Indústria dos jogos irá adotar NFTs apesar de críticas, afirma cofundador do Sandbox

O cofundador do The Sandbox acredita que 2022 será um ano produtivo para NFTs internos e explica o “risco” da iniciativa de metaverso do Facebook
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The Sandbox (Imagem: divulgação)

Jogos rapidamente se tornaram um setor significativo da crescente indústria de tokens não fungíveis (ou NFTs, na sigla em inglês).

O jogo “play-to-earn” na Ethereum Axie Infinity gerou US$ 3,8 bilhões de volume negociado até hoje enquanto jogos de metaverso, como The Sandbox e Decentraland, se beneficiaram do crescente hype em torno dos terrenos digitais.

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Mas embora jogos NFT nativos a cripto estejam crescendo e tendo sucesso, existe uma enorme resistência de jogadores e fãs da indústria tradicional de videogames.

Ubisoft, a grande publicadora de jogos por trás de Assassin’s Creed e Just Dance, lançou recentemente uma plataforma de NFTs integrados e movida pela Tezos chamada Quartz (e recebeu bastantes críticas nas redes sociais.

O estúdio vai seguir em frente com suas iniciativas, mas o estúdio GSC Game World cancelou planos de acrescentar NFTs a seu futuro jogo S.T.A.L.K.E.R. 2 e o serviço de chat para jogadores Discord (também popular entre organizações autônomas descentralizadas, ou DAOs, e comunidades cripto) pausou planos de integrar carteiras cripto após uma enorme reação de jogadores.

Sebastien Borget, cofundador e diretor operacional do The Sandbox, disse ao Decrypt que o atrito de jogadores será “inevitável” dadas as mudanças significativas que itens NFT pertencentes a usuários e economias tokenizadas de jogos representam.

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Segundo ele, criar jogos em torno de NFTs e tokens cripto pode abalar a experiência da jogabilidade ao fornecer benefícios a jogadores, permitindo que comprem e vendam itens integrados livremente e possivelmente usá-los entre diversos jogos e plataformas on-line.

“Cada estúdio [de jogos] que eu conheço, desde a maior e principal empresa à menor, terá um produto, se não muitos, envolvendo blockchain [em 2022]”, disse. “O que isso irá criar será a transição de modelo de negócio mais rápida e mais adotada que veremos.”

Um NFT atua como um contrato de governança para um item digital, individual e exclusivo. Tais tokens são emitidos no registro imutável de plataformas blockchain como Ethereum e Solana, fornecendo escassez comprovável e a capacidade de comprar, vender e transferir tais ativos.

No caso dos jogos, um NFT pode atuar como um personagem ou avatar único, um design distinto de uma arma, um lote de terra virtual e mais. The Sandbox, um jogo de mundo compartilhado de metaverso, usa NFTs para representar terrenos, avatares e mais.

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Por outro lado, Axie Infinity apresenta seus monstrinhos coloridos como NFTs colecionáveis, junto com terrenos e outros itens.

Tais ativos de NFTs são verdadeiramente pertencentes a jogadores e podem ser vendidos ou negociados e podem acumular valor ao longo do tempo.

É uma grande diferença dos jogos atuais, como Fortnite e Roblox, em que jogadores pagam dinheiro de verdade por moedas virtuais e as trocam por itens digitais (mas esses itens são bloqueados no mundo do jogo e não podem ser revendidos).

Alguns defensores da Web 3 os descrevem como “aluguel” de itens digitais: ainda podem tecnicamente pertencer à publicadora do jogo.

O advento de itens NFT internos a jogos e modelos de tokens “play-to-earn” não é a primeira mudança de negócios na indústria de jogos a sofrer com revoltas: conteúdos que podem ser baixados (DLC) e modelos de jogos “free-to-play” também foram criticados antes de se tornarem padrões da indústria.

Pode demorar um tempo para demonstrarem possíveis benefícios para um público que é apreensivo com mudanças.

“O atrito de jogadores – sim, é esperado. Às vezes, a sociedade não evolui tão rápido quanto modelos e tecnologias evoluem”, disse Borget.

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Ele sugeriu que jogadores não devem temer um novo modelo de governança de itens digitais apenas porque “se acostumaram com o modelo antigo” e já investiram tempo e dinheiro nele.

Borget acredita que jogadores mais jovens, aqueles que cresceram em um mundo já digital e estão acostumados com jogos movidos por conteúdos premium, irão acolher jogos focados em NFT mais rápido.

“Apenas será o padrão que qualquer coisa que possuem virtualmente é valiosa porque a possuem e possam transferi-la onde quiserem”, disse.

Meta vs. o metaverso

A estrela do The Sandbox ascendeu nos últimos meses e, embora isso seja graças às grandes alianças com Snoop Dogg, a franquia “The Walking Dead” e outras marcas e celebridades, outro fator principal é a iniciativa de metaverso do Facebook.

No fim de outubro, o Facebook demonstrou sua visão para o futuro da internet: um metaverso on-line em que usuários jogam, trabalho e socializam em espaços compartilhados em 3D usando avatares.

A empresa mostrou o CEO Mark Zuckerberg como um avatar em desenho e sugeriu uma possível integração e venda com NFTs, além da reformulação do Facebook de sua empresa-mãe para Meta no processo.

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Mas por ser uma gigante empresa centralizada, muitos da comunidade cripto têm receio de que o Facebook irá tentar possuir ou dominar o conceito de metaverso e ainda não se sabe quão aberta e interoperável sua versão será.

Um recente memorando interno vazado sugere que o Facebook está aberto à compatibilidade com blockchain, mas a empresa ainda precisa oficializar essa declaração.

Animoca Brands, empresa-mãe do The Sandbox e grande investidora em startups cripto, é uma das empresas que são contra Meta.

Em outubro, Yat Siu, cofundador e presidente executivo, disse considerar que o Facebook e a empresa chinesa de tecnologia Tencent como “uma ameaça” a um metaverso aberto e que a Animoca está “correndo” para financiar sua visão interoperável.

Em novembro, o cofundador e líder de crescimento do Axie Infinity Jeff Zirlin disse, durante a conferência NFT BZL, que a iniciativa Meta do Facebook é “uma batalha pelo futuro da internet” e que empresas centralizadas querem “comprar a alma da internet”.

Borget disse ao Decrypt que ele concorda “bastante” com os comentários de ambos os colegas.

“Existe um risco de que, se não agirmos e não mostrarmos que existe um caminho adiante em que usuários podem estar no centro da produção de valor – e serem recompensados por seu valor por meio da verdadeira governança e autossoberania”, disse Borget.

“Então, o metaverso só se torna a mesma coisa que a Web 2, onde usuários são monetizados como um produto.”

Tal versão centralizada do metaverso “não seria diferente do que vimos 20 anos atrás com o Second Life”, explicou, referindo-se ao jogo de mundo virtual do Linden Labs de 2003, geralmente considerado como um precursor das iniciativas modernas de metaverso.

Será um “local tedioso sem imaginação”, acrescentou, se o Facebook criar, com sucesso, um metaverso centralizado e intrínseco aos modelos da Web 2 em vez de adotar a tecnologia blockchain e economias pertencentes a usuários.

“O metaverso é um conceito fantástico que pode modelar a tecnologia para sempre – assim como nós, como seres humanos, interagem”, explicou Borget.

“[Quero que beneficie] a todos igualmente e é uma nova chance de melhorar as coisas – não apenas para lucro ou visão a curto prazo, mas mais sobre: Como modelamos o futuro para a próxima geração de usuários?”.

*Traduzido e editado por Daniela Pereira do Nascimento com autorização do Decrypt.co.