Bitcoiner cria campanha contra criptomoeda que diz ter potencial para colapsar como a LUNA

Para cada bitcoin retirado da Celsius, Cory Klippsten promete um ano de assinatura grátis dos serviços de sua companhia
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Foto: Shutterstock

As suspeitas do mercado em torno das operações da Celsius e sua criptmoeda CEL seguem crescendo, desde que o colapso do token LUNA ligou o sinal de alerta para a forma como a empresa de empréstimos cripto usa o dinheiro dos clientes para financiar suas operações de risco. Nesta quinta-feira (26), o ativo recua 11,8%, segundo o CoinMarketCap.

Um investidor de bitcoin, em particular, tomou para si a missão de cobrar explicações da Celsius e se tornou o inimigo número um de Alex Mashinsky, o polêmico fundador da empresa.

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Trata-se de Cory Klippsten, CEO da Swan Bitcoin e conselheiro da Riot Blockchain. No Twitter, onde acumula mais de 134 mil seguidores, ele não deixa passar em branco posicionamentos de Mashinsky e trava brigas quase diárias com o empresário.

Clima tenso

O clima entre os dois esquentou para valer quando o ecossistema da Terra entrou em um espiral da morte que levou a zero seu token nativo LUNA e a stablecoin UST.

Na ocasião, a Celsius precisou correr contra o tempo para tirar R$ 2,7 bilhões em criptomoedas que mantinha no Anchor Protocol, o principal projeto DeFi da Terra, que oferecia rendimentos de 19,5% sobre os depósitos de UST. Esse dinheiro provavelmente pertencia aos clientes da empresa, uma vez que a Celsius oferece rendimentos de 7% a 15,8% pelas criptomoedas depositadas na plataforma para serem emprestadas para outros investidores e instituições.

Com o derretimento do UST, o Anchor Protocol cortou as recompensas e a Celsius correu para tirar os fundos do projeto e transferi-los para o Aave v2, outro protocolo DeFi de empréstimo.

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Na visão de críticos como Klippsten, a operação exemplifica o risco ao qual a empresa submete o dinheiro dos investidores. Segundo ele, a Celsius só não repetiu o fracasso de LUNA e levou o preço do seu token a zero porque conseguiu se safar a tempo.

“Não houve um bank run na Celsius Network desta vez porque sua equipe conseguiu tirar US$ 500 milhões do Ponzi Luna no último segundo. Celsianos, vocês estão contando com sorte e gerenciamento ativo para manter em segurança suas moedas emprestadas”, tuitou Klippsten no dia 15 de maio.  

Ele foi respondido por Mashinsky que, ao invés de esclarecer os negócios que sua empresa fazia no Anchor Protocol, preferiu atacar os maximalistas do bitcoin — grupo ao qual atribui a culpa por todo bitcoin perdido no mundo.

“30% de todo bitcoin está perdido porque as pessoas ouviram você e os maximalistas e mantiveram suas próprias chaves”, rebateu Mashinsky, afirmando que a Celsius nunca perdeu um dos mais de 150 mil BTC que faz a custódia.

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Guerra declarada

A resposta do empresário fez com que Klippsten iniciasse uma campanha contra a Celsius: a cada usuário que tirasse 1 BTC ou mais da plataforma para fazer autocustódia ganharia um ano de graça de assinatura nos serviços privados da Swan Bitcoin.

Na terça (24), ele compartilhou no Twitter diversas imagens de investidores que seguiram seu conselho e tiraram bitcoin da Celsius. “Eu poderia continuar e continuar, isso nem é tudo da primeira página. Nunca na minha vida vi clientes tão ansiosos para sair de uma empresa”, alfinetou.

O investidor Fernando Reis está entre os que abandonaram a Celsius ao tirar pouco mais de 1 BTC que mantinha na plataforma, conforme relatou nesta quinta (26) no Twitter.

“Eu e minha esposa estamos fora de Celsius. O preço não para de cair e acabamos induzidos pelo app que seria melhor ter juros em CEL do que em outras moedas por causa dos descontos melhores. […] O swap também nunca ficou disponível para usuários de Portugal ou Brasil”, criticou.

