Foto em preto e branco de Sebastián Serrano, CEO da Ripio
Sebastian Serrano, CEO da Ripio (Foto: Divulgação)

O Brasil se tornou uma peça dentro da disputa pelo mercado latino-americano de criptomoedas. Com investimentos de fundos do Vale do Silício, a argentina Ripio deu o maior passo até agora no mercado brasileiro: comprou a BitcoinTrade, uma das maiores corretoras do Brasil.

Em entrevista exclusiva ao Portal do Bitcoin, Sebastian Serrano, o CEO da Ripio, comentou sobre a aquisição, as dificuldades do setor, a situação na Argentina e os problemas do mercado brasileiro. Leia abaixo a entrevista completa:

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Portal do Bitcoin — Por que comprar uma exchange na Brasil?
Sebastian Serrano — O Brasil é o maior mercado da América Latina, mas o país tem uma coisa bem diferente do mercado argentino. Na Argentina, o produto mais importante são as carteiras, mas no Brasil são as exchanges. O usuário brasileiro é mais investidor/trader e, para termos uma participação no mercado, precisávamos ter uma boa exchange.

E por que a Bitcointrade?
A gente já vinha acompanhando a empresa há um tempo. Eles são muito profissionais e estão entre as melhores operações do Brasil. Encontramos uma boa oportunidade com o Carlos Montenegro, o fundador. Ele estava buscando uma saída que permitisse a ele seguir relacionado com a indústria mas também ter tempo para atender seu family office.

A Ripio conversou com outros players do mercado brasileiro. Por que as outras conversas não foram adiante?
Não posso dar muitos detalhes, por causa dos acordos de NDA. Mas é verdade que conversamos com outras empresas. Em alguns casos, o tempo do mercado não era bom para a operações; em outros tinham operações não tão profissionais. O mercado brasileiro não tem muitas equipes profissionais trabalhando com criptomoedas. É algo que tem na Ripio, em boa medida por ter recebido investimentos até do Vale do Silício, gente muito profissional. Lamentavelmente, no mercado brasileiro não houve muito investimento de venture capital nas exchanges, então são operações talvez menos profissionais e isso dificultou muitas conversas.

E quais o planos para a BitcoinTrade agora? As duas marcas vão seguir existindo?
Pelo menos por agora sim. A BitcoinTrade vai se especializar mais no trading para ser um produto para traders avançados e a carteira da Ripio vai seguir sendo para um usuário mais novo, de ‘buy and hold’. Estamos unificando os sistemas agora para termos um mesmo compliance e permitir que os usuários usem o mesmo login e senha para as duas contas. Agora somamos 1.3 milhão usuários entre as duas empresas, incluindo os argentinos.

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E por quanto a BitcoinTrade foi comprada?
Uma das condições do contrato é não falar dos termos econômicos das operação.

Mas quais os critérios para formular um preço e fazer uma oferta?
O que dá valor a uma empresa de criptomoedas é a quantidade de usuários (cada usuário tem um custo de aquisição), depois tem valor a receita que a empresa gera. E também é importante a participação de mercado e uma posição como marca tem relevância. São muitos os elementos, mas também a reputação da empresa ou se tem muitos problemas no compliance.

Bitso e Ripio estão em disputa pela América Latina. A compra da BitcoinTrade é uma maneira se preparar para competir com a Bitso no Brasil?
Por um lado é verdade, pois são as duas empresas da América Latina que têm investidores de Venture Capital e têm acesso a capital internacional e que estão buscando crescimento no continente. Ambas são muito profissionais e o Brasil é um mercado muito importante. É um mercado em crescimento, com bastante espaço para todos. Estamos trabalhando no Brasil há bastante tempo e acho que a Bitso vai ter um pouco mais de trabalho, porque recém começaram a trabalhar aqui.

Quais os maiores concorrentes no mercado brasileiro?
Hoje claramente o líder é o Mercado Bitcoin. A Binance tem um produto um pouco diferente porque é uma empresa mais global, outro tipo de trading, mas muito usado no Brasil. Mas a Ripio está trabalhando muito para tomar esta posição.

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A relação dos argentinos com o bitcoin é diferente da dos brasileiros?
Os argentinos usam o bitcoin mais como reserva de valor. O brasileiro adquire o bitcoin como uma oportunidade mais ligada a investimento e trading. O argentino não pode comprar mais que US$ 200 por mês, o que faz com que busque mais alternativas. A Argentina tem menor população que o Brasil, mas os argentinos devem ter mais criptomoedas porque a necessidade é muito maior.

O governo argentino não vai tentar regular o setor de criptomoedas?
Não hoje. Tem muito mais regulação por parte do governo para a Receita Federal, controle contra a lavagem de dinheiro etc. O que preocupa o banco central são as reservas de dólares, não as criptomoedas. Os argentinos trocando pesos por criptomoedas não é motivo de preocupação com as reservas do país e não impacta a inflação.

O processo da SEC nos Estados Unidos contra a XRP pode respingar no Ethereum?
A equipe da Ripple é toda dos EUA e a XRP não é um produto descentralizado. Os donos têm 90% dos tokens. Contudo é uma empresa muito grande e tem muito dinheiro para ter as melhores assessorias legais, mas não é o mesmo que o resto das criptomoedas. Não vai haver a mesma situação com o ethereum e muito menos com o bitcoin. A principal diferença é a descentralização.

*Colaborou Wagner Riggs

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