Congelamento
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Investidores voltam a apostar em ativos de risco como as criptomoedas nesta sexta-feira (11), mais animados com a divulgação de dados que mostram a inflação mais fraca nos EUA. Até o FTT, token nativo da quebrada corretora FTX, registra alta de 18%, embora novas notícias sobre o colapso da exchange e uma possível contaminação do mercado recomendem cautela. 

O Bitcoin (BTC), que chegou a cair para o nível mais baixo em dois anos, avança 3,8% nas últimas 24 horas, cotado a US$ 17.340,99, segundo dados do CoinGecko. O Ethereum (ETH) sobe 7,7%, para US$ 1.272,12. 

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Em reais, o Bitcoin ganha 4,95%, negociado a R$ 92.596,95, mostra o Índice do Portal do Bitcoin (IPB).  

Solana (SOL) tem alta de 22,5% nas últimas 24 horas. O token foi um dos mais atingidos pela onda vendedora devido ao seu peso no balanço da Alameda Research, braço de investimentos da FTX. Na semana, as perdas acumuladas ainda superam 40%. 

Outras altcoins mostram valorização nesta sexta, com destaque para Binance Coin (+4,8%), XRP (+3,7%), Cardano (+2,7%), Dogecoin (+4,4%), Polygon (+15%), Polkadot (+0,2%), Shiba Inu (+4,1%) e Avalanche (+4,3%). 

BlockFi congela saques

O colapso da FTX ameaça se espalhar para outras corretoras. A exchange americana BlockFi – que havia sido resgatada pela FTX em junho – avisou os clientes de que estará “limitando a atividade da plataforma” – um eufemismo para bloqueio de saques. Ao mesmo tempo, reguladores do estado da Califórnia iniciaram uma investigação da empresa.

“Nós, como o resto do mundo, descobrimos essa situação através do Twitter”, escreveu a BlockFi em uma carta postada no site de mídia social na quinta-feira. “Estamos chocados e consternados com as notícias sobre FTX e Alameda.”

A BlockFi diz que, dada a falta de clareza sobre o status da FTX, FTX US e Alameda, “não podemos operar os negócios como de costume”. Como resultado, a atividade da plataforma – incluindo saques – será limitada. A empresa também desencorajou os clientes a fazer depósitos em carteiras hospedadas e abrir novas contas.

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Crise da FTX 

Apesar dos ganhos das principais criptomoedas nesta manhã, o cenário ainda é incerto diante do amplo alcance das operações da FTX. 

Reguladores nas Bahamas – país-sede da FTX – congelaram os ativos da corretora na noite de quinta-feira, suspenderam seus registros e pediram à Justiça local a liquidação da empresa em meio à crise de liquidez da companhia, segundo o Decrypt.

A agência local de regulação das Bahamas disse estar ciente de declarações sugerindo que os ativos da FTX foram mal administrados. A comissão chamou essas ações de potencialmente ilegais e disse que o “curso de ação prudente” era colocar a FTX em liquidação provisória para “preservar ativos e estabilizar a empresa”.

A FTX abriu sua nova sede nas Bahamas em setembro de 2021, depois de mudar a operação de Hong Kong, chamando as Bahamas de um dos poucos países a estabelecer uma legislação adequada para as criptomoedas.

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“Já estamos vendo ações dos reguladores dos EUA ao Japão, Bahamas e outros locais. Espere mais por vir e é disso que o mercado de criptomoedas precisa muito no momento. As pessoas saem prejudicadas e necessitam proteção”, afirmou Kami Zeng, chefe de pesquisa da Fore Elite Capital Management, uma gestora de fundos criptoem Hong Kong. 

A FTX também está sendo investigada pela SEC, a CVM dos EUA, e pela Comissão de Negociação de Futuros de Commodities (CFTC) por suposta violação das leis de valores mobiliários, de acordo com a Bloomberg

Causas da ruína da FTX

Reportagem do Financial Times mostra o desafio à espera de possíveis credores e agências de aplicação da lei em meio às investigações já em andamento para descobrir as causas que levaram à ruína do império de Sam Bankman-Fried (SBF). O jornal elaborou um raio-X da  exchange com base em dados de março deste ano, e o mapa revela uma estrutura altamente complexa

Entrevistas do CoinDesk com funcionários atuais e profissionais que saíram da empresa também dão pistas sobre como a corretora conduzia os negócios. “Toda a operação era dirigida por um bando de garotos nas Bahamas”, disse uma pessoa a par do assunto ao portal sob condição de anonimato. 

