Um dos maiores influenciadores brasileiros do LinkedIn, o economista celebridade Ricardo Amorim palestrou em um evento do Grupo Bitcoin Banco (GBB) semanas antes da empresa dar um calote de mais de R$ 2 bilhões nos clientes.
“Ativos de criptomoedas estão baratíssimos”, disse na época o economista, que também é apresentador do programa Manhattan Connection, da GloboNews, durante palestra em abril passado, no Hotel Unique, em São Paulo.
À época do evento, o GBB ostentava riqueza e sustentava o apelido de “Rei do Bitcoin” atribuído a Claudio Oliveira, dono do grupo. Também dava suporte ao padrão de vida do empresário, que consumia garrafas de água mineral que custam R$ 20 cada.
A fala de Amorim dialogava com a euforia que o GBB sustentava com ações como o evento batizado de Universo Bitcoin. Uma situação que mudou poucos meses depois, culminando em um calote bilionário e em uma recuperação judicial.
Questionado pela reportagem, Amorim afirmou que não sabia de nada que desabonasse a empresa quando aceitou o convite para palestrar. Disse ainda que tomou conhecimento pela imprensa dos problemas com o conglomerado e que nunca a recomendou para investimentos.
“Participei de um evento com dezenas de outros palestrantes muito tempo antes de denúncias virem a público e nunca fiz nenhuma recomendação de investimentos na empresa”, afirmou o economista e apresentador, que tirou fotos inclusive com Oliveira.
Cerca de um mês após a palestra, a empresa parou de pagar os clientes.
Conforme a assessoria de imprensa da empresa, 500 pessoas estavam presentes. Entre elas, celebridades como os apresentadores de TV Ratinho e Amaury Junior e o humorista Marcelo Madureira, ex-Casseta e Planeta.
Entenda o caso Bitcoin Banco
O GBB criou uma espécie de arbitragem infinita, onde os clientes ficavam comprando e vendendo entre suas duas exchanges (de maneira infinita) e gerando altíssimos lucros em um curto período de tempo. Esse sistema não demorou a começar a ruir.
Já em maio de 2019 começaram os primeiros relatos de atrasos nos pagamentos a investidores. Um dos clientes relatou no Portal do Bitcoin ter feito mais de 3.000% em cima do seu investimento, mas que perdeu tudo.
Com a ameaça de investidores diante de seguidas promessas quebradas, em 4 de novembro o conglomerado pediu recuperação judicial — aceita pela Justiça no dia 27 do mesmo mês.
A concessão foi criticada duramente por credores das empresas do grupo de Claudio Oliveira. O processo foi visto como uma forma de anular quaisquer negociações feitas anteriormente e invalidar todos os pedidos de falência do grupo econômico. O conglomerado alegou se tratar de empresas viáveis economicamente.
A empresa declarou uma dívida de mais de R$ 600 milhões a clientes. A administradora da recuperação judicial, no entanto, apurou um valor ainda mais alto, de R$ 2,7 bilhões.
Problemas na recuperação judicial
Em 31 de janeiro, o Tribunal de Justiça do Paraná (TJ-PR), por meio da 18ª Câmara Cível, suspendeu o processo de recuperação judicial do Grupo Bitcoin Banco e de suas empresas.
Na metade de março, contudo, a decisão foi revertida e o processo agora está seguindo o curso normal.
Conforme a assessoria de imprensa da empresa, na segunda-feira (30) ocorrerá o protocolo do Plano de Recuperação Judicial e na sequência será agendada da primeira assembleia de credores