Imagem da matéria: Como foi o ano de 2019 para o mercado financeiro e de meios de pagamento
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2019 foi tão desafiador quanto repleto de grandes mudanças no mercado financeiro.

Novas regulações, mercado ganhando novos unicórnios, grandes instituições financeiras realizando captação fora do Brasil, a popularização de tecnologias como NFC em pagamentos e QR Codes em diversos segmentos, intermediários de pagamento em guerra por um espaço cada vez menor, grandes conglomerados enxergando oportunidades no segmento financeiro, neobanks ganhando tração, bancos tradicionais na defensiva (ou quase) e tudo o que norteia o dia-a-dia do mercado de tecnologia e meios de pagamento você confere agora.

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O regulador

Em 2019, o Banco Central foi muito contundente do ponto de vista de atuação.

Novas regras, muita inovação, participação ativa do mercado e as iniciativas do regulador fazem de 2019 um período de impactos importantes no mercado financeiro e, por consequência, impactos também na maneira como as pessoas lidam com dinheiro.

O fomento à inovação, buscando a diminuição do custo de produto para instituições financeiras e a diminuição do custo de crédito para o consumidor foram as principais frentes abordadas pelo regulador.

Já nos primeiros dias do ano, a Agenda BC+ mostrou que 2019 seria movimentado com o anúncio dos requisitos fundamentais para o Sistema de Pagamentos Instantâneos, um dos temas centrais deste ano.

Logo após a sanção da lei do Cadastro Positivo em abril, tivemos o lançamento da Agenda BC#, que tem como premissa básica o uso da tecnologia para a democratização do sistema financeiro para incluir novos agentes no mercado, atacando os altos preços praticados pelo mercado, dando transparência para o sistema e provendo educação financeira à população.

Fechando a primeira metade do ano, o Bacen sinalizava sobre a criação de um sandbox regulatório para colocar em prática as inovações que vem trabalhando.

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Crédito com garantia usando os recebíveis, permissão de uso de boletos bancários para aporte em contas e regras para abertura de contas de depósito movimentaram o mercado.

Em dezembro, além do sandbox regulatório, o Bacen lança mão de mais 3 consultas públicas intrinsecamente ligadas à inovação proposta para o mercado financeiro brasileiro: Open Banking, duplicata escritural e a última sobre caixas eletrônicos e serviços de saque e aporte, deixando grandes expectativas para 2020.

O apocalipse da desintermediação

Com tantas mudanças, a convergência entre mercados se tornou inevitável.

Neobanks e Fintechs hoje já ocupam um espaço importante dentro do mercado tradicional de bancos. E os grandes bancos, cada um a seu modo, tiveram de se movimentar em direção à inovação.

A Rede (do Itaú), que dentre outras coisas, também protagonizou a guerra das maquininhas em Abril, quando abriu fogo em direção aos concorrentes, em especial PagSeguro e Stone que em 2019 lançaram suas contas digitais.

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De forma surpreendente, a Rede zerou a taxa de antecipação de recebíveis para clientes Itaú e, após intervenção do Cade, para não clientes.

Em linha com os pagamentos instantâneos, lançou em Julho o iti (pagamentos via QR Code, transferências gratuitas). Não é fintech, mas é o banco em busca de um posicionamento frente ao novo momento do mercado.

Ao longo do ano, o Santander realizou 4 aquisições na tentativa de se tornar o banco, dentre os grandes, mais próximo do mercado de fintechs.

Além do lançamento da Ben (cartões de benefícios), o banco investiu em iniciativas como a PI (plataforma de investimentos), o app Way que veio concorrer com iti, e por último a Ebury, uma facilitadora de trade e comércio exterior para empresas de pequeno e médio porte.

Enquanto isso, a GetNet, credenciadora que pertence ao banco, ‘assistiu’ às investidas da Rede e a desvalorização da Cielo.

No embate causado pela desintermediação de transações, a Cielo protagonizou um tombo histórico em virtude da isenção de taxas propostas pela concorrência.

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A empresa viu suas ações despencarem, ao mesmo tempo que novos players ganharam tração, especialmente no mercado de PME’s, como Stone e PagSeguro que foram rápidos em ofertar contas digitais para seus clientes.

A empresa mudou o foco para o aumento de participação no mercado em detrimento às margens prejudicadas (queda no lucro de 51,7% no Q3), mas o modelo de negócio ainda pode sofrer muito, tendo em vista os pagamentos instantâneos.

Neobanks

Entre os que causam medo nos grandes bancos, estão os bancos digitais. Com alvos mais nichados, eles têm ganhado mercado frente às instituições tradicionais e buscado, de diferentes formas, a ampliação de suas bases.

Com certeza, todas elas passam por uma oferta de conta digital atrelada à outros serviços.

Apesar dos resultados financeiros ainda negativos em suas demonstrações de resultados, o Nubank trouxe novidades como guardar dinheiro, recarga de celular e débito para serviços de entrega e mobilidade. Em 2019 conseguiu ser o app mais baixado no mundo.

Despontando como um dos bancos mais inovadores entre os digitais, o C6 tem a proposta mais agressiva.

Além do “básico” (isenção de tarifa de manutenção, saques na rede 24horas, TED’s ilimitados), oferece serviços ainda não explorados por bancos: C6 Taggy, C6Kick, conta e cartão de débito internacionais e, ao apagar das luzes de 2019, pagamento de tickets de estacionamento.