Muitos trabalharam com SBF na empresa de trading quantitativo Jane Street, enquanto outros eram conhecidos do MIT, o Instituto de Tecnologia de Massachussets. Essa fonte afirmou que a “sala de controle” estava localizada em uma cobertura luxuosa nas Bahamas, onde SBF morava com o grupo do alto comando, que incluía a CEO da Alameda, Caroline Ellison, que também teria namorado o executivo, segundo a pessoa. Bankman-Fried e Ellison não responderam a pedidos de comentário. 

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Conexões com a Alameda 

A Alameda Research está no centro da crise da FTX, depois que dados do balanço mostraram que o token FTT respondia por US$ 5,8 bilhões dos US$ 14,6 bilhões em ativos da empresa de investimentos e trading. 

Na quinta-feira (10), o dono da FTX anunciou via Twitter que vai encerrar as operações da Alameda como uma tentativa de isolar a empresa e aumentar a liquidez. Segundo SBF, os ativos dos clientes da FTX nos EUA “estão bem”.  

No entanto, reportagem do Wall Street Journal indica que a interdependência entre a FTX e a Alameda pode ser mais profunda. A FTX teria emprestado bilhões de dólares para a Alameda para financiar apostas arriscadas e agora o rombo é de cerca de US$ 10 bilhões, dinheiro depositado por clientes na exchange para negociação. 

Captação de recursos 

A corretora em crise também precisa levantar US$ 9,4 bilhões com investidores e rivais para tentar sobreviver, disse uma fonte disse à Reuters. 

Nesta sexta, uma fonte próxima ao SoftBank afirmou à Reuters que o investimento do Vision Fund nos EUA e nas operações internacionais da FTX era inferior a US$ 100 milhões e que será zerado. 

O CEO do Jefferies Financial Group, Rich Handler, acredita que poderia ter ajudado a FTX a evitar a crise atual, se Bankman-Fried tivesse aceitado os convites para uma conversa este ano. Na época, Handler já desconfiava que SBF poderia ter problemas. Em julho, o CEO do Jefferies tentou marcar uma reunião com Bankman-Fried por intermédio de um colega de trabalho, mas o CEO da FTX teria ignorado o convite, assim como em outra ocasião em setembro, segundo a Bloomberg. 

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Pedido de desculpas 

No Twitter, SBF pediu desculpas pelos erros “graves” e aproveitou para mandar um recado para para Chanpeng “CZ” Zhao, fundador da Binance: 

“Em algum momento, terei mais a dizer sobre um parceiro em particular. Mas vocês sabem, telhado de vidro. Por enquanto, tudo que tenho a dizer é: bela jogada, você venceu.” 

Enquanto isso, a Binance continua no jogo. Numa tentativa de acalmar o mercado, a maior exchange cripto do mundo revelou a lista dos seis principais ativos em “cold wallets” (carteiras frias) e reservas. A empresa tem sob custódia US$ 71 bilhões em BTC, ETH, BNB e BUSD, segundo as cotações na manhã da quinta-feira (10). 

Mais da metade desse total (US$ 38,5 bilhões) vem de tokens lançados pela própria corretora: BUSD, sua stablecoin lastreada em dólar, e BNB, seu token nativo. 

A Binance também informou que vai divulgar provas das reservas nas próximas semanas. 

Saques na FTX 

A FTX suspendeu a inscrição de novos usuários na plataforma após críticas de que estava permitindo a entrada de novos clientes, apesar dos problemas de liquidez.  

Mas após 48 horas de fundos travados, alguns clientes da FTX conseguiram sacar criptomoedas da plataforma na tarde da quinta-feira. Um usuário, por exemplo, retirou o equivalente a US$ 2,6 milhões em Ethereum, segundo dados da empresa de análises on-chain Nansen. 

Em outra medida para facilitar os saques, a conta oficial da FTX no Twitter comunicou que a empresa fechou um acordo para obter uma linha de crédito da Tron, blockchain fundada por Justin Sun, que mostrou interesse em “trabalhar em uma solução” para aliviar a crise de liquidez. 

“Temos o prazer de anunciar que chegamos a um acordo com a Tron para permitir que os detentores de TRX, BTT, JST, SUN e HT troquem ativos da FTX 1:1 para carteiras externas”, escreveu a corretora, informando que US$ 13 milhões em ativos já seriam disponibilizados para facilitar essas trocas, além da promessa de injeções semanais de crédito condicionadas a vários fatores. 

Impacto em stablecoins 

De olho nas ramificações da FTX, autoridades apertam o cerco. A Tether, emissora da stablecoin de mesmo nome e que opera sob o código USDT, informou o bloqueio temporário de US$ 46 milhões do token justamente em uma carteira na rede Tron, a pedido de agências que conduzem investigações, disse um executivo da empresa ao CoinDesk. De acordo com dados do Tronscan, explorador de blocos da Tron, a carteira pertence à FTX. 