Ao Portal do Bitcoin, Reis explicou que resolveu tirar o dinheiro da plataforma pelo descontentamento com o serviço e o “feeling” de que as operações não estavam indo bem, refletindo na queda da criptomoeda nativa Celsius (CEL).

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As desconfianças com o negócio que ganha o mercado fez a CEL desvalorizar 48% no mês. Nesta quinta-feira, a moeda é negociada por US$ 1,53, segundo o CoinCecko. O preço atual também é 84% inferior à máxima histórica de US$ 9,82 que CEL atingiu em agosto do ano passado.

“A CEL sofreu uma queda imensa quando os nossos juros estavam nessa moeda. Também é difícil negociá-la pois ela não está presente nas principais exchanges”, disse o Reis ao explicar que era incentivado a segurar CEL já que além do rendimento comum, a empresa possui um programa de fidelidade para detentores do ativo.

“Senti que era o momento de sair pois perdi a confiança neles e, como não existe nenhuma garantia de nada ao colocar o dinheiro lá, achei melhor retornar tudo para uma exchange ou cold storage”, concluiu.

Dados escondidos

Enquanto relatos como o do investidor acima aumentam nas redes sociais, um comportamento da Celsius chamou atenção dos críticos: a empresa parou de compartilhar dados sobre as entradas e saídas de fundos da sua plataforma como costumava fazer toda semana. 

O último anúncio trouxe dados dos dias 6 a 12 de maio — antes da campanha de Klippsten contra a empresa — e os números já eram alarmantes. Naquela semana, US$ 1,15 bilhão em criptomoedas deixaram a Celsius, enquanto a entrada de fundos não passou de US$ 396 milhões.

https://twitter.com/CelsiansNetwork/status/1525499071078744064

Os dados mais recentes da empresa, divulgados em seu site oficial, indicam que a Celsius administrava mais de US$ 11,8 bilhões até o dia 17 de maio. Esse número representa um declínio de 50,8% dos US$ 24 bilhões que a empresa tinha em caixa em dezembro de 2021, segundo o Financial Times.

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Loop de empréstimos

Além do bitcoiner Cory Klippsten, o  autor da newsletter Dirty Bubble Media, conhecido pelo pseudônimo Mike Burgersburg, também se destaca no círculo de críticos do projeto. 

Desde janeiro deste ano, ele publica análises sobre as operações da Celsius. Ele acusa a empresa de estar no centro de um complexo loop de empréstimos, no qual o projeto toma posse das criptomoedas usadas como garantia pelos clientes para suas próprias operações de risco.

No atual modelo da Celsius, por exemplo, um usuário que toma emprestado US$ 1 mil em USDC, deve dar de garantia US$ 4 mil em bitcoin para obter uma taxa (APR) de 1% sobre o empréstimo.

A Celsius, em seguida, assume a posse total da garantia. “Em outras palavras, quando você ‘pega emprestado’ da Celsius, você está realmente emprestando dinheiro a eles”, escreveu Burgersburg. 

Esse dinheiro do cliente então é usado para a Celsius usar como garantia para tomar empréstimos em outros lugares. Com o novo montante emprestado graças aos fundos dos clientes, a empresa mais uma vez pula para o outro lado do balcão e volta a emprestar esse dinheiro recém-obtido, agora para seus parceiros institucionais, como a Tether, FTX e Binance.

Ao Financial Times, Alex Mashinsky chegou a confirmou que eles “colateralizam em excesso” para pagar os rendimentos prometidos aos clientes. Nesse modelo de negócios, a Celsius se torna uma máquina de dívida altamente alavancada.

“Os titulares de contas individuais nessa situação — depositantes e mutuários — são credores sem garantia da Celsius Network. Isso significa que eles ocupam uma posição nada invejável de serem os últimos da fila para recuperar as perdas no caso de mau funcionamento da máquina de dívida”, concluiu o analista.