O mercado de criptomoedas se recupera do susto causado pela pressão regulatória nos EUA e opera em forte alta nesta quinta-feira (16), em linha com o bom humor de investidores de ações nas bolsas internacionais, embaladas por resultados corporativos positivos.
O Bitcoin (BTC) é negociado perto do maior nível em seis meses, com alta de 11,2% e cotado a US$ 24.634,74. Em reais, o BTC ganha 10%, negociado a R$ 127.404,76, de acordo com o Índice do Portal do Bitcoin (IPB).
O Ethereum (ETH) avança 8,8%, para US$ 1.668,18, segundo dados do Coingecko.
As principais altcoins acompanham o rali, algumas com alta de dois dígitos, com destaque para BNB (+8%), XRP (+4,6%), Cardano (+5,9%), Dogecoin (+3,3%), Polygon (+11,2%), Solana (+9,5%), Polkadot (+6,6%), Shiba Inu (+6,1%) e Avalanche (+10,3%).
Alta do Bitcoin
Os preços das criptomoedas e de ações de empresas que atuam no setor subiram juntos na quarta-feira (15), mesmo após uma proposta da SEC, a CVM dos EUA, que pode pressionar ainda mais plataformas de ativos digitais como a Coinbase Global, maior exchange americana, segundo o Wall Street Journal.
As ações da Coinbase subiram 17%, enquanto os papéis da MicroStrategy, empresa software comercial que aposta no Bitcoin, deram um salto de 10%. As ações do Silvergate Capital e do Signature Bank, dois bancos no radar de reguladores por vínculos com o grupo FTX, avançaram 29% e 3,6%, respectivamente.
“A longo prazo, qualquer regulamentação é boa para esse setor”, disse Jeff Dorman, diretor de investimentos da gestora de criptoativos Arca, em entrevista ao Wall Street Journal. No curto prazo, Dorman acredita que a maior parte dos investidores já precificou “o pior cenário”, que é justamente o da tentativa de reguladores nos EUA de bloquearem o acesso a ativos digitais.
Aposta de Soros no Bitcoin
A notícia de que grandes investidores apostaram recentemente em companhias da indústria cripto ajudou a animar o mercado.
A Soros Fund Management, gestora do bilionário húngaro-americano George Soros, aumentou seus investimentos e exposição a empresas de criptoativos nos últimos meses, entre elas MicroStrategy e Silvergate.
A BlackRock, maior gestora de ativos do mundo, também elevou sua participação no Silvergate, que subiu de 5,9% para 7,2%, de acordo com um documento de 31 de janeiro enviado à SEC. E o Susquehanna Advisors Group divulgou uma fatia de 7,5% no banco cripto, mostra um documento regulatório.
Outra gigante, a formadora de mercado Citadel Securities, controlada pelo fundo Citadel de Ken Griffin, informou uma participação de 5,5% no Silvergate, avaliada em US$ 25 milhões, de acordo com a Reuters.
Alguns observadores do mercado acreditam que o rali da quarta-feira também foi impulsionado por investidores com posições vendidas e que tiveram que comprar ações para cobrir apostas contra empresas de criptomoedas.
Dados do CoinDesk mostram que as apostas vendidas responderam por 90% dos US$ 200 milhões em perdas para cobrir posições.
Nova regra da SEC
A empolgação do mercado cripto não diminuiu nem com uma proposta da SEC para impedir que consultores de investimento registrados armazenem ativos digitais em empresas do setor, como as exchanges, segundo o CoinDesk.
A proposta, publicada no site da agência reguladora, busca expandir regras existentes segundo as quais um consultor de investimentos precisa manter dinheiro e valores mobiliários dos clientes com um “custodiante qualificado”, ou seja, uma instituição aprovada por reguladores para manter ativos em nome de terceiros, como bancos.
A nova proposta, se aprovada, exigiria essa proteção para quaisquer ativos de clientes, incluindo criptoativos.
Multas contra a Binance nos EUA
Além da Kraken e Paxos, que tiveram alguns produtos banidos nos EUA recentemente, outra empresa no radar de autoridades americanas é a Binance, maior exchange de criptomoedas do mundo.
Em entrevista ao Wall Street Journal, o diretor de estratégia da Binance, Patrick Hillmann, disse que a corretora espera pagar multas para arquivar investigações regulatórias e de cumprimento da lei relativas às operações da empresa.
Segundo Hillmann, a Binance cresceu rapidamente e começou como um negócio conduzido por engenheiros de software não familiarizados com leis e regras escritas para abordar o risco de suborno e corrupção, lavagem de dinheiro e sanções econômicas. O executivo afirmou na entrevista que a exchange tem trabalhado para resolver falhas de conformidade, mas ainda assim espera que os reguladores imponham multas pela conduta da Binance no passado.
As investigações sobre a Binance envolvem tanto a oferta de produtos quanto possíveis violações da lei contra lavagem de dinheiro, segundo reportado anteriormente pela Reuters.
Fiança de US$ 250 milhões
Já não é mais segredo. Dois acadêmicos da Universidade Stanford, onde os pais de Sam Bankman-Fried (SBF) trabalharam, contribuíram, juntos, com US$ 700 mil para ajudar a garantir a fiança do fundador da FTX, de acordo com documentos judiciais divulgados na quarta-feira (15) pelo Financial Times.