As stablecoins também foram atingidas pela pressão de venda no mercado. Tanto a USDT quanto a USDD, criada por Justin Sun, chegaram a ser negociadas abaixo de US$ 1. 

A organização autônoma descentralizada da Tron (DAO) disse que vai comprar 1 bilhão de unidades de USDT para amortecer o impacto no mercado cripto e na indústria de blockchain. 

Bitcoin hoje 

Na quinta-feira, o Bitcoin chegou a subir mais de 13% e encostar em US$ 18 mil após a divulgação do relatório de inflação ao consumidor nos EUA, o chamado CPI. O índice em 12 meses mostrou alta de 7,7%, o menor nível desde janeiro. Além disso, o núcleo da inflação, que exclui alimentos e energia, também veio abaixo do esperado. Esse indicador é mais importante para o banco central americano em suas decisões de política monetária. 

Em entrevista à Bloomberg, Matthew Simpson, analista sênior de mercado na StoneX Financial, disse que o Federal Reserve deve desacelerar o ritmo de aperto monetário daqui em diante. “Batendo na madeira, podemos dar adeus aos aumentos de 75 pontos-base, desde que os próximos dados permitam, mas, com a inflação provavelmente permanecendo elevada, acredito que veremos juros acima de 5% no próximo ano”, afirmou.  

Algumas autoridades do BC americano já deram sinais nesse sentido. Depois da divulgação do CPI na quinta-feira, a presidente do Fed de Dallas, Lorie Logan, disse que em breve será apropriado reduzir o ritmo de altas das taxas para avaliar melhor as condições econômicas, embora tenha alertado que isso não significa “uma pausa” no aperto, mas uma desaceleração. 

Outra notícia que anima o mercado acionário nesta sexta vem da China, onde o governo decidiu flexibilizar as regras de quarentena para pessoas que chegam ao país e seus contatos mais próximos, em uma marcante mudança em sua política Covid Zero. 

Outros destaques das criptomoedas

Elon Musk, em seu primeiro discurso a funcionários do Twitter desde que comprou a empresa por US$ 44 bilhões, disse que a recuperação judicial é uma possibilidade se a rede social não começar a gerar mais dinheiro, disseram fontes à Bloomberg. Musk iniciou o comando da plataforma com decisões polêmicas, como o fim do trabalho remoto e redução de comida grátis na empresa. 

A Coinbase disse que está demitindo mais de 60 funcionários em meio à turbulência causada pela crise na FTX. As demissões atingem a área de recrutamento e têm como objetivo ajudar a empresa a “operar da maneira mais eficiente possível”. 

A Binance segue com os planos de conseguir uma licença no Reino Unido. A exchange contratou Nish Patel para avançar as negociações com reguladores no país, onde a operadora não tem autorização para operar. 

Os relatores do projeto de lei do Senado dos EUA que pretende aumentar a supervisão de criptomoedas, consideradas como commodities digitais, planejam avançar com a proposta, segundo o The Block. O CEO da FTX, Sam Bankman-Fried, foi o mais forte defensor do PL, conhecido como Lei de Proteção ao Consumidor de Commodities Digitais. Na União Europeia, ministros das finanças do G20 pediram a regulação “urgente” do setor cripto diante da nova crise. 

O Banco do Brasil fez um investimento estratégico na Bitfy, startup brasileira especializada em infraestruturas baseadas na tecnologia blockchain e carteiras de criptomoedas, segundo informado pelo presidente do BB, Fausto Ribeiro, durante a apresentação dos resultados do terceiro trimestre no canal da instituição no YouTube. O valor do investimento não foi revelado. Segundo nota da Bitfy enviada ao Portal do Bitcoin, o aporte é o primeiro realizado por meio do BB Impacto ASG, fundo de Corporate Venture Capital do Banco do Brasil que, sob gestão da VOX Capital, está orientado para a geração de impacto positivo. 

O PicPay anunciou a liberação de duas novas criptomoedas para negociações em sua plataforma no aplicativo: Uniswap (UNI) e Chainlink (LINK). Lançada em agosto deste ano, a exchange oferece sete tokens para negociação. Uniswap (UNI) e Chainlink (LINK), que estão disponíveis para todos os usuários, se juntam a outras cinco criptomoedas: Litecoin (LTC) e Polygon (MATIC), liberadas em outubro, além de Bitcoin (BTC), Ether (ETH) e Pax Dollar (USDP). 

Jean Guilherme, fundador do projeto Social Crypto Art, entrou para o mundo dos tokens não fungíveis (NFTs) como uma forma de levar o que há de mais novo na tecnologia para a periferia, segundo a Exame. Seu projeto angaria fundos para o impacto social no Morro Santo Amarto, no Rio de Janeiro.  

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