Bandeira da Argentina com moeda de Bitoin do lado
Foto: Shutterstock

A Argentina tem sido um dos locais de maior efervescência para o universo das criptomoedas, com um uso rotineiro como meio de pagamento pela população em níveis maiores do que em outros países, onde os ativos ainda são vistos como reserva de valor ou investimento.

O governo local entendeu o fenômeno e começou a se movimentar antes que seja tarde demais. Quando o maior banco privado da Argentina anunciou que passou a oferecer compra e venda de cripto, o Banco Central logo interviu e proibiu.

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Pouco tempo depois, o Senado da Argentina aprovou um Projeto de Lei que vai permitir ao governo a cobrança de impostos sobre criptomoedas mantidas pelos cidadãos argentinos no exterior e que não tenham sido informadas à Receita do país (AFIP). Os valores dos impostos servirão para a criação de um fundo nacional, cujo objetivo é quitar dívidas do Estado com o FMI, o Fundo Monetário Internacional.

No final das contas, a história das últimas duas décadas da Argentina pode ser pontuada pela política monetária alucinante. A população já vem há tempos tentando se dolarizar e deixar o Peso de lado, como apontou o consultor fiscal e especialista em criptoartivos Marcos Zocaro em entrevista ao Portal do Bitcoin.

“Na Argentina existem muitas restrições para negociação de câmbio, então as pessoas não conseguem fazer as compras de moedas que querem para conseguir poupar em dólar. Isso também deu um impulso para a compra de criptomoedas como uma alternativa para se resguardarem da perda de poder de compra do Peso”, diz Zocaro, que é membro do conselho de diretores da ONG Bitcoin Argentina.

Zocaro explica que o uso das criptomoedas como meio de pagamento na Argentina teve dois impulsos principais: um é a já citada dificuldade em comprar dólar e o outro a inflação alta e persistente no país.

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Segundo reportagem da revista Exame, a média da inflação anual chegou em 55,1% em medição feita em março. Foi um salto que não se via desde 2002, quando o país deu um famoso calote no FMI.

Mas há um fator específico do cenário cripto local.

“Muitas empresas criaram cartões pré pagos que são aceitos até em lojas pequenas e pelos quais as pessoas gastam em pesos e recebem um pequeno cach back em cripto”, explica.

Estado tenta manter controle

Sobre a decisão do Banco Central de reagir tão rápido e proibir os bancos de oferecem trade de criptomoedas, Zocaro afirma de forma direta que se trata de um receio macroeconômico.

“A principal autoridade monetária está preocupada com a rápida adoção de criptmoedas na Argentina porque teme que essas compras gerem um fluxo de saída de moedas estrangeiras tçao grande que coloque ainda mais pressão na desvalorização do peso argentino. Eles também temem que quanto maior o uso de cripto, menos controle o Banco Central terá sobre as transações da população”.

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Um dos grandes nomes do unvierso cripto na Argentina é a empresa Ripio. A companhia, que se define como uma wallet e não uma corretora, foi criada em 2013, possui centenas de funcionários e expandiu sua atuação para outros países da América Latina – em especial o Brasil.

Henrique Teixeira, head global de desenvolvimento de negócios, fez uma análise do momento de impasse entre o governo e o ecossistema cripto para o Portal do Bitcoin.

O executivo lembra que as compras de dólares foram muito dificultadas pelos governo Cristina Kirchner entre 2011 e 2015 com o chamado “cepo”, como ficaram conhecidas as restrições. Depois de um período de abertura no governo Maurício Macri, as restrições voltaram com o governo Alberto Fernández em 2019 e o limite de dólares por cidadão foi despencando até chegar atualmente a US$ 200 por mês.

“Com essas restrições as stablecoins ganharam muita força. Tether, DAI e USDC são as mais usadas”, explica Teixeira.

Para o empresário, as economias mais desenvolvidas são o oposto da argentina, tendo livre intercâmbio de moedas. Em sua visão, o Estado tenta manter na força um controle, mas o resultado disso não favorece a sociedade.

“O governo argentino está tentando segurar algum valor da moeda [peso] com essas restrições. Mas eu acredito que criando essas dificuldades não resolve o problema. Só agrava. Porque os argentinos não vão deixar de comprar cripto. Eles vão encontrar alguma forma de comprar e não continuar a ter o patrimônio deteriorado”, afirma.

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Mineração de Bitcoin na Argentina

Outro aspecto específico é que a Argentina tem um setor relevante de mineração de Bitcoin. As operações são montadas no Sul do país, onde o clima é frio e propício para o funcionamentos das máquinas.

Em maio deste ano, a empresa britânica FMI Minecraft Mining LTD — que tem como CEO o brasileiro John Blount — anunciou a instalação de uma operação na Patagônia, sendo um investimento de US$ 45 milhões, conforme mostra reportagem da TV Globo.

Mas em janeiro deste ano o governo impôs um aumento em 170% na conta de eletricidade de uma região que abriga uma grande mineradora, a BitPatagonia.

E assim as empresas de mineração de criptomoedas que operam na Argentina já sentem na pele um aumento de eletricidade na casa de três dígitos.

De acordo com o portal Coindesk, a empresa, que está alocada em Tierra del Fuego, província no extremo sul da Argentina, viu em uma de suas últimas contas de energia um aumento de cerca de 400%. A região, onde o clima é frio, é sede de 22 empresas de mineração de criptomoedas.

Perguntado de acha que a Argentina pode desempenhar um papel relevante na mineração, Zocaro diz que o país já ocupa um posto de destaque nesse ramo.

“A Argentina já ocupa um lugar de destaque em termos de mineração. Existe muita atividade”, afirma. Ele tambpém lembra que existem regiões do país onde a atividade conta com isenções tributárias, o que tem dado impulso às rigs.

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Bitcoin Argentina

A Bitcoin Argentina é uma organização sem fins lucrativos que atua desde 2013 promovendo e disseminando tecnologias do mundo cripto. A entidade realiza palestras, conferências, cursos e dão consultoria legal e tributária para o setor.

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