Há exatamente três anos, o mundo recebeu a notícia da morte de John McAfee, pioneiro da tecnologia e uma das primeiras celebridades a apoiar publicamente o Bitcoin. Na época, fontes oficiais da Espanha afirmaram que a morte do magnata anglo-americano havia ocorrido por meio de suicídio em uma cela do centro prisional Brians 2, em Sant Esteve Sesrovires, Barcelona.
McAfee, então com 75 anos, havia sido preso em outubro de 2020 no Aeroporto de Barcelona tentando embarcar para Istambul. Ele era considerado foragido da justiça dos EUA por sonegação de impostos e lavagem de dinheiro, acusações que ele refutava publicamente enquanto vivia com o uso de criptomoedas, enquanto pregava a política libertária.
Ele morreu no mesmo dia em que o Supremo Tribunal da Espanha autorizou sua extradição para os Estados Unidos, em 23 de junho de 2021, cuja viagem o colocaria de frente às autoridades da Receita Federal americana; mas John McAfee decidiu mudar o rumo de tudo.
A última ligação de John McAfee
Na manhã da decisão judicial, Janice McAfee, sua esposa, acostumada a falar com McAfee três vezes por dia, recebeu o que seria a última ligação do marido.
“Antes de a ligação terminar, eu disse a John que o amava, como sempre fiz, e suas últimas palavras para mim foram “eu te amo e ligarei para você à noite”, relata Janice em um artigo publicado no blog Loggiaonfire. “Infelizmente, aquela ligação noturna nunca chegou”.
O corpo
No mesmo texto, a esposa de John, como ela o chamava, deixa claro que anos depois ela ainda não conseguia digerir o laudo de post mortem das autoridades espanholas, mesmo com um sinal deixado pelo marido no antigo Twitter, que dizia:
“Saiba que se eu me enforcar, à la Epstein, não será culpa minha” — o financista americano, Jeffrey Epstein, suicidou-se em uma prisão de Nova York em 2019 enquanto aguardava julgamento por tráfico sexual de menores.
Na ocasião da morte de John McAfee, uma autópsia realizada por autoridades espanholas determinou que McAfee cometeu suicídio. O documento aponta que seu corpo foi encontrado pendurado na cela e que ele já havia tentado se matar anteriormente, o que Janice duvidava constantemente.
O corpo de John McAfee ficou por cerca de dois anos no Instituto de Medicina Legal e Ciências Forenses da Catalunha antes de ser liberado em 14 de dezembro de 2023 para sua família nos EUA, onde vive sua filha Nasiya. Em dezembro de 2019, John a apresentou em um tweet como irmã de Nyana, sem confirmar que essa também seria sua progênita.
Fortuna evaporou
Acerca da fortuna de John não se tem notícia relevante, mas sabe-se que ele muitas vezes foi tachado de multimilionário e de lenda do Vale do Silício, ainda que tenha supostamente torrado tudo em vida.
A verdade é que o produto que ele criou, o antivírus que leva seu nome, e posteriormente a vinda ao mercado da McAfee, Inc., lhe rendeu US$ 100 milhões (ou R$ 544 milhões atualmente) com a venda de sua ações em 1996, quando ele resolveu deixar a companhia.
Em junho de 2021, no entanto, e já preso na Espanha, ao comentar sobre sua condição financeira, John disse: “Eu não tenho nada”, se referindo tanto a dinheiro quanto Bitcoin.
O polêmico John McAfee
Nascido em Cinderford, Reino Unido, em setembro de 1945 e crescido nos EUA, John McAfee teve uma infância conturbada por problemas familiares, incluindo a morte do pai — supostamente alcoólatra e abusivo, quando ele tinha apenas 15 anos.
Adulto, McAfee se tornou um gênio da informática, mas também desafiou continuamente as normas sociais e os limites legais que o fez deixar um legado atolado em controvérsias — pelo menos nos EUA, onde se abstinha em pagar impostos, e em Belize, onde em 2012 se tornou suspeito do assassinado de um vizinho.
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Pai do antivírus e libertário
Criador do ‘McAfee’ — antivírus onipresente na década de 1990 e até hoje comercializado em todo o mundo —, John McAfee ficou famoso na comunidade de criptomoedas por defender o Bitcoin.
Em uma de suas publicações de 2017 no Twitter, ele mostrou sua atitude positiva com a maior criptomoeda do mundo, prevendo que ela valeria US$ 1 milhão até 2020.
Em outro prisma, John McAfee também se destacou por se envolver em vários projetos controversos no setor.
Sonegação e pump and dump
Autoproclamado libertário, quando ele fugiu dos EUA passou a viver em um barco, cujas viagens o distanciaram das autoridades que os caçavam.
Ele alegou ter sido preso 21 vezes por sonegação de impostos, violações às normas da SEC, uso de drogas, dentre outras coisas. Ele mesmo chegou a admitir que não pagou impostos nos EUA durante mais de oito anos por entender que eles eram injustos.
McAfee foi condenado a 30 anos de prisão por denúncias de evasão fiscal entre 2016 e 2018, por um suposto esquema de “pump and dump” de uma oferta inicial de moeda (ICO, na sigla em inglês), que autoridades alegam tê-lo feito lucrar mais de US$ 23 milhões.
John e Janice McAfee
A fuga de John lhe proporcionou uma lua de mel com Janice, com quem não hesitava em postar fotos românticas em alto-mar. Aliás, John vivia nas redes sociais, especialmente no Twitter. Ele usava o espaço como um diário para alimentar a imprensa e seus milhões de seguidores com atualizações às vezes até sem sentido.
Janice atualmente parece levar uma vida normal, postando regularmente fotos com a família ou frases marcantes de John, cuja história virou documentário da Netflix intitulado “John McAfee: Gênio, Polêmico e Fugitivo”.
Ele se candidatou a presidente. Ele fugiu da lei. Ele parecia carregar um arsenal de armas em seu iate, alegando ser perseguido pela CIA, ele gravou esquetes polêmicas, foi supostamente envenenado…. John passou por muitas histórias.
Mas não importa o quão fascinante tenha sido sua visão libertária para anarcocapitalistas quando ele dizia que “a impressão de dinheiro levará o dólar ao colapso” ou o quão decepcionante foi sua vida regada a álcool e drogas: John McAfee teve um final trágico.
Uma coisa é certa, John McAfee será sempre lembrado como o “pai do antivírus” e o “porta-voz das criptomoedas”, pelo menos no seu tempo.
“Sim, eu bebo, uso drogas, vou atrás de mulheres, fujo da lei — o que tenho feito desde que eu tinha 19 anos. Mas isso não evita o fato de que eu criei uma grande empresa cujo foco era impedir hackers. Eu tinha que saber como hackear. Eu ainda sou o John Fucking McAfee”.
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