O Ministério Público Federal (MPF) anunciou na quarta-feira (16) que autorizou a venda imediata de R$ 150 milhões em bitcoin apreendidos de Glaidson Acácio dos Santos, líder da GAS Consultoria preso na Operação Kryptos deflagrada no final de agosto.
Acusado de enganar milhares de clientes através de uma fraude bilionária envolvendo criptomoedas, Glaidson escondia em sua casa várias malas de dinheiro, carros de luxo, joias, e 591 bitcoins que agora serão convertidos em reais.
Considerado a maior apreensão de criptomoedas já feita pela Polícia Federal, os ativos foram transferido para uma conta aberta pelo MPF numa exchange brasileira cujo nome não foi divulgado.
Durante uma sessão da Câmara Criminal do Ministério Público Federal realizada na segunda (13), o colegiado seguiu o voto do subprocurador-geral da República, Carlos Frederico Santos, e aprovou a proposta apresentada pelo Gaeco/RJ de liquidação imediata das criptomoedas.
A operação deve ser realizada em uma corretora brasileira e sem gerar custos ao Poder Público. O dinheiro obtido com a venda deve ser transferido para uma conta judicial e o seu uso será definido no futuro pela Justiça.
O órgão explicou em nota que os procuradores que acompanham a investigação entenderam que o melhor seria converter o bitcoin em moeda soberana, como forma de garantir a segurança do montante e evitar a volatilidade da moeda.
O MP disse que a medida seguiu um roteiro de boas práticas elaborado pela Estratégia Nacional de Combate à Corrupção e à Lavagem de Dinheiro (Enccla), que alertou que “as criptomoedas, armazenadas em corretoras ou carteiras frias, poderiam ser movimentadas pela organização criminosa, já que as transações são feitas sem intermediários, por meio de chaves privadas que podem ser recuperadas à distância”.
Ao tomar a decisão, o órgão consultou ainda a Câmara de Coordenação e Revisão da área criminal do MPF para ter uma orientação de quais procedimentos práticos deveriam ser adotados. O caso também motivou o MPF a criar um grupo de trabalho para elaborar manuais que orientem os procuradores em outros casos futuros que envolvam criptomoedas.
As criptomoedas da Gas Consultoria
Não está claro se as criptomoedas apreendidas representam a quantia total de bitcoin em posse de Glaidson. O delegado responsável pelo caso, Leonardo Borges, descobriu durante as investigações que o ex-garçom fez um aporte superior a R$ 1,2 bilhão em bitcoin na sua conta pessoal na maior exchange do mundo — uma possível referência a Binance.
Glaidson continua preso após ter sua prisão preventiva decretada no mês passado por suspeita de liderar um esquema de captação de investimentos em criptomoedas em forma de pirâmide financeira. Ele e seus aliados podem responder por crime contra o Sistema Financeiro Nacional, lavagem de capitais e organização criminosa.
No início da semana, o STJ negou um pedido de liberdade apresentado pela defesa de Glaidson. Na sua decisão, o desembargador Jesuíno Rissato citou o potencial risco de fuga e apontou indícios de movimentações financeiras atípicas que chegariam a bilhões de reais, que estariam sendo enviados ao exterior em uma possível ocultação de patrimônio investigado.