De garçom com pouco dinheiro a chefe de um esquema de pirâmide financeira que gerou milhões de reais em prejuízo a dezenas de investidores. Assim pode ser resumida a trajetória de Ronan Cassiano Silva, dono da Axe Trader, preso pela Polícia Civil em Uberlândia (MG) em operação contra a empresa.
Cassiano dizia ser especialista em mercado financeiro e com base nessa suposta experiência vendia cursos de day trade por meio da empresa, fundada por ele próprio em 2018.
Essa experiência, no entanto, é tão verdadeira quanto os lucros de 30% que Cassiano prometia aos investidores que acreditavam em seus cursos.
“Ele nunca operou nada. Se operou, foi apenas durante três ou quatro meses, lá no início. O restante do tempo ele fez corrente para captar o dinheiro de um e pagar a outro”, disse ao Portal do Bitcoin o delegado Daniel Azevedo, um dos responsáveis pela investigação do caso.
‘Conto do vigário’
Até 2018 Cassiano trabalhava como garçom, um serviço bem distante de qualquer operação do mercado financeiro. Naquele ano, segundo a apuração da polícia, ele se juntou com outro colega e estruturou um curso de day trade mesmo sem ter experiência na área. Daí nasceu o esquema no qual se assentou a Axe Trader.
“Fizeram um ‘conto do vigário’ aqui. O esquema por dentro era tão rudimentar que é difícil acreditar como as pessoas caíam nele”, disse o delegado. No entanto, Cassiano e sua equipe tinham na persuasão o elemento-chave para atrair clientes e seus investimentos.
O ex-garçom contou com a ajuda de captadores com experiência em marketing multinível. Segundo as investigações, esses auxiliares conseguiam obter ganhos na casa dos R$ 60 mil mensais, sustentados pelos pagantes dos cursos que sonhavam com altos lucros prometidos pela Axe Trader.
Entre os investidores enganados pelo esquema da Axe Trader estão inclusive ex-colegas de escola de Cassiano.
Conforme lucravam com os cursos, os captadores investiam em carros importados —prática comum em esquemas financeiros fraudulentos e que visa passar uma imagem de prosperidade.
Alguns desses carros, incluindo um Ford Mustang avaliado em R$ 300 mil, foram apreendidos pela Polícia Civil na última semana.
Da ostentação à derrocada
Os investidores e captadores eram levados por Cassiano para um rancho nos arredores de Uberlândia para reuniões e confraternizações, algo comum em esquemas que se mostram fraudulentos. O aluguel do local saía por volta de R$ 10 mil, o que chegou a despertar a atenção de pessoas próximas a investidores da Axe Trader.
“Há pouco tempo ele mal tinha dinheiro para a merenda”, conta o delegado sobre o dono de uma propriedade que conhecia Cassiano, quando procurado por um cliente da Axe Trader para realização de eventos.
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Além dos carros importados e das reuniões fora da cidade, o dinheiro obtido pela Axe Trader financiou a abertura da sede da empresa, em um grande imóvel na principal avenida de Uberlândia. Esse mesmo local está de portas fechadas desde novembro, com placas de imobiliárias para aluguel.
Assim como outros esquemas que se enquadram como pirâmides financeiras, o modelo da Axe Trader começou a ruir em meados de 2019. É desse período que datam os primeiros atrasos nos pagamentos. Em outubro a empresa de Cassiano sacramentou o calote.
Em dezembro, segundo informações da divisão local do G1, 12 investidores denunciaram a empresa pela falta de pagamentos. À época a Axe Trader dizia estar à disposição da Justiça e que faria os devidos acertos. O atraso era atribuído a supostos bloqueios judiciais que nunca foram comprovados por Cassiano.
O ex-garçom foi detido no último dia 6, em uma chácara nos arredores de Uberlândia. Segundo Azevedo, o local nada tinha a ver com o perfil luxuoso das propriedades procuradas para eventos da Axe Trader.
“Era um ‘buraco. Ele não tinha dinheiro para mais nada'”, afirmou o delegado.
Entenda o caso
Aberta por Cassiano em junho de 2018, a Axe Trader dizia oferecer um curso de day trade, por meio do qual prometia ganhos considerados irreais no mercado financeiro, com juros de até 30%.
A empresa teria movimentado um montante estimado em R$ 27 milhões, segundo as investigações. Os juros e supostos dividendos eram pagos como dinheiro empenhado pelos pagantes mais recentes dos cursos.
A ação da polícia tinha mandados de prisão contra 15 suspeitos de estelionato, lavagem de dinheiro e de crimes contra relação de consumo. Nove pessoas foram detidas, incluindo Cassiano.
A operação foi batizada de Imhotep, uma referência ao homem responsável pela construção de Djoser, a primeira pirâmide do Egito.
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