Imagem da matéria: BlueBenx: clientes receiam ter caído em golpe de empresa brasileira que travou saques e demitiu funcionários
Foto: Shutterstock

Os clientes da BlueBenx foram surpreendidos na quinta-feira (11) ao descobrirem que não poderiam mais tirar o dinheiro depositado na plataforma que prometia entregar altos rendimentos investindo em criptomoedas.

A empresa brasileira bloqueou os saques alegando ter sido vítima de um ataque hacker “extremamente agressivo”, mas não deu qualquer detalhe sobre como o hack teria acontecido. O advogado da companhia, Assuramaya Kuthumi, afirma estimar que a empresa perdeu R$ 160 milhões no suposto ataque.

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No entanto, clientes que conversaram com a reportagem do Portal do Bitcoin veem com ceticismo o suposto incidente narrado pela empresa e revelam o receio de ter caído em um golpe. “Eu acho que existe uma grande probabilidade de ser um golpe porque toda essa história de ataque hacker parece muito papo furado, algo que eles inventaram”, afirma um deles, que pediu para não ter o seu nome revelado.

O receio aumenta porque está se tornando comum no mercado de criptomoedas algumas empresas – principalmente as que prometem pagar rendimentos elevados aos investidores – dizerem ter sofrido ataques de hackers como justificativa para bloquear os saques dos clientes. Essa é a mesma alegação dada pela Trust Investing para não pagar seus clientes há nove meses — fato que levanta a suspeita de formação de pirâmide financeira.

BluBanx é investigada pela CVM 

A BlueBenx se define no seu site como uma plataforma cripto de “alta performance” que  oferece pagamentos regulares de rendimentos aos clientes. Na página, a empresa afirma ser capaz de entregar retorno de +1800% sobre o dinheiro investido até 2025.

Foram promessas deste estilo que levaram a CVM a investigar a empresa pela oferta irregular de investimentos em bitcoin.

A empresa oferecia rendimentos aos usuários através dos produtos Spread e, mais recentemente, BlueBenx Finance. Neste último, a empresa prometia pagar um rendimento de até 66,2% ao ano em um produto chamado “DeFi 360”, no qual o cliente deveria manter seus fundos travados por 12 meses.

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produtos bluebenx
Print tirado nesta quinta-feira (12) dos investimentos oferecidos pela BlueBenx

O cliente da BlueBenx afirma que está com cerca de R$ 4 milhões presos na plataforma. Esse dinheiro estava depositado no produto Spread da BlueBenx, que oferecia rendimentos semanais aos clientes.

Ele disse que a empresa não conta em quais criptomoedas investe para sempre ser capaz de dar retornos positivos aos clientes, até mesmo em períodos em que todo o mercado cripto está em baixa.  

Mesmo assim, ele confiava na BlueBenx pela legitimidade que ela parecia ter. “É uma empresa que há alguns dias atrás apareceu na Forbes como exemplo de fintech”, disse o cliente em referência a matéria “A revolução do mercado financeiro” publicada no portal da revista Forbes no dia 2 de agosto e onde Roberto Cardassi, CEO da BlueBenx, fala sobre o seu negócio.

Também aparece no artigo William Batista, vice-presidente da BlueBenx, que diz: “Muitas vezes, o cliente quer entrar nesse mundo, mas não quer colocar em risco seu patrimônio. Então criamos uma forma de entregar performance por meio de tecnologia e ciência de dados”.

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Uma semana depois, a promessa acima parece ter caído por terra. Na noite de quinta-feira (12), a BlueBenx enviou um e-mail para toda sua base de clientes, confirmando os bloqueios.

“Na última semana sofremos um hack extremamente agressivo em nossos pools de liquidez na rede de criptomoedas, após tentativas incessantes de resolução, hoje iniciamos nosso protocolo de segurança com a suspensão imediata das operações  dos produtos do BlueBenx Finance, incluindo saques, resgates, depósitos e transferências”, diz o e-mail.

nota hack bluebenx
Trecho do e-mail enviado pela BlueBenx aos clientes

Bloqueio de contas e demissão em massa  

Christiane – uma outra cliente que não quis revelar seu sobrenome – também usava o produto Spread e contou que teme não conseguir recuperar os R$ 23 mil que investiu ao longo de dois anos na empresa.

Segundo ela, a confusão começou na quinta-feira, quando começou a circular entre os clientes da BlueBenx a informação de que a empresa tinha demitido todos seus funcionários.

“Na manhã de ontem vazou que eles tinham demitido todo mundo, e aí um cliente avisou o outro. Nós começamos a ligar mas ninguém atendia, nem o escritório nem os sócios. Foi um pânico geral porque descobrimos que essas demissões não aconteceram da noite para o dia, já estavam planejadA”, conta.

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O Portal do Bitcoin conversou com um ex-funcionário PJ da BlueBenx que foi demitido na quinta-feira. Ele conta que logo de manhã, quando foi iniciar o trabalho, já não tinha acesso aos sistemas da empresa e e-mail. 

“Quinta-feira cedo, próximo das 10hs da manhã, advogados da empresa nos informaram sobre o ataque e depois iniciaram as demissões um a um”, diz o ex-funcionário que atuava na área de Novos Negócios.

