Outra plataforma de finanças descentralizadas em crise e perspectiva de menor liquidez. Essa combinação afasta investidores de ativos vistos como arriscados, enquanto aguardam mais pistas do banco central dos Estados Unidos sobre o rumo dos juros no país.
Os índices futuros das bolsas americanas dão sinais de uma abertura no azul nesta terça-feira (14), enquanto o Bitcoin (BTC) é negociado em baixa de 7,4% nas últimas 24 horas, cotado a US$ 22.306, segundo dados do CoinGecko. O Ethereum, em queda livre nos últimos dias, volta a recuar 4,4%, negociado a US$ 1.189.
No Brasil, o Bitcoin perde 5,2%, cotado a R$ 116.058, de acordo com o Índice do Portal do Bitcoin (IPB).
Na contramão, algumas altcoins ensaiam uma recuperação como Binance Coin (+1,6%), XRP (+2,9%), Solana (+14,9%), Cardano (+14%), Polkadot (+13,8%), Dogecoin (+5,1%), Avalanche (+13%), e Shiba Inu (+9,5%).
A decisão da plataforma de empréstimos cripto Celsius de suspender saques e transferências causou pânico em parte dos investidores, que já tinham a confiança abalada pelo derretimento do ecossistema Terra/LUNA, e o mercado derreteu na segunda-feira.
Com a volatilidade, os saques de Bitcoin na Binance, maior exchange de criptomoedas do mundo, ficaram indisponíveis por quase quatro horas na segunda-feira (13) devido a uma “transação travada na cadeia”. Os saques foram normalizados por volta das 12h30 de Brasília. O problema já atingiu a corretora em outros momentos críticos, e geralmente é causado quando há um aumento na demanda de saques que não conseguem ser processados a tempo.
Relatório da Glassnode aponta que o Bitcoin está diante de uma menor demanda de investidores de longo prazo combinada com pressão vendedora dos “holders” de curto prazo. Ainda assim, fluxos semanais indicam que investidores institucionais compraram na baixa e com desconto. A nona maior baleia do mercado, por exemplo, adquiriu 7.000 BTCs na manhã da segunda-feira.
Decisão do Fed
Começa nesta terça-feira a reunião de política monetária do Federal Reserve. A decisão sai amanhã (15) e, embora alguns analistas não descartem um aumento de 0,75 ponto percentual, outros dizem que, caso realmente suba os juros acima do previsto, o Fed pode colocar em risco a credibilidade de suas estimativas divulgadas ao mercado.
“No que diz respeito aos níveis de suporte, os próximos dias certamente testarão os ativos digitais se um ritmo mais rápido de aperto e aumentos dos juros mais agressivos forem anunciados”, escreveu Rich Blake, consultor financeiro da Uphold, em nota ao CoinDesk.
“(…) A volatilidade alta deve ditar o ritmo dos mercados, os pontos de controle estão em 22 mil dólares de suporte e 28 mil dólares de resistência para o BTC. As altcoins apresentarão movimentos ainda maiores neste momento de estresse”, disse Lucas Passarini, trader do MB, em entrevista ao Portal do Bitcoin.
Menos ricos
O valor de mercado total das criptomoedas, que superava US$ 3 trilhões em novembro, somava menos de US$ 1 trilhão na segunda-feira, mostram dados do CoinGecko. Mais de um US$ 1,1 bilhão foram liquidados no mercado cripto na segunda-feira. Os volumes de posições compradas e vendidas foram os maiores dos últimos três meses, de acordo com dados da Coinglass.
Não foram apenas os pequenos investidores que perderam dinheiro. Desde novembro, a fortuna de sete bilionários da indústria despencou em US$ 114 bilhões no total, de acordo com o Índice de Bilionários da Bloomberg. O patrimônio do CEO da Binance, Changpeng “CZ” Zhao, por exemplo, diminuiu 89% no período, para US$ 10,2 bilhões.
Visão dos evangelistas
Michael Saylor, CEO da MicroStrategy, um dos maiores “evangelistas” do Bitcoin, agora enfrenta um prejuízo não realizado superior a US$ 1 bilhão relativo a suas posições na maior criptomoeda. Investidores estão atentos aos passos de Saylor, já que a empresa de software de análise tem um empréstimo garantido em Bitcoin. Em maio, a MicroStrategy disse em teleconferência que se o BTC caísse para cerca de US$ 21.000 a empresa teria que colocar mais fundos como garantia além dos US$ 820 milhões já prometidos.
Para o analista de criptomoedas e trader Marcel Pechman, os rumores sobre a MicroStrategy são infundados, já que Saylor poderia esperar até um preço de US$ 5 mil para ter que liquidar seus bitcoins obtidos com empréstimos colateralizados.
Mike Novogratz, fundador e CEO da Galaxy Digital Holdings e outro evangelista do Bitcoin, diz que as criptomoedas estão mais perto de um piso do que os índices acionários dos EUA, que ainda podem cair entre 15% e 20%.
Outros destaques
A forte volatilidade também abalou a paridade com o dólar da stablecoin USDD da rede Tron, que chegou a cair para US$ 0,91 na segunda-feira, de acordo com o CoinDesk. O fundador da Tron, Justin Sun, disse que US$ 650 milhões foram adicionados às reservas da USDD e que a blockchain também planeja injetar US$ 2 bilhões para amenizar a pressão vendedora contra o token nativo TRX.
