Em um relatório publicado nesta terça-feira (24), o Banco Central Europeu (ou BCE) enfatiza o perigo apresentado pela crescente integração das criptomoedas às finanças tradicionais e às compara às hipotecas subprimes, que causaram uma grande crise financeira global em 2008,
O relatório, intitulado “Decrypting financial stability risks in crypto-asset markets” — ou “Decodificando os riscos à estabilidade financeira nos mercados de criptoativos”, em tradução livre —, faz parte da semestral Revisão de Estabilidade Financeira da reguladora europeia.
“Se a atual trajetória de crescimento no tamanho e na complexidade do ecossistema de criptoativos continuar e se as instituições financeiras se tornarem cada vez mais envolvidas com criptoativos, então estes vão apresentam um risco à estabilidade financeira”, afirma o BCE
Influência no mercado tradicional
Apesar de o relatório chamar a atenção aos atuais riscos apresentados a traders individuais de criptomoedas, está bem mais preocupado com um cenário teórico de desastre em que uma queda do mercado cripto, parecida com a queda recente, resulta em uma queda parecida nos mercados tradicionais.
O relatório afirma que tal acontecimento é possível se nenhuma mudança for feita à forma como criptomoedas são regulamentadas e integradas à ampla economia.
O estudo compara o mercado cripto ao mercado de hipotecas supbrime, responsável por fazer a economia global despencar em 2008.
“Apesar das quedas recentes, elas [criptomoedas] continuam com um tamanho similar, por exemplo, aos mercados de hipotecas subprime securitizadas, que resultaram na crise financeira global entre 2007 e 2008”, afirma o relatório.
A opinião do BCE sobre criptomoedas
Uma das principais formas que criptomoedas poderiam se integrar ainda mais à economia tradicional e aumentar o risco de desastre, segundo o relatório, é por meio da ampla adesão de criptomoedas por instituições financeiras ou como um método aceito de pagamento.
De acordo com o relatório, essas integrações “iriam aumentar o potencial de propagação à ampla economia, principalmente se a alavancagem fosse implementada”.
Se as adesões fossem feitas no mundo inteiro, e não apenas na Europa, poderiam resultar em um derretimento financeiro global. “Já que esse é um mercado global e, por isso, uma questão global, a coordenação global de medidas regulatórias é necessária”, conclui o relatório.
No entanto, tal adesão já está em andamento.
Em abril, Fidelity, a maior fornecedora de planos de aposentadoria dos EUA, anunciou que começaria a permitir que pessoas aloquem até 20% de sua aposentadoria em bitcoin (BTC). Na segunda-feira (23), a Balenciaga se tornou a mais nova grife de luxo a aceitar pagamentos com criptomoedas.
Para mitigar esses acontecimentos, o BCE exigiu que a União Europeia implemente imediatamente sua recém-aprovada legislação de Regulação para Mercados de Criptoativos (ou MiCA), que visa criar uma estrutura regulatória para supervisionar criptomoedas na região.
O relatório alega que tais regulações não podem ser implementadas até 2024, quando o mercado cripto provavelmente estará mais integrado à ampla economia.
Porém, ainda não se sabe como serão essas leis. Outros países, incluindo os Estados Unidos, têm dificuldade em conciliar a necessidade por supervisão com a natureza descentralizada e inerente do mercado cripto.
Para este fim, o BCE não ofereceu soluções legislativas específicas, e sim um alerta: “Os desafios [em relação a cripto] vão persistir enquanto não houver notificações ou requisitos de declaração padronizados”.
*Traduzido por Daniela Pereira do Nascimento com autorização do Decrypt.co.