Porém, além da resistência de fãs e grandes membros da comunidade do videogame, a Team17 também enfrentou resistência de seus parceiros.
Aggro Crab, um estúdio que lançou seu jogo “Going Under”, em 2020, com a Team17, disse que não iria mais trabalhar com a longeva publicadora se os planos NFT não fossem cancelados.
“Acreditamos que NFTs não podem ser favoráveis ao meio ambiente, ou úteis e, realmente, são apenas um golpe”, afirma Aggro Crab.
“Nem é preciso dizer que não iremos trabalhar com eles em outros títulos e incentivar outros desenvolvedores independentes a fazerem o mesmo a menos que a decisão seja revertida.”
Outros desenvolvedores que trabalharam com a Team17 nos últimos anos, como SMG Studio e Playtonic Games, também publicaram mensagens em oposição a projetos NFT.
Preparando-se para críticas
Embora jogos desenvolvidos no Ethereum, como Axie Infinity e The Sandbox, chamem bastante a atenção, com bilhões de dólares coletivamente em volume negociado de NFTs, empresas tradicionais de videogames enfrentaram uma grande resistência de fãs ao entrarem no setor.
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Um NFT atua como um contrato de propriedade a um item digital e, embora possa representar coisas, como obras de arte digitais e fotos de perfil, também podem indicar um item exclusivo de um videogame (como um personagem, uma arma única ou um lote de terra personalizável).
O mercado NFT, como um todo, gerou US$ 23 bilhões de volume negociado em 2021, segundo o DappRadar.
A tecnologia NFT permite que jogadores realmente possuam, revendam e lucrem com itens que adquiram e até pode ser possível usar itens NFT de um jogo ou mundo de metaverso para o outro.
Mas os primeiros exemplos da tecnologia pelo setor de videogames foram recebidos com muitas críticas.
Por que fãs de videogames tradicionais resistem tanto à tecnologia NFT? Alguns citam o impacto ambiental de redes blockchain, como Ethereum e Bitcoin, apesar de muitas redes, incluindo Solana e Tezos, não usarem tanta energia.
Outros a consideram como um golpe, nas palavras do Aggro Crab, ou uma forma de publicadores de jogos extraírem mais dinheiro de jogadores. Jogos “free-to-play” e conteúdos para download (ou DLC) também receberam críticas de jogadores antes de se tornarem padrões da indústria.
A Ubisoft foi a primeira grande publicadora de jogos a implementar itens NFT internos ao jogo por meio da blockchain Tezos, conforme anunciado em dezembro, e também foi alvo de críticas, mas decidiu continuar com seus planos.
A plataforma NFT Quartz da Ubisoft foi lançada com o jogo Ghost Recon Breakpoint e pode ser estendida para outros jogos da Ubisoft.
Grandes publicadoras, como Square Enix e Konami, também enfrentaram uma recepção negativa ao anunciarem seus respectivos planos com NFTs.
Enquanto isso, GSC Game World cancelou planos de implementar NFTs no seu futuro jogo, “S.T.A.L.K.E.R. 2: Heart of Chernobyl”, e o aplicativo de chat com foco em jogos Discord suspender planos de acrescentar uma conectividade à carteira cripto após críticas.
*Traduzido e editado por Daniela Pereira do Nascimento com autorização do Decrypt.co.