Larry Kramer, ex-reitor da Stanford Law School e que agora é presidente da Hewlett Foundation, e Andreas Paepcke, cientista e pesquisador, comprometeram US$ 500 mil e US$ 200 mil de seus ativos, respectivamente, como parte de um acordo que concedeu liberdade condicional e permitiu que SBF fosse morar na casa dos pais na Califórnia, enquanto aguarda julgamento. SBF é acusado de vários crimes, entre eles fraude e uso indevido de recursos de clientes.
A fiança de Bankman-Fried, avaliada em US$ 250 milhões, foi coberta principalmente pela casa dos pais do empresário em Palo Alto, ambos membros do corpo docente da Universidade Stanford. Normalmente, apenas uma pequena porcentagem do valor total da fiança precisa ser garantida contra os ativos existentes.
Os advogados de Bankman-Fried tentaram manter em segredo sobre os nomes dos cosignatários de seu acordo de fiança, mas um juiz ordenou que as identidades fossem divulgadas após a contestação de várias organizações de mídia, incluindo o Financial Times.
Em comunicado, Kramer, que também é membro da Academia Americana de Artes e Ciências, disse que Joe Bankman e Barbara Fried são seus amigos íntimos desde meados da década de 1990 e, por isso, quis retribuir o apoio recebido anteriormente.
“Durante os últimos dois anos, enquanto minha família enfrentava uma batalha angustiante contra o câncer, eles foram os amigos mais verdadeiros – trazendo comida, fornecendo apoio moral e frequentemente intervindo a qualquer momento para ajudar”, disse.
Paepcke não respondeu a um pedido de comentário do FT. Um representante de Bankman-Fried não quis comentar.
Em relação aos termos de sua liberdade condicional, promotores federais também pediram que SBF seja proibido de usar internet e celular, exceto sob condições muito específicas, após descobrirem que ele usou uma rede privada virtual (VPN) pelo menos duas vezes.
Ativos da FTX
Depois da quebra da FTX em novembro passado, advogados, promotores federais e investigadores forenses embarcaram em uma caçada global para recuperar bilhões de dólares em depósitos perdidos e reembolsar clientes da empresa.
Reportagem do jornal New York Times revela que grande parte de dinheiro está parado há meses em uma conta remunerada no JPMorgan Chase, o maior banco do mundo. No JPMorgan, estão depositados os US$ 400 milhões que Bankman-Fried investiu em um hedge fund, o Modulo Capital disseram quatro pessoas com conhecimento do assunto.
Os fundadores do Modulo Capital, que não tem relação com uma gestora de mesmo nome no Brasil, agora negociam a devolução dos fundos com advogados que representam a corretora, conforme o NYT. Não há indicação de que os fundadores do Modulo tenham feito algo errado, mas os executivos buscam se livrar de certas responsabilidades legais em troca da devolução do dinheiro, disse uma das pessoas.
Em tempo: na quarta-feira, o juiz responsável pela recuperação judicial da FTX negou um pedido para uma nova investigação independente sobre o colapso da FTX, dizendo que esse exame paralelo seria redundante diante das investigações já conduzidas pela nova gestão da exchange e agências reguladoras.
Decreto sobre criptoativos no Brasil
O decreto para regulamentar o marco dos criptoativos no mercado brasileiro está sendo elaborado pelas equipes de Gabriel Galípolo, secretário executivo do Ministério da Fazenda, e de Marcos Pinto, secretário de reformas econômicas, segundo o Valor. O Banco Central e a Comissão de Valores Mobiliários (CVM), que estão oferecendo apoio técnico, vão compartilhar a supervisão do setor, dependendo da área de atuação das empresas.
Mas uma fonte disse ao Valor que a CVM não deve regular as chamadas ofertas iniciais de criptomoedas (ICOs, na sigla em inglês) devido ao entendimento de que uma moeda digital, como o Bitcoin, não é considerada valor mobiliário. “Só faria sentido quando essa suposta ‘coin’ for algo além de moeda e tenha características que a tornem um valor mobiliário”, afirmou a pessoa.
Enquanto investidores cripto no mercado brasileiro aguardam a implementação das regras, a BlueBenx admitiu que não tem dinheiro para pagar clientes após o fim do prazo de seis meses estabelecido pela empresa, que agora planeja lançar um produto para ressarcir os afetados.
Outros destaques das criptomoedas
O conglomerado japonês SoftBank vai se tornar validador de rede oficial da blockchain de games Oasys, com foco no desenvolvimento de serviços baseados na tecnologia para a indústria de jogos, de acordo com comunicado enviado ao CoinDesk. O SoftBank disse que os serviços da Oasys atendem usuários e detentores de IP, juntamente com suas capacidades tecnológicas avançadas, o que levou à decisão de participar da blockchain.
A DUX, que se descrevia em 2022 como uma comunidade de blockchain games, quer se tornar uma plataforma de “embarque na web3” tanto para negócios quanto para usuários finais, conforme o Valor. A startup tem feito parcerias no setor e a meta é levar 100 milhões de pessoas para a web3 de maneira direta ou indireta até 2030.
El Salvador planeja abrir uma “embaixada do Bitcoin” no Texas, de acordo com a embaixadora do país nos EUA. Milena Mayorga disse no Twitter que se reuniu com o vice-secretário de Estado do Texas, Joe Esparza, para discutir a ideia.
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