Os dois principais líderes da MSK Invest adotaram a mesma estratégia de defesa em depoimento à CPI das Pirâmides Financeiras nesta quarta-feira (16): colocar toda a culpa da empresa ter dado um calote de R$ 400 milhões em 3,5 mil pessoas no argumento de que um funcionário supostamente se apropriou de todas as criptomoedas da empresa.
Glaidson Tadeu Rosa, fundador da MSK Invest, afirmou que Saulo Roque, que seria um de seus traders, teria roubado R$ 400 milhões em criptomoedas da companhia. A MSK parou de pagar os clientes no final de 2021, levantando a suspeita entre os investidores de se tratar de uma pirâmide financeira.
A argumentação parece ter surtido efeito: os deputados foram mais brandos com Glaidson do que com seu homônimo, Glaidson Acácio dos Santos, criador da GAS Consultoria, e com Francisley Valdevino, o Sheik das Criptomoedas. Contra estes, as palavras foram duras e as perguntas inquisitivas.
O deputado Caio Vianna (PSD/RJ) disse: “Obrigado por ter vindo aqui pessoalmente”. Já o deputado Julio Lopes (PP/RJ) afirmou: “Queria cumprimentar os senhores por estarem aqui pessoalmente respondendo as perguntas”.
Uma das exceções foi Alfredo Gaspar (UNIÃO/AL), que afirmou não acreditar na boa-fé de Glaidson. Ele disse ainda que, se ele estivesse depondo na condição de testemunha, pediria sua prisão.
Mesmo assim, Glaidson se manteve tranquilo: “Queria agradecer a oportunidade de falar um pouco dos nossos sonhos. Peço a ajuda de vocês e estamos à disposição do que vocês quiserem. O que pudermos ajudar para que outras pessoas não passem por esse desconforto, iremos ajudar”.
No final, o deputado Caio Vianna fez um requerimento para que Saulo Roque vá até à CPI dar sua versão dos ocorridos.
Também depôs Carlos Eduardo de Lucas, o outro fundador da MSK Invest, que repetiu a tese do roubo de todas as criptomoedas.
Polícia Civil de SP aponta versão oposta
A investigação oficial do caso discorda da versão dos investigados. A 2ª Delegacia de Polícia de Investigações Sobre Infrações Contra o Consumidor de São Paulo, órgão da Polícia Civil, indiciou Glaidson, o sócio Carlos Eduardo de Lucas e outras sete pessoas.
A Polícia Civil acusa o grupo de lavagem de dinheiro e de formação de pirâmide financeira. O indiciamento está com o Ministério Público, que pode decidir se oferta denúncia. Uma fonte com acesso ao caso afirma que isso deve ocorrer em breve.
No indiciamento da Polícia Civil, Saulo é citado, mas as autoridades descartam a hipótese de que ele tenha roubado centenas de milhões e ele não está no rol dos indiciados.
“Tentaram envolver um colaborador da empresa como o responsável pelo desvio de carteiras de criptomoedas, o Senhor Saulo Gonçalves, situação esta que restou afastada pelas provas colacionadas aos autos, especialmente o rastreamento das carteiras de criptomoedas e a farta prova testemunhal”, afirma a Polícia Civil.
O advogado Pedro Torres, que defende vítimas da MSK, afirma que se Saulo tivesse desviado R$ 400 milhões, esse seria um fato fácil de demonstrar por documentação, o que nunca ocorreu.
Torres também afirma que o inquérito de apropriação indébita aberto contra Saulo foi incorporado no indiciamento principal do caso e que foi encerrado por falta de indícios.
Veja abaixo a sessão da CPI com os líderes da MSK:
Relembre o caso
A MSK Invest dizia investir em criptomoedas, captava dinheiro prometendo retornos de até 5% e incentivava as pessoas a reinvestirem o dinheiro que achavam estar ganhando. Porém, parou de pagar todos em dezembro de 2021.
A Justiça de São Paulo determinou no dia 20 de dezembro de 2021 o bloqueio de R$ 100 mil da empresa. A decisão foi do juiz Fábio Henrique Falcone Garcia, que apontou indício de má-fé da empresa e de tentativa de não cumprir com os contratos.
No dia 22 de dezembro, o Procon de São Paulo disse que iria acionar a MSK Invest e seus sócios no campo criminal e administrativo. A informação foi divulgada pelo presidente do órgão, Fernando Capez.
“A empresa [MSK] enganou diversos investidores prometendo juros de 2% a 5% em aplicação no Bitcoin. E adivinhe? Não pagou ninguém”, disse o procurador em vídeo.
Acordo não cumprido com Procon
Um dos pontos do caso que chamava atenção era o otimismo do procurador Fernando Capez, presidente do Procon de São Paulo.
O acordo entre Procon e MSK Invest previa que o reembolso seria feito em cinco parcelas com o primeiro pagamento em março. Se a empresa não cumprisse, seria aplicada uma multa de R$ 2 milhões.
Em um vídeo publicado no Instagram, Capez diz: “O acordo é muito bom, foi assinado. Parabéns MSK e consideramos o problema equacionado”.
O acordo, no entanto, nunca foi cumprido. Foi só após todas essas idas e vindas no caso, que surgiu a teoria de que Saulo Roque roubou sozinho R$ 400 milhões da empresa.
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