O interesse por bitcoin na Argentina disparou no início de 2021 junto com o preço da moeda e superou, de acordo com o Google Trends, o número de buscas em duas vezes a procura registrada no bull run de 2017. Exceto pela Venezuela, o fenômeno não se repetiu na maior parte do mundo.
Especialistas consultados pela reportagem doPortal do Bitcoindisseram que a população argentina tem recorrido a formas alternativas de investimentos para proteger seu dinheiro, desvalorizado por causa de decisões governamentais tomadas no meio da pandemia do novo coronavírus.
“O peso vale cada vez menos e por isso há uma busca constante por novas maneiras de poupar, investir e fazer seu dinheiro funcionar, apesar das restrições à compra de dólares, o ativo de poupança mais popular do argentino médio”, disse CEO da exchange Ripio, Sebastian Serrano, ao Portal do Bitcoin.
“A compra de criptomoedas, como o bitcoin, é uma alternativa análoga à compra de dólares como um ativo que também funciona como reserva de valor. E por isso é um hábito fácil de adotar para o poupador argentino”, completou Serrano.
Opinião semelhante tem Christian Aranha, autor do livro “Bitcoin, Blockchain e Muito Dinheiro”. Ele lembra que a Argentina, que já vem com problemas de inflação devido às variações de governo, é muito dependente de dólar, mas tem pouca reserva de moeda local.
“Numa pandemia onde os Estados Unidos não param de imprimir dinheiro, sofrem os países lastreados em dólar. Agora, como eles (argentinos) têm que fugir do dólar, a saída é o bitcoin”.
Dólar e inflação na Argentina
No ano passado, por exemplo, o governo argentino decidiu aumentar a emissão de peso, o que colocou a moeda no topo da lista das mais desvalorizadas do mundo — o posto de liderança depois foi tomado pelo real brasileiro.
Além disso, o país também anunciou medidas para controlar o acesso da população ao dólar, geralmente usado pela classe média argentina como reserva de valor. No final do ano passado, o presidente Alberto Fernández disse que a política foi adotada com intuito de desencorajar a especulação o acúmulo de capital “em um país onde os dólares são necessários para produzir, não para guardar”.
O governo também introduziu um imposto de 30% sobre as compras de moeda estrangeira e, no mês passado, instituiu um imposto adicional de 35% sobre medidas adicionais de controle de capital.
O professor Juan Pablo Martinez, 36 anos, que vive em Córdoba, segunda maior cidade da Argentina. Ele disse à reportagem que começou a investir em bitcoin para não perder dinheiro:
“Temos que proteger nosso poder de compra compra, já que no país há uma alta taxa de inflação e controles cambiais muito rígidos. Precisamos escapar do peso, que se desvaloriza a cada dia”.
Além da crise, Matias Bari, CEO e Cofundador da SatochiTango, disse que em 2020 o bitcoin entrou no radar de investidores da Argentina graças a notícias positivas sobre a criptomoeda e a valorização do BTC no ano passado.
“Toda essa sucessão de sucessos (notícias boas e altas) fizeram com que as pessoas se interessassem pelo bitcoin, bastante influenciados pelo FOMO (Fear Of Missing Out, medo de ficar de fora)”, falou à reportagem.
Martinez disse que há outros investimentos na Argentina, mas a maioria não é capaz de superar a inflação do país, que em 2020 fechou em quase 40%, segundo o Instituto Nacional de Estatística e Censos da Argentina.
“Se formos para o mundo dos investimentos em pesos, é enganoso, e as pessoas tendem a observar a taxa de juros nominal no prazo fixo, e não a taxa real de juros, aí as pessoas acabam perdendo dinheiro. Há outras opções como fundos de investimentos mútuos que geram maior lucratividade, mas nem sempre conseguem vencer a inflação”, disse.