O PagSeguro viveu um ano de altos e baixos. Muito valorizada durante o primeiro semestre do ano, lançou em maio o PagBank (conta digital com cartão em parceria com a Visa) e viu o preço de suas ações saltar de cerca de US$ 18,84 para o pico de US$ 52,88 em 2019, mesma época em que atingiu a marca de 1,4MI de clientes.

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Após o pico, e mesmo apresentando resultados positivos, as ações tiveram forte desvalorização após a empresa comunicar intenção de venda de papéis, e sinalizar desaceleração no TPV (Total Payments Volume) margens mais tímidas do que o esperado para o período.

As embedded fintechs

O terceiro destaque fica por conta das fintechs pertencentes a grandes grupos. São os players com maior capacidade de absorver uma demanda até então pouco explorada por bancos: os desbancarizados.

Através de suas carteiras digitais e grande rede de lojas, estes players podem vir a se tornar a nova rede de atendimento para cash in/cash out em 2020.

Dos marketplaces, certamente o Mercado Pago é o que mais atuou no sentido de tornar sua carteira digital mais popular.

Pagar via QR Code na região da Av. Paulista já é algo mais comum graças à estratégia de capilarização da solução maquininha + conta digital + cashback que atende a ponta de vendas e do consumidor.

Através de parcerias com Linx, Cielo (a protagonista do tombo do ano), grandes redes varejistas como McDonald’s e até transporte público em SP, busca consolidação e pretende investir ainda mais em 2020.

A Ame, do grupo B2W, deu ênfase a estratégia de cashback para aumentar sua base de clientes, que hoje está em cerca de 38 milhões de clientes ativos.

Assim como o Mercado Pago, a Ame busca capilarizar o uso em ambiente físico através das Lojas Americanas e tem foco na integração entre o marketplace e suas unidades. Também atuou em parcerias, como por exemplo da Mastercard.

Os principais acontecimentos do ano

O IPO da XP

Seguindo as grandes empresas de tecnologia do mundo, a XP Investimentos (agora XP Inc.) realizou em 2019 na bolsa de Nasdaq uma oferta inicial de ações.

Sem contar a representatividade deste momento para empresas tupiniquins, a companhia de Guilherme Benchimol atingiu, com o IPO, o valuation de cerca de R$ 78 bi após o IPO e, com isso, se tornou também a segunda maior oferta de ações de companhia brasileira realizada fora do Brasil.

Mais bancos, menos agências

Enquanto novos bancos e instituições de pagamento vão tomando forma e remodelando o mercado, alguns dos principais bancos, em termos de capilaridade de agências, anunciam o enxugamento de suas redes.

O BB anunciou, em julho, a reestruturação com desligamento consensual, tendo em vista o número de clientes utilizando canais digitais.

O Itaú fez um movimento similar em direção à digitalização, fechando 400 agências e enxugando o quadro em 3,5 funcionários via programa de demissão voluntária.

Outro banco que vai em busca de despesas operacionais mais eficientes é o Bradesco, que até o fim de 2020 pretende fechar 450 agências (destas, cerca de 150 em 2019) e programa de demissão voluntária com mais de 3.000 funcionários aderentes.

O fechamento do Banco Neon

Em virtude de graves violações a normas legais e regulamentares, o Bacen determinou o fechamento do Banco Neon (antigo Banco Pottencial).

No primeiro semestre de 2018, o Bacen já havia suspendido as atividades e decretado a liquidação extrajudicial do banco. A instituição financeira se difere da instituição de pagamento, o que não necessariamente significa que a marca Neon não tenha sofrido danos no mercado

2019 foi o ano do QR Code?

Sem dúvida, o ano de 2019 foi o ano em que o QR Code atraiu mais usuários no Brasil, e a tendência é se tornar cada vez presente no dia a dia das pessoas.

Nos documentos do cidadão, na distribuição de conteúdo de emissoras abertas e em diversas camadas do processo de pagamento, como em totens de balcão de restaurantes, no transporte público (em teste), no processo de cash out (saque) de várias fintechs, no pagamento da compra online e até mesmo em maquininhas cuja alternativa para se manter no mercado acaba sendo firmar parcerias com as empresas que estão ganhando destaque através desta tecnologia.

Em 2020, com a chegada dos pagamentos instantâneos, esta tecnologia tão simples certamente se tornará cada vez mais popular, presente e importante.

Em contrapartida e no segmento de meios de pagamento, o NFC também ganhou espaço no mercado brasileiro, ainda que esta seja uma tecnologia restrita à grandes massas dada a necessidade de um dispositivo com esta feature.

No transporte público especialmente, onde algumas prefeituras apostam nesta tecnologia. Por outro lado, as BigTechs passaram a aceitar cartões de débito em suas carteiras digitais, o que dá fôlego para o pagamento por aproximação.

*O artigo foi primeiramente publicado no Linkedin do autor.

Sobre o autor

Bruno Xavier Barbosa é pós graduado em Inteligência de Mercado. Já atuou nos segmentos de varejo, seguros, bancos e em projetos de consultoria. Atualmente acompanha a transformação digital do segmento financeiro através de fintechs, regtechs e Banco Central. O

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