Com os mercados sob pressão, a corretora de Singapura Crypto.com irá demitir 260 pessoas, cerca de 5% dos funcionários, de acordo com o CEO da empresa, Kris Marszalek. A plataforma de empréstimos BlockFi também anunciou cortes na segunda-feira, que correspondem a 20% da força de trabalho.
A crise na plataforma Celsius foi citada pelo presidente do Banco da Inglaterra, Andrew Bailey, em audiência no Parlamento do Reino Unido. “Criptoativos não têm valor intrínseco. Nesta manhã (segunda-feira) vimos outro colapso em uma exchange de criptomoedas”, disse Bailey.
Apesar da forte correção dos preços das criptomoedas, o interesse de consumidores ainda é alto, destaca pesquisa do Bank of America divulgada pelo CoinDesk. Cerca de 91% dos 1.000 entrevistados pretendem comprar criptomoedas nos próximos seis meses, o mesmo percentual dos que disseram ter comprado nos últimos seis meses.
Em artigo bem-humorado, o colunista do Financial Times, Robin Wigglesworth, diz que o “timing” da publicação de um anúncio de quatro páginas na revista New Yorker com a modelo Gisele Bündchen, ao lado do “menos fotogênico” CEO da FTX, Sam Bankman-Fried – justo em um dia em que o mercado estava derretendo – não foi o dos melhores.
Regulação, Cibersegurança e CBDCs
O investidor Jeffrey Lockhart, que perdeu dinheiro com o colapso da TerraUSD, decidiu processar a BAM Trading Services, que representa a Binance US, o braço da corretora nos EUA. De acordo com ação coletiva registrada na segunda-feira (13) em um tribunal federal em São Francisco, o investidor alega que a exchange não respeitou a regulamentação federal ao não ser registrada no país e promover a stablecoin como um ativo mais estável do que era na realidade, segundo informações do CoinDesk e Bloomberg. Um porta-voz da Binance.US disse que o processo não tem fundamento e que a corretora é registrada na FinCEN, uma agência de combate a crimes financeiros nos EUA.
Em entrevista durante a conferência Consensus 2022, em Austin, no Texas, o CEO da Binance disse que provavelmente a corretora não ofereceu alertas e gestão de risco suficientes no passado, mas a companhia pretende fornecer mais educação financeira e informações aos usuários de agora em diante.
Reportagem da Bloomberg destaca que a participação de mercado da Binance no Brasil pode encolher com as novas regras em tramitação no Congresso para os criptoativos, já que a adaptação à regulamentação, como a exigência de sede no país, deve aumentar os custos da corretora e também suas taxas. A Binance está “trabalhando com as autoridades brasileiras para desenvolver as melhores propostas regulatórias”, afirmou Daniel Mangabeira, diretor de relações institucionais da empresa na América Latina.
Julien Dutra, diretor de relações institucionais da 2TM, holding que controla o MB, espera que a nova regulamentação esteja totalmente em vigor até o início do próximo ano, embora a maioria das empresas já cumpra muitas das regras locais.
A Câmara dos Deputados deve pautar a votação do projeto de lei nesta semana, mais curta devido ao feriado Corpus Christi, conforme o Valor.
Denelle Dixon, CEO da Stellar Development Foundation (SDF), disse ao InfoMoney que o plano do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, para o real digital é a melhor solução para preservar o papel dos bancos e garantir a digitalização do dinheiro com a tecnologia blockchain.
O coordenador do setor de repressão à corrupção e crimes financeiros da Polícia Federal, Isalino Antonio Giacomet, afirmou em entrevista ao Estadão que alguns doleiros têm buscado transações em criptoativos. Giacomet destacou o desafio de bloquear esses ativos, citando a velocidade das transações e a dificuldade para identificar os reais donos do dinheiro.
Em Nova York, o prefeito Eric Adams vai pedir à governadora do estado, Kathy Hochul, que vete um projeto de lei aprovado em 3 de junho que impõe uma moratória na mineração de criptomoedas por prova de trabalho por dois anos, segundo informações do Crain’s New York Business.
Metaverso, Games e NFTs
Em nova fase sob o comando do BTG Pactual e com plano de investimentos de R$ 30 bilhões, a V.tal, que nasceu da rede de fibras ópticas da Oi, mira sua expansão com uma rede de mini data centers no Brasil, serviços de 5G, metaverso e internet das coisas, destacou o Valor.
O mercado de tokens não fungíveis na Argentina continua em expansão. A galeria de NFTs Kephi Gallery, fundada há dois anos, nasceu do interesse de quatro amigos em finanças e arte. A grande diferença é o preço das taxas, a partir de US$ 1,50, comparado ao custo de US$ 100 de outras plataformas, de acordo com a Bloomberg Línea. A maioria dos compradores da Kephi são do Sudeste da Ásia e os artistas, da América Latina.
Além de obras de arte, NFTs começam a entrar no mercado de relógios, segundo o New York Times. A relojoeira britânica Backes & Strauss fechou uma parceria com o jogador Dani Alves, do Barcelona, e com a consultoria Metaverse ColossalBit para produzir NFTs relacionados à Coleção Alves Trophy, uma série de 43 relógios físicos celebrando 43 momentos de troféus da carreira de Alves.
João Doria Neto, filho do ex-governador João Doria e conselheiro do Lide, é um entusiasta de NFTs, sendo que sua obra mais importante é um CryptoPunk. “Sempre almejei um. Foi essa coleção que inspirou a revolução tecnológica que vivemos”, contou Neto ao Estadão.