Imagem da matéria: Felipe Neto promove a Blaze, cassino online sem controle para menores de idade e que não paga clientes
Felipe Neto tem 44,6 milhões de pessoas inscritas no seu canal (Foto: Reprodução/Instagram)

O maior influencer do Brasil vem promovendo o cassino online Blaze para seus milhões de seguidores. Seja no Twitter, onde tem um perfil mais político, seja no Youtube, onde o foco é o conteúdo para crianças, lá está a indicação para uma empresa obscura que ocupa 12ª posição com mais queixas no ranking do Reclame Aqui

Com grande parte da carreira voltada para o público infantil, Felipe Neto coloca um aviso de “18+” nos vídeos em que faz propaganda do cassino. Contudo, não possui praticamente nenhum controle sobre a idade de quem está jogando na plataforma.

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A reportagem fez um teste de cadastro na Blaze. O cassino pede que a pessoa informe nome, e-mail e idade. O ano mínimo para escolher é 2004 — 18 anos —, mas não há nenhum controle sobre se o usuário está dizendo a verdade como envio de documentos que comprovem a identidade da pessoa. Depois de criada a conta, basta um depósito via PIX para começar a jogar.

Mas se depositar como menor de idade é fácil, para liberar o dinheiro a história é diferente. Uma ex-funcionária do serviço de atendimento ao consumidor da Blaze, que pediu para não ser identificada, disse ao Portal do Bitcoin que o controle só era feito no momento da tentativa de saques:

“Quando um menor entra no chat ou tenta sacar, que é solicitado o documento. Quando ele manda o documento comprovando que é menor, a conta é bloqueada”, disse.

Ela conta também que a demanda era bastante grande e que existe uma hierarquia composta por ‘treinadores’ e ‘atendimento’. “Cada treinador tinha uma equipe, na minha tinha umas 30 pessoas”.

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Mesmo dentro da empresa, porém, a atendente não tinha nenhum tipo de contato com os responsáveis pela empresa. “Eu também não sei quem são os donos. Os atendentes mesmo não tem acesso nem ao nome dessas pessoas. Só tínhamos acesos aos gerentes do atendimento mesmo”.

O que o Felipe Neto diz sobre a Blaze

As propagandas da Blaze apareceram no começo de alguns vídeos de Felipe Neto, que depois seguia com outro tema. Mas sete meses atrás, o influencer fez uma transmissão ao vivo no YouTube no qual passou uma hora e meia jogando e falando sobre a Blaze.

“A Blaze tá querendo ficar com a gente, fazer várias ativações ao longo do ano inteiro. Mas pra isso a gente precisa mostrar o resultado, a força das corujas. Somente com mais de 18 anos”, disse Felipe Neto. “O mercado de apostas a gente tem que fazer com consciência. Toda vez que eu falar de Blaze, mesmo eles sendo patrocinadores, eu nunca vou chegar aqui e falar para vocês saírem gastando dinheiro. E a própria Blaze falou para a gente, não é para incentivar aposta irresponsavelmente”, completou.

Atualmente, Felipe Neto tem 44,6 milhões de pessoas inscritas em seu canal no YouTube.

O Portal do Bitcoin buscou Felipe Neto para um posicionamento por meio de sua assessoria de imprensa e de suas redes sociais, mas não teve retorno até a publicação desta reportagem.

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Febre no Brasil

Uma busca na ferramenta SimilarWeb mostra que 99% dos acessos da Blaze vêm do Brasil. Mas a empresa não tem uma presença oficial aqui, tendo sede em Curaçao e os pagamentos processados por outra companhia no Chipre.

Assim, quando um consumidor é lesado, não há para quem recorrer. Reportagem do Portal do Bitcoin entrevistou alguns clientes que alegam ter seus saldos bloqueados ou zerados de forma arbitrária.

O padrão é parecido: a pessoa faz um depósito e quando vai jogar vê que o dinheiro sumiu; ao entrar em contato com o chat da empresa, é informado que a sua conta fez um jogo e perdeu; a pessoa diz que ninguém mais sabe sua senha e não foi ela que fez a aposta; o cassino diz que é uma falha de segurança pessoal e não pode fazer nada.

Operação no Brasil

A Blaze tem dezenas de pessoas trabalhando em sua operação no Brasil. A ex-funcionária que conversou com o Portal do Bitcoin deu maiores detalhes dos processos do cassino.

Os trabalhadores tem um contrato, que não é CLT, e recebem na grande maioria dos casos por meio de PIX. O regime de trabalho é de 8 horas por dias e as equipes são grandes: um funcionário já experiente na operação treina grupos de 30 pessoas ao mesmo tempo para fazer atendimento ao cliente e outras ações.

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A Blaze fechou um contrato de patrocíno com o Botafogo em julho desse ano. O clube se recusou a dizer quem assinou o contrato do lado do cassino, mas incluiu no comunidado para a imprensa uma declaração do executivo Santiago Alonso.

Essa parece ser a única face frente à empresa. Identificado como vice-presidente de operações da empresa, é aparentemente estrangeiro: seu perfil no LinkedIn informa que estudou em uma universidade do Canadá e teve uma passagem de três anos no escritório da montadora Toyota em Toronto.

A ex-funcionária disse que não conheceu Santiago Alonso e que os gerentes com quem teve contato eram todos brasileiros.

Como processar a Blaze

Os clientes da Blaze que se sentem lesados têm se deparado com um problema ao tentar buscar seus direitos, já que a empresa não tem representação oficial clara no Brasil. Há, porém, pelo menos duas formas de reivindicar reparos financeiros.

Como a empresa tem sede formal em Curaçao, pequeno país do Caribe, uma das saídas é o envio pelo cliente de uma carta rogatória para o sistema de Justiça do país onde a companhia é sediada; a outra, responsabilizar alguma empresa parceira que viabilize a operação da companhia estrangeira dentro do Brasil.

No caso da carta rogatória, o processo é lento, caro e em geral não compensa financeiramente em casos de valores menores. No segundo caso, empresas parceiras podem fazer parte de um processo —  a Blaze permite o uso do sistema Pix como pagamentos, logo, há empresas homologadas pelo Banco Central que facilitam a jogatina.

No entanto, profissionais também se dividem sobre se estas empresas poderiam ou não ser acionadas judicialmente.

Empresa afirma que dados podem ter problemas

Por meio de uma notificação extrajudicial enviada ao Portal do Bitcoin, a Blaze disse que não rouba os saldos de clientes e que as dificuldades de saques muitas vezes ocorrem por incompatibilidade dos dados fornecidos no cadastro com os pedidos no momento da transferência.

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A peça judicial foi produzida por uma empresa chamada Prolific Trade, aparentemente do grupo dono da Blaze.

Além disso, o texto é assinado por alguém chamado C. Drommond. Mas buscas pela internet não permitiram saber se é um advogado, diretor jurídico ou dono da companhia, ou qualquer informação que seja sobre tal pessoa.

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