Ele estima que assim como ele, outros 30 funcionários também foram demitidos, mas não soube precisar o número, uma vez que a maioria trabalha home office.

Sobre o suposto ataque hacker, ele afirma que a empresa não informou nenhum detalhe a mais para os funcionários além do que foi dito na nota enviada aos clientes por e-mail, de tal forma que não sabe responder se ele foi verdadeiro ou não.

“Fiquei mais de 4 anos e nunca houve nada errado, até mesmo quando a CVM notificou, tiveram saídas de clientes em massa, mas todos receberam. Eles emitiam notas fiscais de prestação de serviços financeiros, tinha uma instituição de pagamento autorizada”, conta o ex-funcionário.

Mesmo assim, ele se diz abalado pela demissão repentina: “Nunca imaginei que isso aconteceria na minha vida, estou em choque e sem palavras. Não consegui mais contato com ninguém [da empresa]”.

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Clientes vão bater na porta da empresa

O silêncio da equipe que restou da BlueBenx, incluindo seu CEO, Roberto de Jesus Cardassi, preocupa os investidores que também estranham o fato de o Instagram e o Facebook da empresa terem sido excluídos após os bloqueios de saque.

Já o paradeiro dos executivos segue desconhecido, segundo os investidores que tentaram contato.

Enquanto isso, um advogado chamado Assuramaya Kuthumi, do escritório Nicolia Dos Anjos Sociedade de Advocacia, ficou a cargo de representar a empresa e cuidar da sua reestruturação. 

O advogado foi procurado presencialmente na tarde passada por dois investidores. A dupla contou à reportagem que o encontro foi na sede da BlueBenx em São Paulo e que no escritório já não estava mais ninguém da empresa, apenas a equipe de advocacia de Kuthumi.

 “A gente largou tudo que estava fazendo, parou de trabalhar, e fomos falar direto com esse advogado porque a gente não caiu a ficha”, disse um dos clientes cujo montante preso na plataforma é suficiente para comprar um apartamento.

“Ele [advogado] foi bem ‘sabonetão’, disse que não sabia de muita coisa e que ainda estava tentando entender o que aconteceu também. Mas disse que os sócios querem arcar com o pagamento de todos”.

Na conversa, a dupla questionou quanto foi perdido no suposto ataque, e o advogado estimou ter sido em torno de R$ 160 milhões — investimentos estes de cerca de 2,5 mil clientes afetados.

No encontro, os investidores questionam porque o CEO da BlueBenx não estava na sede da empresa, e perguntaram de seu paradeiro para o advogado. Ele disse que não ia falar para protegê-lo, mas que era o único a saber onde ele estava. 

Outra liderança da BlueBenx que atuava com head de produtos da empresa até junho, Tabata Moreira Rodrigues, se mudou para a Suíça há dois meses.

BlueBenx se diz vítima de golpe em B.O

O Portal do Bitcoin teve acesso a um boletim de ocorrência feito pelo advogado Assuramaya Kuthumi em nome da BlueBenx, no qual a empresa diz ter sido vítima de um golpe ao tentar listar sua criptomoeda BlueBenx (BENX) na corretora Bitrue.

“Fomos contatados por Sr. Liu Kwai Wah, que se identificou responsável pela exchange Bitrue. Depois de alguns dias de conversa e formalizado o contrato, pagamos 200.000 USDT (moeda digital equivalente a dólar americano) e 25 milhões de un. de BENX (token da empresa) que seriam negociados na Exchange Bitrue. Após pagamento verificamos que os valores e os Benx não estavam disponíveis, se tratando de uma fraude. Notificamos a empresa e essa informou que o Sr. Liu não é representante da empresa”, diz trecho.

O B.O foi feito no dia 31 de julho, mas os fatos narrados ocorreram no dia 22 daquele mês. A reportagem entrou em contato com o advogado Kuthumi, que confirmou que o incidente do B.O está relacionado ao suposto ataque hacker, mas sem ser capaz de explicar de que forma. Também não informou a suposta listagem se relaciona a uma invasão.

“Ainda estamos levantando as informações corretas, mas trata-se do mesmo evento. O BO foi feito eletronicamente e as pressas e estamos agora levando todas as informações a delegacia. Para confirmações das veracidades e informações”, respondeu.

O advogado optou por não responder os demais questionamentos da reportagem, explicando que as informações ainda estão sendo apuradas e que, na próxima segunda-feira, passará a atender os clientes lesados.

A equipe de comunicação da BlueBenx também foi procurada, mas disse que se pronunciará apenas na semana que vem.

*Atualização

Após a publicação desta reportagem, Tabata Moreira Rodrigues enviou o seguinte posicionamento para explicar seu desligamento da BlueBenx:

“Minha saída da BlueBenx estava programada desde meados de 2021 quando eu e meu esposo iniciamos o processo de cidadania. Tenho família morando na Suíça há aproximadamente 15 anos e minha saída e rescisão de contrato foi justamente motivada pelo desejo de estar mais próxima da minha mãe. Essa rescisão de contrato aconteceu em junho. Até o momento da saída não tinha conhecimento de qualquer problema financeiro da empresa.”

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